Mas antes de sustentar porque é que concordo com Macamo, nesta sua conclusão plasmada num artigo publicado na edição de quarta-feira do jornal “Notícias”, faço questão de recorrer ao Dicionário Verbo, para explicar o que é DEMAGOGIA àqueles que ainda não sabem o significado exacto desta palavra.
O verbo define Demagogia como sendo um “Exercício de retórica fácil, com vista à obtenção ou tentativa de obter o poder político, que faz apelo às emoções da população, em detrimento do uso da lógica e da racionalidade...a demagogia é uma prática que acaba por se virar contra o povo”.
A excepção dos indivíduos que possam estar a criticar aquela festa porque estão mal informados, também acredito que há efectivamente os que fazem essas críticas por mera e deliberada demagogia, convencidos que, com isso, irão ganhar o poder político, ou então ajudar os partidos que defendem a conquistar o poder que há 38 anos está nas mãos da Frelimo de Guebuza.
É de facto demagogia quando alguns jornais chegam ao cúmulo de escrever artigos do tipo “O Banquete dos Insensíveis!!!, para tentar levar as pessoas a acreditarem que Guebuza esbanjou fundos públicos para a aquisição de comida e bebidas, numa altura em que milhares de pessoas passam fome vítimas das cheias que nos últimos dias assolam o nosso país.
Na verdade, muito do que se diz sobre a faustosidade daquela festa não passa de um exagero, porque não foi faustosa e muito menos esbanjadora. A mesma decorreu numa tenda tão comum como as que se podem encontrar em muitas explanadas que há por aí, e em que se fazem festas de muitos de nós.
Eu por acaso fui uma das pessoas que, juntamente com alguns colegas jornalistas participamos no evento, e não me pareceu uma festa cara quando comparada com aquilo que o aniversariante fez para nós seus compatriotas.
Guebuza foi um dos moçambicanos que durante 10 anos lutou pela independência do nosso país, bem como aceitou deixar tudo, incluindo a sua família, para se fixar em Roma e negociar durante mais de dois longos anos a paz que hoje desfrutamos há 20 anos.
A festa do aniversário de Guebuza foi na essência um simples almoço. Os pratos consistiam na sua maioria de arroz, feijoada, matapa, cacana, chiguinha, mukapata, nhangana, carril de amendoim, algum camarão, carne de vaca, de porco e de galinha e algumas saladas e frutas da terra, ou seja aquilo que nos como cidadãos comuns comemos todos os dias.
Por aquilo que tive a oportunidade de apurar, parte considerável dos produtos com que se confeccionaram os pratos foram doados. Nos casos em que foi necessário adquirir no mercado, o seu custo naturalmente não foi além do normal para a dimensão do aniversariante, cuja trajectória política e humana mostram que ele fez muito pelo nosso país.
O evento foi apenas uma ocasião para Guebuza celebrar os seus 70 anos de vida com aquelas pessoas que ele considera como sendo o sinónimo da sua própria vida, ou indivíduos que ele acredita serem representantes de outros moçambicanos de que ele também é seu Presidente.
Até os músicos que emprestaram um ambiente festivo ao aniversário eram quase todos da geração do próprio Guebuza, nomeadamente Gabriel Chihau, Xidiminguane e Dilon Djindji.
A sua brilhante actuação acabou reactivando as energias adormecidas pela idade de outros “velhotes” da geração de Guebuza, inspirando alguns a saltar das suas cadeiras e improvisar alguns passos, num palco também improvisado.
Foi bonito ver o antigo Primeiro-Ministro, Pascoal Mocumbi, que foi quem tomou a iniciativa de “abrir a sala”, não obstante a sua idade e que acabou por contagiar o antigo presidente Joaquim Chissano.
Ambos acabaram contagiando outros convidados, algo que acabou fazendo daquele almoço ser uma verdadeira festa que agora é demagogicamente rotulado de faustoso.
Curiosamente, Guebuza resistiu ao contágio e não dançou, uma decisão acertada, porque os seus detractores poderiam pegar isso e catalisar e acusá-lo de insensível, embora passe parte considerável do seu tempo nas zonas rurais a tentar ajudar os camponeses, que constituem a maioria da população moçambicana, a saírem da pobreza.
É curioso ainda que os seus detractores o acusam mesmo assim de estar a esbanjar o erário público com as suas presidências abertas. Mas se o Presidente ficasse confinado no seu Palácio, certamente que também haveriam de acusá-lo de insensibilidade aos gravíssimos problemas que ainda afectam a maioria dos moçambicanos que vivem nessas zonas rurais.
Quer dizer, ele é morto por ter e por não ter cão.
Ainda na semana passada, li o artigo de um dos colunistas que é um verdadeiro arauto de todos os que são contra Guebuza e a Frelimo, que com as cheias, iriamos assistir a um verdadeiro turismo dos
frelimistas que se vão deslocar às zonas alagadas, alegando que querem se inteirar das destruições causadas pelas cheias.
Mas se cancelarem as visitas também serão acusados de insensíveis.
Isto prova que quando determinadas pessoas detestam alguém, mesmo que nos casos em que nada de mal faz, acabam inventando sempre um crime para se atribuir a essas pessoas.
SERÁ QUE GUEBUZA NÃO MERECE ?
Quanto a mim, Guebuza, bem como todos os vivos e mortos que nos resgataram da trágica noite colonial e racista, merecem de nós mais e abundantes festas e homenagens, porque são uma das formas de os agradecermos.
Merecem porque sem eles, poderíamos estar ainda na cova da morte comum em que os nossos multiplicados inimigos nos tinham atirado passavam 500 longos anos.
Para mim, se fosse possível, deveríamos erguer uma estátua em cada local onde seja sepultado um antigo combatente pela nossa independência, do mesmo modo que se devia fazer o mesmo pelos compatriotas que defenderam de armas na mão, a nossa Pátria da agressão do regime do apartheid que tinha como sua mão a Renamo.
Guebuza e todos os que com ele celebraram os seus 70 anos, não são insensíveis. O que se fez foi celebrar o aniversário de um dos seus companheiros de luta de ontem e da luta de hoje.
É demagogia considerar Guebuza de insensível, quando a sua sensibilidade ficou mais do que comprovada ainda muito jovem, quando deixou tudo e enfrentou todos os riscos e até prisões, e caminhou muitas vezes a pé, até conseguir ir juntar-se à Frelimo em Dar-es-Salaam em 1963, para lutar contra o colonialismo.
Guebuza só regressou em 1974 quando ele e os outros companheiros, como Joaquim Chissano, Jacinto Veloso, Pascoal Mocumbi, Óscar Monteiro e muitos e muitos outros, derrotaram o colonialismo português que nos oprimia.
É demagogia acusar Guebuza e todos os que celebraram com ele o seu aniversário natalício como sendo insensíveis ao sofrimento do povo.
Aliás, muitos dos que lá estiveram, como Chissano, Mocumbi, Gundana, Jacinto Veloso deram inúmeras provas do seu amor por esta Pátria e seu povo.
Basta dizer que fazem parte de um grupo de moçambicanos que de armas em punho lutaram para erradicar o colonialismo português.
Na verdade, aqueles que agora apregoam a insensibilidade de Guebuza e de seus camaradas, comiam animadamente nas faustosas festas dos colonialistas, incluindo alguns dos donos dos jornais em que se publicam artigos que fazem essas acusações de insensibilidade.
A única coisa que se publica nesses jornais, ou que eles próprios escrevem ou mandam escrever, é sistematicamente contra o governo, e a única coisa que para eles é bom, é a oposição. O resto é ruim, não obstante o nosso País seja um dos 10 que neste Mundo que está a braços com uma grave crise financeira, está mesmo assim a registar um excelente crescimento económico que o faz estar nas primeiras páginas dos maiores jornais do mundo pelas coisas boas e não pelas más.
Os jornais referidos falam de Moçambique como sendo um dos que integra esse grupinho de 10 nações que registam o crescimento mais rápido do mundo inteiro, não obstante tenha saído de uma devastadora guerra há apenas 20 anos. Mas para os donos desses certos jornais que se publicam aqui no nosso Pais, todos os que ousam falar dessa verdade aqui no nosso País, e que não falam mal do governo, são lambe-botas, são frelimistas, são arautos do governo, são defensores ferrenhos do regime ... são e são sempre ruins e nunca boas pessoas.
Não será isto mesmo uma revelação de que estamos perante novos potenciais colonialistas que estão contra o nosso governo?
A isto chama-se força do ramerrão, que reage sempre a todas as inovações ou mudanças que ponham em causa aquilo que só beneficiava a eles só e não a nós todos.
É demagogia acusar Guebuza quando foi ele que uma vez mais, viria a aceitar, 16 anos após voltar da luta pela independência, deixou de novo tudo e ir fixar-se em Roma, onde negociou com a sua sabedoria, durante mais de dois anos, a Paz de que desfrutamos agora há mais de 20 anos.
- GUSTAVO MAVIE, da AIM