Uns dizem que é uma nova linha de colonização, outros preferem chamar de cooperação.
Teorias à parte, África é o único lugar onde há matéria-prima para a indústria dos BRICS e, ao mesmo tempo, só eles têm força para investir no continente. O caminho está aberto, mas o destino depende das escolhas políticas...
O grupo dos países emergentes denominado Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, terminou, esta quarta-feira, a sua reunião em Durban, na África de Sul, com a decisão de criar um banco de desenvolvimento para apoiar infra-estruturas (portos, rodovias, aeroportos) e desenvolvimento sustentável (energia, irrigação, agricultura) nas suas potências e nos países em desenvolvimento.
Uma outra decisão tomada na V Cimeira dos Brics foi a criação de um fundo de reservas, de 100 biliões de dólares, que deverá ser usado em caso de crise financeira internacional. O fundo anti-crise é denominado Arranjo de Contingente de Reservas.
A China vai entrar com 41 biliões de dólares, Brasil, Rússia e Índia com 18 biliões cada e a África do Sul, menor economia do grupo, vai ingressar com 5 biliões de dólares.
Estas decisões surgem numa altura em que se verifica uma corrida em massa destes países para África, onde disputam os recursos naturais e mercados para venda dos seus produtos.
Alguns analistas internacionais não acreditam que este apoio dos Brics a infra-estruturas dos países em desenvolvimento traga algum benefício às comunidades, isto porque até mesmo os chineses, que são os maiores investidores do grupo em África, têm importado matéria-prima e até trabalhadores da China, para levantar infra-estruturas, deixando de criar emprego no continente.
Não será esta entrada dos países emergentes em África uma forma de fortificar a sua presença no continente, no sentido de aproveitarem as grandes jazidas de minérios, petróleo e outros recursos naturais valiosos existentes em abundância?
Analistas consideram que a ideia dos Brics, de apoiar os projectos de construção de infra-estruturas nos países em desenvolvimento, pode ter surgido também para melhorar as condições de manuseamento e logística dos recursos explorados pelas empresas que fazem parte do seu bloco.
A África do Sul tinha esperança de sediar a nova entidade bancária, para acelerar o ciclo de desenvolvimento criado nos últimos anos pelos investimentos chineses e brasileiros e irradiar optimismo a todo o continente. Mas as negociações emperaram com a resistência da Rússia. Moscovo não vê utilidade no banco de fomento dos Brics.
A Rússia tem menos necessidades em infra-estruturas e, além disso, os emergentes já têm bancos de desenvolvimento nacionais consolidados, que podem tocar os projectos intra-Brics.
Foram convidados a participar no encontro os presidentes em exercício das oito comunidades económicas regionais africanas, nomeadamente da SADC, da Comunidade da África Oriental, da Comunidade Económica dos Estados da África Central, da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento, do Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA), da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEAO) e da União Árabe do Magrebe (UAM), e ainda o Presidente da União Africana.
O PAÍS – 28.03.2013