O ex-primeiro moçambicano Pascoal Mocumbi manifestou-se arrependido de ter aceitado a decisão do Banco Mundial (BM) sobre a liberalização da castanha de caju no país, que, disse, sabia que "era errada".
Em 1995, na sequência dos planos de ajuda financeira a Moçambique, o BM impôs a liberalização das exportações de caju, que, até então, obrigavam ao seu processamento pela indústria nacional.
Em resultado, a indústria do caju desapareceu de Moçambique, com o fecho das fábricas e o desemprego para milhares de operários.
"Como primeiro-ministro, lembro-me de ter tomado decisões, por exemplo, que deviam ser melhores se eu tivesse conhecimento de como é que o Banco Mundial funciona", assumiu Mocumbi, que liderou o Governo moçambicano entre 1994 e 2004, numa entrevista publicada hoje no semanário Canal de Moçambique.
"Tivemos que tomar uma decisão que sabíamos que era errada, mas não tínhamos outro caminho", explicou Pascoal Mocumbi, sobre "o problema da operacionalização da castanha de caju" em Moçambique.
"Você tem um prazo útil de negociação com essas instituições. Mas aí está, quanto tempo posso sobreviver sem dinheiro? Porque é o dinheiro que eu preciso para realizar programas", acrescentou.
O processo de liberalização do caju moçambicano permanece como um emblema de imposições do exterior que resultaram em prejuízos graves para um país que, segundo o investigador André Cristiano José, da Universidade de Coimbra, "seguiu religiosamente as orientações" do Banco Mundial e era, por isso, "considerado o bom aluno africano".
Em 1974, Moçambique era o maior produtor mundial de castanha de caju, produzindo 42,7 por cento do total global, e, após a independência, em 1975, o Governo adotou medidas protecionistas, impedindo a exportação da castanha de caju em bruto.
Problemas de financiamento da economia e de ineficiência na produção agrícola levaram à decadência do setor e da respetiva indústria ainda na década de 1980.
Com as medidas do BM, fecharam as poucas fábricas ainda em funcionamento e milhares de trabalhadores perderam os seus empregos.
Em 2011, funcionavam no país 29 novas fábricas com capacidade instalada de 38.400 toneladas de processamento da castanha de caju produzida por cerca de um milhão de pequenos produtores das províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Gaza e Inhambane.
LAS // MLL
Lusa – 27.03.2013