Duas mulheres moçambicanas queixam-se de terem sido "forçadas" a retirar os seus apelidos dos documentos de identificação, alegadamente por coincidirem com o do líder da oposição da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo).
As irmãs, de 22 e 27 anos, de idade disseram à Lusa que foram "obrigadas a apagar" com uma lâmina das suas certidões o apelido Marceta, que herdaram do bisavó paterno, quando procuravam renovar seus Bilhetes de Identidade (BI) nos serviços de identificação de Chimoio, no centro de Moçambique.
"Primeiro, foi comigo, quando fui obrigada a comprar a lâmina e a raspar o meu apelido. Há duas semanas, a mesma coisa aconteceu com a minha irmã, supostamente por o nome ser igual ao do líder da oposição", disse à Lusa uma das mulheres, falando na condição de anonimato.
Afonso Macacho Marceta Dhlakama é o histórico líder da Renamo, dirigindo o principal partido da oposição em Moçambique desde 1979.
A irmã mais velha, disse, já havia sido "coagida" a riscar o seu apelido em 2006, mas o processo acabou queimado, num incidente ocorrido no arquivo local dos Serviços de Identificação Civil.
Contudo, em novembro de 2009 voltou a ser confrontada com o mesmo problema, e, três meses depois, diz, foi-lhe entregue o BI com apenas dois nomes, sem o apelido Marceta. Em maio deste ano, a mais nova "sofreu a mesma pressão".
"Isso é chocante. É jogar a minha autoestima para o ar, porque desde criança éramos tratados com este nome, que até me identifica com outros familiares, para hoje ser cortado nos documentos", deplorou, assegurando não ter nenhuma ligação familiar com o líder da Renamo.
Em declarações hoje à Lusa, Natália Raul, chefe provincial dos Serviços de Identificação Civil de Manica, assegurou não ser possível "um erro desses", devido à complexidade dos procedimentos para a aquisição de um BI.
"Quando chega um pedido, passa pela triagem, depois, a compra e preenchimento do formulário e segue para o cadastro, onde será emitido o relatório que é assinado (pelo requerente) e termina na validação. Não vejo como teremos mandado forjar as certidões", disse Natália Raul, que garante nunca ter recebido uma reclamação do género.
Através dos nomes das "vítimas" no arquivo digital da instituição não foi possível apurar os dados sobre a "omissão e emissão" dos documentos, e não foi permitido o acesso ao arquivo manual, para comparar os dados dos documentos no arquivo.
"Não ocorreu e nunca poderia ter ocorrido um caso desses", insistiu Natália Raul, defendendo não haver na instituição "discriminação, racial, politica ou religiosa".
"Cabe-nos apenas atribuir documentos de identidade dentro dos requisitos estabelecidos pela lei", concluiu.
AYAC // APN
Lusa – 22.05.2013