Vender-se gato por lebre está a tornar-se uma praga do quotidiano dos moçambicanos, de par com o não respeito de prazos e os preços exorbitantes incluindo margens de lucro na ordem dos 100%.
Quantas empresas construtoras entregam atempadamente as obras e com a qualidade especificada nos projectos? Não se queixam até as entidades estatais dos empreiteiros? Neste último caso qual o papel do fiscal, qual a sanção para o trapaceiro, cível, claro, mas penal também e com interdição total do exercício da profissão?
Não há funcionários do Estado e dos municípios que possuem ou estãoassociados a estas empresas, até via cônjuge, filhos e outros familiares? Deixaram de existir incompatibilidades e conflitos éticos de interesses?
Despejam em Moçambique produtos importados do Dubai, China, Nigéria, digo despejados porque se tratam de refugos rejeitados, pois nesses países também se produz e vende artigos com qualidade.
Que produtos piratas se vendem nas nossas ruas e lojas? Uma caneta MONT BLANC ou PARKER vendida a bom preço de 2.500 Mt nas nossas ruas, quando à porta de fábrica os originais se vendem a pelo menos duzentos dólares, relógios, discos e vídeos pirateados, tudo vemos no quotidiano diante da indiferença total da autoridade.
Haverá conluio entre a pirataria e a autoridade?
Quando as associações de consumidores ainda se mostram muito débeis e com pouca voz activa e mesmo noutras circunstâncias, deixará o Estado de fiscalizar, sancionar, aguardar passivamente que os tribunais se pronunciem sobre a queixa de um consumidor?
Produtos alimentares deteriorados ou contendo substâncias nocivas ao organismo humano já mataram pessoas até na Europa e nos Estados Unidos. Aguardamos calamidades em Moçambique para agirmos? Comerciantes não importam do grande vizinho produtos com prazos a expirarem, porque lhes parece mais barato? Mais barato para saúde e vida do consumidor?
Uma boa parte de fornecedores de bens e serviços, muitos comerciantes funcionam como se eles trabalhassem e nós vivêssemos numa das periferias sul-africanas, transformando Moçambique numa espécie de bantustão.
Em grande parte o fenómeno deriva da grande carência da indústria nacional. Até vendíamos alumínio para fora e aqui não se produzia uma panela ou caixilharia de alumínio. Parece que vamos começar a fazê-lo. Aleluia!
O empresariado nacional deve olhar para as necessidades do mercado e produzir. Produzir para nós, substituindo as milhentas importações, produzir para a região SADC com todas as vantagens das isenções, produzir para vender fora.
A China que importa madeira em bruto, não importaria madeira trabalhada, para móveis, portas, etc.? Digo China, como muitos outros países.
Quantifica-se a mais-valia resultante da exportação de produtos acabados e verifique-se o diferencial com a venda da matéria-prima e constate-se a imensidão do que não ganha nem o país nem o empresariado moçambicano.
Cortaram-se estradas, vias-férreas, cessou o transporte do carvão, a linha para Ressano Garcia fechada. Os CFM mencionam cerca de uma dezena de milhões de dólares de prejuízo, fora o afastar clientes. Diz-se até que a Linha de Sena não se destinava a transportar carvão. Então ela não o fazia, até que os BA sabotassem a ponte de Dona Ana? Quando se fez o plano de reabilitação e entregue a construção a uns trapaceiros, o que se pretendia transportar?
Façamos contas:
1. Prejuízos resultantes do corte das estradas.
2. Prejuízos dos CFM.
3. Prejuízos nos portos privados de carga.
4. Prejuízos dos particulares, empresas ou pessoas singulares, privados da comunicação ferro e rodoviária.
Não culpemos as chuvas calamitosas, sempre as houve, tal como as inundações. Culpemos a improvisação, a falta de planos articulados, os executivos que nada ou pouco executam.
Culpemos e responsabilizemos, cível e criminalmente.
Há que louvar as acções de socorro, o INGC, as entidades mais diversas ao nível do Governo central e local, as Forças Armadas, os voluntários, as empresas e pessoas que responderam ao apelo de solidariedade e viveram na carne a dor dos compatriotas, as ajudas externas.
A estes o meu abraço,
Sérgio Vieira
P.S. A mensagem de humildade que transmite o Papa Francisco ao erigir o Poverello como seu modelo cai muito bem no coração de todos os que vivem no desespero da pobreza e se confrontam com a opulência desalmada das elites esbanjadoras do mundo.
Espero que a mensagem que Sua Santidade deseja transmitir se aplique aos jogos especulativos e financeiros dos bancos e participações financeiras, imobiliárias e outras da Santa Sé, que nisto alienou toda a mensagem do seu fundador.
Que também faça abrir os olhos da Cúria e do Clero às escandaleiras dos abusos sexuais.
Um abraço com votos de sucesso a Francisco
JORNAL DOMINGO