Pelo exército colonial, em 1945
A três quilómetros, sensivelmente, da vila sede do posto administrativo de Netia, precisamente no rio Mussimete, distrito de Monapo, na província de Nampula, onde ocorreu o massacre de centenas de crianças que se encontravam a cumprir cerimónias de ritos de iniciação, conhecido por “massacre de pastola”, por esse crime ter sido cometido pelo exército colonial português em 1945, através do uso da pistola, acaba de ser construído um monumento em memória dessa tragédia que provocou grande revolta no seio das comunidades locais, incluindo régulos considerados, na altura, sequazes do regime colonial português.
O administrador do distrito de Monapo, Salvador Talapa, referiu ao nosso diário que a edificação do monumento visa, fundamentalmente, a valorização do local no sentido de que todos devem ter a memória evocativa das muitas crianças que foram mortas sem nenhuma justificação naquele sítio, por aqueles que se julgavam donos desta pátria amada.
Segundo o administrador Talapa, a iniciativa de se construir esse monumento memorial surgiu no quadro dos esforços que as autoridades administrativas têm vindo a empreender com vista, particularmente, a valorizar todos os locais históricos existentes naquele distrito, onde, à semelhança do que aconteceu noutros pontos do país, a administração colonial e repressiva portuguesa teve forte implantação.
Entretanto, o conceituado artista gráfico da região norte do país, Justino Cardoso, um dos mais conhecedores do chamado “massacre de pastola” e que, em 2004, organizou uma exposição gráfica sobre o trágico acontecimento em 2004, tendo tido a oportunidade de oferecer um dos respectivos cartazes ao Chefe do Estado Armando Guebuza, o qual recomendou que fosse erguido um monumento no local do massacre, em memória das crianças mortas.
De acordo com o artista Justino Cardoso, o Presidente da República ficou bastante impressionado com o meu trabalho e acerca daquilo que ouviu sobre este massacre que, na altura, deixou profundamente consternada e revoltada a população da vila sede do posto administrativo de Netia.
Justino Cardoso explicou que esta chacina ou matança de centenas de criança em Netia ocorreu em 1945 e foi perpetrada por um alferes que chefiava o posto militar avançado do exército português, que possuía uma grande criação de porcos em
Netia. E porque esses suínos destruíam muitos produtos das machambas locais, cujas reclamações eram desvalorizadas, a população, enchendo-se de coragem, decidiu matar um dos porcos mais corpulentos.
Irritado com a atitude assumida pelos residentes, que, aliás, já andavam cansados com a reiterada destruição das suas culturas, o alferes ordenou prontamente a execução de todas as pessoas que viviam perto da vila de Netia.
Mas, o mais grave e incompreensível é que alguns dos seus subordinados dirigiram-se próximo do rio Mussimeti e alvejaram mortalmente, através de uma pistola (que, em emakua, chama-se pastola) as centenas de crianças que ali se encontravam concentradas a participar em cerimónias de ritos de iniciação. Recordou o artista gráfico, que, entretanto, lamentou o facto de. O “massacre da pastola”, um dos o mais antigos do país não ter tido, ainda, a devida divulgação e, portanto, não ser conhecido não só em Nampula, como noutros pontos de Moçambique.
WAMPHULA FAX – 23.01.2013