Esfumam-se cada vez mais as hipóteses de Manuel Vicente suceder José Eduardo dos Santos
XAVIER DE FIGUEIREDO *
Meios próximos do actual Vice-Presidente da República de Angola, Manuel Vicente, notam uma erosão da sua convicção de vir no futuro a substituir José Eduardo dos Santos (JES) como Presidente da República.
A constatação tem por base discretas manifestações do próprio, consubstanciadas em desabafos/gestos, geralmente em ambientes recatados.
No desempenho do cargo de Vice-presidente, que exerce formalmente desde Setembro de 2012, Manuel Vicente tem estado confinado a um “obscurecimento duplo”, conforme apreciação generalizada do assunto.
Raramente participa em actos oficiais públicos; aqueles em que a sua presença foi registada tinham “importância menor”.
A secundarização políticoinstitucional da figura do Vice-Presidente, que no círculo presidencial é dada como inspirada na realidade similar dos EUA, tem antecedentes no anterior titular do cargo, Fernando da Piedade Dias dos Santos (não dispunha de protocolo próprio e a escala de precedências colocava-o ao nível dos ministros).
As razões aparentes pelas quais Dias dos Santos foi sujeito a um apagado exercício do cargo (JES nunca o viu como seu substituto, não sendo por isso era conveniente promovê-lo), em teoria não se reproduziriam em Manuel Vicente – inicialmente visto como “preferido” de JES como seu sucessor.
Desalento
O factor que se julga ter contribuído em maior escala para o “desalento” que Manuel Vicente revela, decorre, porém, do papel-chave que José Filomeno dos Santos “Zenu”, filho de JES, passou a ter no regime – uma realidade indutora de antigos rumores, agora avolumados, de que é ele o “eleito” de JES para o substituir.
O reforço da importância de JF dos Santos Zenu e uma eventual articulação do facto com planos para o posicionar como “sucessor” de JES está intimamente relacionado com o recém-criado FSDEA-Fundo Soberano de Angola (AM 723), que ele de facto “comanda”, apesar de ter apenas o cargo de administrador.
Na organização e funcionamento do FSDEA, ficaram confiadas a JF dos Santos “Zenu” competências exclusivas no plano das relações internacionais. O exercício da função implica contactos de alto nível no mundo da política e dos negócios – uma actividade geradora de visibilidade, influências e mesmo apoios.
Maquiagem
JF dos Santos “Zenu” é vice-presidente do BKI-Banco Kwanza Invest (o presidente, Ernest Weltek, é considerado figura decorativa); a actividade do BKI, como “hedge fund” do BNA e de outras instituições angolanas para aplicações externas, já assegurava projecção externa a JF dos Santos “Zenu” – agora acrescentada.
Mas já antes do lançamento do BKI (antes, Banco Quantum), JF dos Santos “Zenu” era referenciado em missões consideradas informais, na China, p ex, que pela sua natureza lhe propiciaram um círculo de relações internacionais.
Faz-se geralmente acompanhar de um suíçoangolano, Jean Claude de Morais Bastos.
A ideia instalada é a de que o FSDEA, na sua construção, também foi calculado para alargar o campo de afirmação externa de JF dos Santos “Zenu”. Tendo em conta o método presente na própria acção política de JES, de se projectar externamente como forma de afirmação política, conjectura-se que não é “inocente” o papel atribuído ao filho.
O FSDEA é alimentado com dinheiros provenientes do petróleo, antes geridos ou sob controlo da Sonangol – uma realidade que permitia a Manuel Vicente, como PCA da Sonangol, visibilidade internacional e influências de que agora não só não dispõe como foram, num novo quadro, transferidas para JF dos Santos “Zenu”.
Evidências
Os rumores internos, a que Manuel Vicente não parece insensível, segundo os quais é JF dos Santos “Zenu” que JES tem em mente promover como seu substituto, foram empolados por factos como uma entrevista deste em que se refere de forma considerada anódina à questão da sucessão de seu pai.
Também há conhecimento de afirmações consideradas evasivas do próprio JES em relação ao tema. Ao encarregado de negócios da Rússia, p ex, terá dito, quando o mesmo introduziu o assunto, que “várias pessoas estão a ser experimentadas” para lhe suceder no cargo.
A escolha de Manuel Vicente como candidato a Vice-Presidente foi objecto de rejeições em sectores da direcção do MPLA. O distanciamento que JES denota em relação a Manuel Vicente também é visto como um artifício destinado a aquietar os seus adversários e/ou como um elemento de pressão sobre o próprio Vice-Presidente.
* in Africa Monitor Itelligence & Redacção do Cm
CORREIO DA MANHÃ – 25.02.2013