No começo do mês de Abril
próximo, isto é, exactamente no dia dos "enganos", vou assinalar a
passagem do quinquagésimo aniversário da minha integração nas fileiras da
Frente de Libertação de Mocambique (Frelimo) como membro da Organização. Já lá
vai meio século de vida!... Incrível.
Olhando para trás, deparo-me com uma série de recordações alegres que,
infelizmente, logo se dispersam num infinito mar de tristeza. Ao mesmo tempo,
tentando lançar o olhar para a frente, o futuro aparece como um vulto medonho
que infunde uma permanente inquietação de incerteza em que se apresentam
figuras humanas banhando num lago imundo de pobreza.
Acho que são sonhos esquisitos, próprios de um órfao de pai político como eu
que, conquanto viva no exílo, não deixo de ter olho e coração no berço natal.
Sim, é aqui, onde tantos outros órfãos de Mondlane foram forçados a seguir as
suas pegadas, subindo lá para o céu eterno depois de torturas de inspiração
lenin-stalinistas.
No meu livro, acabado der ser recentemente publicado em alemão, falo da cooperação entre a União dos Estudantes Moçambicanos (UNEMO) e a FRELIMO antes do assassinato de Presidente Mondlane e da aparição da ideologia marxista do túmulo deste defunto. A tradução em português está em discussão. Como adepto da Frelimo e antigo discípulo de Mondlane, gostaria, nas vésperas do meu aniversário, de lançar um apelo aos actuais dirigentes do Partido para que o espírito de responsabilidade e da Unidade Nacional se coloque acima do egoísmo pessoal e das estratégias da luta pelo poder.
Deve-se combater a exigência camufulada de obediência canina como regra para a conquista de simpatia e de posições previlegiadas em detrimento da competência e da formação profissional. A impressao de que ser membro da Frelimo é símbolo de bom cidadão e que os outros são simples reaccionários, é uma teoria selectiva e muito perigosa. O Partido vive no conforto temporário e ilusório da basófia de invencibilidade perdendo a nocão de autocrítica e de tolerância. A nova geracao cresce na nebulosa das lendas mentirosas e na ingnorância da história passada. Isso encoraja o regionalismo desnecessário e aguça o apetite pelo poder sem questionar as capacidades e o espírito de responsabilidade perante o Povo e a Nação.
A palavra democracia está em moda e pronuncia-se a torto e a direito mesmo no dito terceiro mundo. Mas, em boa verdade, toda a gente sabe que as eleições se ganham sem programa ou repetindo apenas as promessas do passado, que nunca foram e nem serão postas em prática. E com razão! O quadro da miséria e a prática de desvio de fundos de ajuda internacional são os mesmos. Os países ditos civilizados fecham os olhos e deixam os financiadores da corrupção recrutar políticos africanos como sócios na exploração dos seus próprios Povos. Organizam-se eleições que se ganham antes das urnas, pois estas não têm senão a importância simbólica de legitimacao. Ei-los os "eleitos" recebidos nos salões políticos dos Países industrializados com honras de" Democratas" porque as eleições correram sem distúrbios. O regozijo explode!
Assinam-se novos acordos de ajuda e cooperação em que os investidores têm como sócios os mesmos políticos que se comprometem, em contra partida, a abrir as portas para a exploração dos seus próprios irmãos impondo-lhes salários de fome. Em casos de expropriação de terrenos, garante-se a disposição dos antigos proprietários como mão de obra barata.
O orgulho e a força que nos deram os pais do nacionalismo africano nos anos sessenta devem servir de inspiração e de orientação para a nova geração face ao perigo de moderna escravatura sob a capa de globalização e da ignorância. Desta vez, os exploradores se escondem nos seus abrigos e deixam-se representar pelos dirigentes africanos que, embora exibam por hipocrisia a bandeira nacional, vivem na sujeira da corrupção.
ALERTA!
Simeão Massango
(Recebido por email)