O PROSAVANA visa melhorar a competitividade do sector rural da região, tanto em matéria de segurança alimentar, a partir da organização e do aumento da produtividade no âmbito da agricultura familiar, como na geração de excedentes exportáveis a partir do apoio técnico à agricultura orientada para o agro-negócio.
A ideia subjacente é de que este estágio pode ser conseguido em 20 anos, metade do que foi necessário para o serrado brasileiro (localizado entre o paralelo 13 e 17) explorar todo o seu potencial.
A nossa Reportagem esteve recentemente em Nampula, onde se situa o núcleo da implementação desta ideia que deverá revolucionar a forma de fazer agricultura na região e constatámos que tudo está sendo feito para que a cooperação trilateral vinque e sobretudo para que haja resultados.
O serrado brasileiro é considerado hoje como uma fronteira agrícola onde são produzidos cerca de 60 por cento dos grãos. Apesar de ainda não ter sido concluído o plano-director como instrumento de operacionalização, já foi identificado que o “Corredor de Nacala” possui as condições climáticas e de solo para além das facilidades de transporte para o acesso rápido ao mercado para atingir novos patamares.
No terreno, existe já em estágio avançado um programa de transferência de tecnologia desenvolvidas no Brasil durante os últimos 40 anos que se pensa que podem se adaptar às condições de Moçambique.
Actualmente, a população das províncias sob a influência do “Corredor de Nacala” (Nampula e Niassa) é de pouco mais de 5 milhões de habitantes, em 33 distritos. Nestes locais predomina uma inadequada infra-estrutura social e falta de acesso a bens e serviços.
A agricultura da região reflecte o panorama nacional, marcado pela baixa produtividade agrícola e pela agricultura de subsistência cultivando-se o milho, mandioca, mapira, arroz e feijão (nhemba), além da criação de pequenos animais.
Estudos feitos e que foram tomados como base para a definição do PROSAVANA, mostram que este contexto é reflexo directo das precariedades da infra-estrutura de produção, armazenagem e distribuição de produtos da agricultura, limitações do sistema de investigação na região, desconhecimento da organização social e económica da população-alvo, a ocupação indiscriminada das áreas agrícolas, sem utilização de adequadas tecnologias de maneio dos solos, da água e da biodiversidade e baixos níveis de produção e de produtividade agrícola, em decorrência de um precário sistema de acesso aos insumos básicos e de divulgação e absorção das tecnologias disponíveis.
A maioria desconhece o que está sendo feito partindo do senso de que os resultados já deviam estar no mínimo disponíveis.
Na conversa que a nossa Reportagem teve em Nampula com o ponto focal para o PROSAVANA, Américo Uaciquete, com Keiichiro Kobatashi e Henoque Ribeiro da Silva ambos afectos à coordenação da pesquisa pelo Japão e Brasil, respectivamente, percebemos que no mínimo devem decorrer cinco anos para que se possa perceber alguns impactos do programa, ao nível do produtor.
É que, numa primeira fase, as três partes estão a investir na construção de uma base tecnológica em agropecuária capaz de dar sustentabilidade aos programas de produção e de desenvolvimento rural da região a longo prazo.
Numa segunda fase é que deverá se avançar na obtenção de incrementos da produção e da produtividade da agropecuária regional a uma taxa média de 12 por cento ao ano a partir de 2015.
Nessa altura, estima-se que estejam integrados no circuito do PROSAVANA perto de 40000 famílias de pequenos e médios produtores agrícolas organizados que são em grande medida os principais alvos do programa.
Todo este processo visa dar resposta às questões levantadas a princípio aquando da elaboração do programa que tem a ver com o incremento das terras ao processo produtivo e da produtividade agrícola através da introdução de tecnologias adequadas às características locais e de investimentos no sector.
Na região abrangida pelo PROSAVANA ocorrem a leste precipitações que variam de 800 a 1000 milímetros que estão sob a alçada do Centro Zonal Nordeste e a oeste, uma área mais chuvosa, com precipitações médias de 1000 a 1500 milímetros onde está instalado o Centro Zonal Noroeste.
Segundo as nossas fontes, neste momento o programa está dividido em três vertentes, nomeadamente a investigação (PI), com a duração de cinco anos e que está virado integralmente à pesquisa, enquanto os restantes, nomeadamente a do Plano-Director (PPD) de desenvolvimento da agricultura que envolve questões de associações, crédito rural, gestão da terra e o PEM que é Prosavana Extensão e Modelos que é o de fase mais duradoira que deve permanecer no terreno por vinte anos ou mais.
O programa de investigação está virado para cinco componentes essenciais, nomeadamente o desenvolvimento das infra-estruturas e capacitação que significa que vão ser feitas melhorias nas estruturas físicas do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique.
É neste contexto que deverão iniciar ainda este ano as obras de construção de um laboratório de solos e análise de plantas (actualmente recorre-se àÁfrica do Sul) que será construído pela parte japonesa e equipado integralmente.
No mesmo âmbito também já está desenhado o plano arquitectónico do que será o Instituto de Investigação Agrária na região.
Também já foi feito o levantamento das necessidades de capacitação, actividade a cargo da contraparte brasileira que alterna entre cursos no Brasil e em Moçambique em função do número de técnicos envolvidos. Nos dois centros zonais estão disponíveis neste momento um total de 70 técnicos com perspectiva de duplicação a médio prazo.
A segunda componente, segundo apurámos das nossas fontes, tem a ver com a análise do impacto ambiental da implantação do Prosavana que já está em andamento e também da análise das condições socioeconómicas da região.
“A ideia não é chegar aqui desmatar tudo e plantar áreas enormes como foi feito no Brasil onde não havia população na época. Em Moçambique é diferente porque encontramos uma condição onde a densidade populacional no terreno é muito alta e onde predomina a pequena agricultura”, disse Henoque da Silva.
A terceira componente está virada ao estudo dos recursos naturais incluindo os hídricos. O quarto é o de sistemas de cultivo para a produção de excedentes agrícolas ou seja grandes áreas e para a pequena propriedade agrícola e o quinto é o que está voltado para a agricultura familiar.
Investigação agrária introduz novas variedades
Neste momento existem cinco culturas que estão a ser estudadas nos centros zonais em Nampula e em Lichinga.
As experiências que estão a ser feitas em Nampula envolvendo o arroz de terras altas que é uma introdução bem como o algodão, o milho, a soja e feijão-nhemba também existem em Lichinga que é uma área de actuação do Prosavana.
Em Lichinga, no lugar do algodão está a ser testado o trigo e no lugar do feijão-nhemba está-se a investir no feijão-vulgar e a soja e o arroz.
Soubemos que em Lichinga estão em campo 19 ensaios, dois a mais em relação a Nampula e inclui experimentos na introdução de variedades em competição com as locais, épocas de sementeira, estudos de fertilidade de solos e de calagem que é a aplicação de calcário para o fornecimento de cálcio e magnésio e consequente equilíbrio das bases químicas do solo.
No algodão, a título de exemplo, a variedade em estudo é brasileira em que pretende-se apurar a melhor combinação entre fósforo e potássio.
Outro estudo de grande interesse é o da rotação de culturas que se chama modelos de produção que teve grande impacto no Brasil.
“São ciclos diferenciados de culturas onde a expectativa é de que uma cultura se aproveite do que a outra tem a oferecer. Estamos a estudar aqui nove modelos envolvendo arroz, algodão, soja, milho, feijão-nhemba e a gramínea plantada no final do ciclo para proteger o solo durante todo o período de seca”, disse da Silva.
A nossa Reportagem esteve no campo de ensaios da IIAM onde neste momento a única dificuldade relaciona-se com a falta de sistema de rega. Trata-se de uma zona de produção nova para onde o IIAM teve que demandar devido ao rápido crescimento da cidade de Nampula cuja população interferia negativamente nos projectos da instituição.
O sistema deverá ser estabelecido para suplementação durante os períodos sem chuva no período das chuvas.
“Se o período de seca coincide com o período de formação do grão, a frustração na produtividade é bastante alta. Tivemos nesta campanha uma frustração em termos da produtividade e da qualidade do que estamos a colher que são grãos menores, espigas menores e sobretudo a produção é baixa porque tivemos 27 dias sem chuva no período crítico”, indicou da Silva.
A intenção com a introdução do arroz produzido no sequeiro e da variedade do milho designada BRS 20-22 é induzir o aumento da produtividade nas culturas praticadas no corredor. Na zona de Malema e Guruè foram identificadas por especialistas moçambicanos variedades das terras altas que têm níveis de rendimento aceitáveis.
Devido à insuficiência das chuvas, a expectativa de colheita no campo de milho BRS 20-22 é de 4 toneladas por hectare enquanto o potencial é de até dez a onze toneladas por hectare.
“O mais importante para os investigadores como resultado da pesquisa em curso no arroz é que a variedade tem boa produtividade e aparentemente porque será possível produzir nas terras altas como alternativa para a agricultura do corredor. Com isto a dependência da importação do arroz vai reduzir na região e tem uma qualidade muito melhor do que o produzido nas zonas húmidas. Com os resultados de Nampula e Lichinga é possível fechar o corredor sem problemas”, disse.
Em Niassa, segundo o investigador brasileiro, a cultura de trigo comportou-se de forma excelente porque tem uma altitude semelhante a do serrado que se assemelha a de Guruè que se situa acima de 900 metros.Nampula está a uma altitude de 400 metros e as condições de adaptação das culturas são mais acentuadas.
“Não estamos interessados em resultados bons numa primeira fase, mas descartar aqueles que forem maus de modo a não levar estes resultados ao produtor”, disse da Silva ideia partilhada pelos investidores moçambicanos e japoneses.
Contrariamente à experiência dos brasileiros cujos experimentos só devem chegar ao produtor a partir do terceiro ano enquanto que os investigadores japoneses já estão com experiências no segundo ano com variedades locais já adaptadas.
Os técnicos brasileiros estão a usar e material vindo do Brasil comparativamente às variedades moçambicanas como a Matuba que é uma das melhores que existem.
“Estamos a introduzir novas variedades que tem bom comportamento no Brasil que pensamos que podem ter bons resultados aqui. Para nós é tecnologia terminada quando adoptada pelo produtor”, disse o investigador brasileiro.
- Osvaldo Gêmo