Estado gastou 3,5 milhões para autocarros que só duraram 6 anos
Consumou-se o que já estava previsto: quase todos os autocarros de marca chinesa Yutong, adquiridos entre 2006 e 2007 pelo governo através da extinta Transportes Públicos de Maputo, estão avariados e a companhia quer desfazer-se das viaturas.
A actual Empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo (EMTPM) lançou ontem, no jornal Notícias, um anúncio de abate, onde torna público que vai proceder à alienação de 33 autocarros e três viaturas ligeiras, todos imobilizados.
Dos 33 autocarros, 25 são de marca Yutong, importados da China, com fundos públicos nos últimos sete anos.
A ideia era atacar a gritante falta de transporte de passageiros nas cidades de Maputo e Matola. Mas o que parecia um alívio tornou-se um pesadelo e um enorme fardo. Cada um dos autocarros custou 141 mil dólares norte-americanos, totalizando cerca de 3,5 milhões de dólares. O dinheiro foi investido para adquirir viaturas que só duraram seis a sete anos.
Ora, neste momento, a Empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo dispõe de viaturas que foram adquiridas antes dos Yutongs e circulam normalmente entre as cidade de Maputo e Matola.
MÁ GESTÃO
No fundo, o negócio de compra dos autocarros vem demonstrar, acima de tudo, um problema de gestão. Até antes da aquisição do primeiro lote não existia nenhum Yutong no mercado moçambicano, nem alguma agência especializada para garantir a manutenção ou fornecimento de acessórios desta marca.
Fonte segura garantiu, ontem, ao “O País” que em toda a África Austral nenhum país, incluindo a vizinha África do Sul, dispõe de uma empresa de manutenção daqueles veículos.
Em 2007, um dos autocarros movidos a gás ficou completamente destruído quando pegou fogo junto às bombas de fornecimento de gás localizadas em Beluluane, província de Maputo.
O incêndio resultou de um erro técnico do agente (empresa Técnica Industrial) que, por causa disso, teve de compensar ao Estado.
Na impossibilidade de adquirir um outro autocarro, a Técnica Industrial pagou à empresa TPM em dinheiro.
A falta de acessórios em Moçambique foi determinante para a companhia desistir dos autocarros. Em 2008, os vidros de algumas viaturas ficaram danificados com as manifestações de 5 de Fevereiro e, não existindo na região local para obter os mesmos (vidros), a empresa teve de os comprar na China, aguardando a sua chegada a Maputo durante semanas.
Além de pagar 3, 838 dólares americanos por cada um dos dois vidros, a empresa foi orçada a arcar com todos os custos inerentes ao processo de importação destes bens.
O PAÍS – 26.03.2013