Estando para
muito breve a venda da obra do Dr. António Disse Zengazenga MEMÓRIAS DE UM REBELDE – Uma vida pela
Independência e Democracia em Moçambique, MPT endereçou-lhe as perguntas
abaixo, cujas respostas desde já agradecemos:
MPT - Um livro de memórias como o seu irá ser mais um contributo para se poder interpretar de uma outra forma a história da luta pela independência. Em «Memórias de um Rebelde» temos como figura principal António Disse Zengazenga, um seminarista, que tal como outros estudantes católicos, juntou-se à Frelimo. A maioria não ficou por lá, na Frelimo. Como explica esse fenómeno, isto é, o facto da grande maioria dos estudantes oriundos de instituições católicas não ter permanecido na Frelimo?
Um livro como o meu pode ser um contributo para se interpretar de uma outra forma a história da luta pela independência, se os factos aí citados estiverem de acordo com algumas consequências ou conclusões, cujos princípios estão errados a fim de conduzir o Povo à escuridão, a mistérios. Pode servir de correctura e esclarecimento, de alguns factos.
Os responsáveis da falsificação nunca cederão.
Apenas com a mudança do regime é que um novo governo poderá nomear uma comissão de historiadores, que tenham lido os muitos livros escritos naquela época e na actualidade, relacionados aos mesmos acontecimentos para corrigir toda a História.
Os que vivem em Moçambique, nos Estados Unidos da América, aqui na Europa, que tomaram parte ou seguiram de perto os acontecimentos em Dar-es-Salaam, podem reunir-se, discutir e escrever uma nova História que refuta o que a Frelimo actualmente ensina. Mas quando e onde será ensinada a tal Historia? Em Moçambique depois da mudança do regime. Eu já escrevi a minha História da Frelimo. Esta neste meu livro.
A Frelimo não era uma instituição religiosa para nela continuar com a religião. Era e é uma instiuição laica e política. Portanto, não havia razão válida para permanecer aí. Muitos juntaram-se à Frelimo ou porque estava num ponto estratégico de recepção e de força ou porque os outros partidos não mereciam crédito. É a mesma situação hoje em Moçambique. A maior parte deles, depois de sair da Frelimo, não entrou em nenhum partido político nem fundou seu próprio.
Sobre este tema aproveito para chamar a atenção para o capítulo sob o título “A minha estadia na Frelimo” do meu livro “Memórias de um Rebelde” muito em breve à venda
MPT - No seu livro(que já tivemos a oportunidade de ler) fala da questão dos estudantes moçambicanos em Moscovo que optaram por ficar na Alemanha. Primeira questão, era a RDA ou Alemanha Federal? A segunda questão que gostaríamos de apurar era o teor das mensagens que os estudantes em Moscovo enviaram à direcção da Frelimo, mas que não obtiveram resposta. De que tratavam essas mensagens? Que problemas prentediam os estudantes ver resolvidos?
Era ficar na Alemanha Federal.
Tratavam do tribalismo e do tratamento dos dissidentes da Frelimo. Queríamos ver resolvidos. Uma vez fui respondido que eram os que estavam em Dar-es-Salaam e não estudantes que estavam no estrangeiro a decidir o futuro de Moçambique.
MPT - Os nomes dos estudantes mencionados no seu livro incluem vários que foram parar a M'telela: Júlio Razão Nihia, Gilberto Waya, Arcanjo Faustino Kambeu. Podia fazer uma retrotestiva do ideário político destes e de outros estudantes nas mesmas circunstâncias?
Gilberto Waya não está em nenhuma parte do meu livro.
Citei estudantes enquanto eram estudantes. Depois da Universidade tratei-os sempre por Drs. Se não caracterizei aqueles que foram mortos no meu livro, não vou fazê-lo aqui.
MPT - Falar de M'telela é evocar o nome de tantos cidadãos moçambicanos que para lá foram enviados mas não regressaram. O autor de «Memórias de um Rebelde» considera que chegará o dia em que a memória desses estudantes que também lá desapareceram, poderá vir a ser honrada? Vimos o caso do estudante da Faculdade de Medicina da antiga Universidade de Lourenço Marques, Eugénio Zitha, que teve sorte idêntica. O filho deste estudante deseja uma reparação por aquilo que foi feito ao pai dele. Será que os filhos, ou os ex-coleqas de Júlio Razão Nihia, Gilberto Waya, Arcanjo Faustino Kambeu poderão vir a seguir o exemplo desse filho que quer honrar a memória do pai desaparecido?
0 Autor de “Memórias de um Rebelde” está convencido de que chegará o dia em que a memória desses académicos e outros que também lá desapareceram, poderá vir a ser honrada. Isto está no meu livro. Basta ver a história de Lavoisier, que também tinha sido acusado de traição e guilhotinado e a historia da Joana d’Arc que tinha sido acusada de possessora de demónios por bispos católicos e mais tarde os bispos da mesma França propuseram a Roma que fosse canonizada e proclamada padroeira da França,
Quanto à última pergunta digo que se trata de hipóteses pessoais.
No capítulo “Os nossos heróis e a traição” do meu livro está desenvolvido este tema.