Dados apurados pelo “Notícias” consideram que o acidente é grave, sobretudo por ter ocorrido junto a uma ponte cuja estrutura acabou ficando afectada, tornando inviável a circulação de comboios.
As pontes foram sempre o “calcanhar de Aquiles” na linha férrea de Ressano Garcia, recentemente reabilitada num projecto orçado em 20 milhões de dólares norte-americanos que decorreu entre 2006 e 2009, e que permitiu o aumento da capacidade da via de 18 para 20 toneladas por eixo.
Com este investimento, a linha de Ressano passou a receber maiores volumes de carga, melhorou os tempos de trânsito e elevou os padrões de segurança na circulação de composições de carga e passageiros.
A empresa Portos e Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM, E.P.) confirma a ocorrência do acidente em comunicado distribuído à Imprensa, mas não avança as eventuais causas do sinistro. Refere-se, no entanto, à criação de uma comissão de inquérito que deverá apurar, num prazo não especificado, a origem do sinistro e apresentar um relatório sobre os prejuízos.
Contactado pela nossa Reportagem o director ferroviário dos CFM, Augusto Abudo, escusou-se a fornecer quaisquer informações sobre o acidente, afirmando que, sendo membro da comissão de inquérito criada pela sua empresa, não faz sentido prestar declarações antes de concluído o trabalho da equipa.
Outros dados apurados pelo nosso Jornal indicam que durante as cerca de seis semanas de interrupção de tráfego na linha de Ressano todo o carvão e magnetite (minérios) provenientes da África do Sul, que correspondem a 70 por cento do volume total de carga manuseada no Porto de Maputo, não vai poder entrar, resultando em prejuízos combinados para o porto e seus utilizadores.
Uma alternativa que alguns analistas de mercado consideram para o escoamento da carga proveniente da RAS é a utilização da linha de Goba, cuja capacidade está, entretanto, longe de satisfazer os volumes de carga que vinham sendo escoados pela linha de Ressano.
Mais do que o prejuízo do ponto de vista de receitas, a nossa Reportagem apurou ainda que o Porto de Maputo corre um risco real de perder clientes que vem conquistando nos últimos anos, mercê dos investimentos realizados na melhoria da capacidade de manuseamento e qualidade do serviço prestado aos utilizadores, sem falar do grande movimento de marketing que vem sendo feito com potenciais utilizadores a nível da região e não só.
A linha de Ressano vinha fazendo, semanalmente, trinta comboios, só de minérios, carga que nas próximas semanas deverá ser escoada por rotas alternativas como o transporte rodoviário. Refira-se que parte dos minérios sul-africanos em trânsito por Maputo, chegam ao porto em camiões que rondam as 900 unidades por semana.
A linha férrea de Ressano Garcia constitui, de parceria com a linha de Goba, a estrada Maputo-Witbank (N4), o posto fronteiriço de Ressano e os Portos de Maputo e Matola, a estrutura do Corredor de Desenvolvimento de Maputo, um dos eixos de transporte mais relevantes da região.