O Futebol Clube do Porto partia em vantagem relativamente ao Benfica. Com a vitória das duas equipas na jornada derradeira, os azuis e branco conquistaram o troféu
Eram dois jogos interessantes e os habituais clientes da CAPOEIRA, um restaurante pembense que acolhe “doentes” do futebol mundial, estariam, sem falta, em peso, com as suas cores normalmente bivalentes: quem é pelo Porto, em Portugal, raras vezes não é do Barcelona, na Espanha; e quem é do Benfica acaba sendo recorrente sofrer pelo Real Madrid. Raramente não é assim. Não se sabe porquê.
Poucos são os casos em que há “enfermos” pelos clubes ingleses, facto que começou a surgir agora, com a presença, em Pemba, de cidadãos zimbabweanos, que, sempre que há jogos duros, são incontornáveis, com os seus característicos gritos “famba, famba, famba”. Estes são adeptos, predominantemente, do Manchester United e Chelsea.
Mais para o norte de Cabo Delgado, em Mocímboa da Praia, passa-se quase o mesmo, mas destacando-se simpatizantes do Arsenal e Liverpool, por influência dos tanzanianos. É assim como nos dividimos, conforme o nosso passado colonial, que, ao contrário do que seria de esperar, está cada vez mais presente, ainda que isso sacrifique a nossa auto-estima, pelo menos no capítulo de desporto, muito particularmente, do futebol.
No avião retromencionado viajavam dois “fanáticos” de equipas portuguesas que se digladiariam durante o voo de duas horas e meia, mais o tempo de escala em Nampula, de cerca de 30 minutos. Um benfiquista e outro portista. Não se conheciam de lado algum, mas identificavam-se pelas camisolas, pois foram os únicos, de tantos que haveria na viagem, a ostentar as suas cores.
Começaram por se indicarem, longe a longe, depois a conversa de mudos acabou contagiando outros passageiros, de modo que o desembarque, em Maputo, foi a correr, para ir ver o que estava a ser dito nos ecrãs da sala de embarque do aeroporto. Afinal, era Jorge de Jesus a justificar as três perdidas consecutivas da época, assentando na máxima portuguesa de “quem quer tudo tudo perde”. E as mensagens dos gozões da CAPOEIRA entravam aos montes nos nossos telefones!
Dificilmente discutimos sobre o Chingale, Chibuto, Ferroviários, Maxaquene, Costa do Sol, etc., ou equipas dos nossos “provinciais”. Pior, em relação à selecção nacional, os nossos “Mambas”! Então, estamos a voltar ao período em que o estranho (estranja, o estrangeiro) é o melhor que o nosso? Alguma regressão a nível de identidade? E como se explica que quando mais falamos da auto-estima, menos nos estimamos, como parece estar a acontecer a cada dia que passa?
Há alguns clubes tradicionais que já tinham riscado os nomes que a história colonial lhes tinha imposto, para abraçarem os nossos, com os quais nos identificamos a nível cultural. A abertura ao mercado fez recordar os seus dirigentes que não era obrigatório ter nomes moçambicanos. Decidiram saudosamente regressar aos anteriores nomes!
Há clubes que nunca voltaram a ser como eram, simplesmente por terem optado pelo já referido regresso, muitas vezes ditado por uma hipotética possível cooperação com clubes, principalmente portugueses, o que mais tarde se viu não ser para além de ensaios cosméticos. Entre os que sofreram muito com isso, deste lado, contam-se o Muahivire e o Namutequeliua, que não só perderam muitos sócios e adeptos, como também passaram a ter azares que nunca acabam!
Mas hoje por hoje, ainda se pretende que haja nomes do além-fronteiras, com o advento, nos últimos tempos, de outras equipas sonantes que as televisões nos ajudam a dizer que existem (mas sempre existiram).
O caso de Chiúre é sintomático. Há uma década tínhamos um Maxaquene de Chiúre, do saudoso Armando Banana. Não se sabe se os mentores do nome sabiam que o nome daquele clube é, sobretudo, de um bairro na capital do país, tal que dizer Maxaquene de onde quer que seja equivale a dizer bairro de acolá, aqui.
O Maxaquene de Chiúre morreu, quando se pensava que ao nascer um novo clube, provavelmente nos dissesse, pelo nome, algo que nos atraísse, de Chiúre, por exemplo, Muajaja, Moconi, quedas do Lúrio, entre outros. Para o nosso espanto nasceu o BARCELONA DE CHIÚRE. Isso mesmo!
O Barcelona de Chiúre chegou até a legalizar-se! Por um espaço de pouco menos de sete dias não conseguiu registar-se na Associação Provincial de Futebol – simplesmente porque se atrasou um pouco, tal como aconteceu com as duas equipas de Mocímboa da Praia que a letargia fê-las ficar de fora, desta vez.
Teríamos um Barcelona, nome de uma cidade espanhola, em Chiúre, a representar almas do mais populoso distrito de Cabo Delgado, no campeonato provincial, como se se tratasse de um aviso do tipo não se admirem se num desses anos tivermos um Xipolopolo de Moçambique no lugar dos Mambas inofensivos.- Pedro Nacuo