O chinês retornado tem aval para dar uma bofetada a um moçambicano em plena Guerra Popular, avenida bastante movimentada da Cidade de Maputo, sem que o nacional riposte. Isto é neocolonialismo... xibalo. Porcaria !
A comitiva presidencial moçambicana acaba de terminar a sua visita a República Popular da China.
Muita cor, alegria e pompa, acompanharam o grupo àquele país asiático.
Normalmente, deste tipo de viagens não se regressa de mãos vazias.
São ene malas recheadas de coisas lindas até para a criançada lá de casa, anciosa em receber os tão aguardados presentes.
Há os presents para a esmagadora maioria dos moçambicanos, por se tratar de uma visita de Estado, habitualmente divulgados para o conhecimento geral, e há os que ficam no segredo dos deuses, proibidos de virem a público.
Aquí se incluem presentes particulares, aqueles oferecidos aos membros da delegação e os negociados em privado com as contra-parte do lado de lá do Oceano.
Se atentos ao facto de que Armando Guebuza está em fim de mandato, não admira que o homem tenha aproveitado a ocasião para angariar apoios pessoais – nada de mal existe nesse particular – se calhar para alimentar o eventual projecto da Fundação Armando Guebuza, para lá do mandato na Ponta Vermelha.
Voltando para os presentes que não convém virem a público, engraçado é o facto de, em Moçambique, as comitivas presidenciais, ou ministeriais, serem acompanhadas por homens da Comunicação Social criteriosamente eleitos a dedo, os quais têm a responsabilidade de trazer ao conhecimento dos moçambicanos e do mundo, pormenores da viagem presidencial ou ministerial.
O problema é que estes homens têm a logística, toda ela, paga pela delegação. Logo, estes colegas somente devem divulgar o que fôr do interesse de quem custea as despesas no estrangeiro, e cortar o que aquele disser. De contrário, na remessa seguinte fica vetado de acompanhar o presidente ou o ministro.
Isso só é possível num país onde os custos de se fazer comunicação social são extremamente elevados, como é o caso de Moçambique.
Como se isso não bastasse, em Moçambique a malta que costuma comprar jornais é uma minoria, enquanto a esmagadora maioria nem sequer sabe dos jornais…
Mas Moçambique tem uma outra coisa interessante, nesta matéria. É que os poucos que têm acesso à informação, têm o poder de decisão sobre os demais que acham não terem nada a ver com essa coisa de comunicação social. Daí as guerrilhas e as constantes jogatadas de influência aquí e acolá. Caramba!
Paradoxalmente, apesar de muito pouca gente ler os jornais, sempre que um chinês mija nos pés de um operário moçambicano quando este descanso após uma longa jornada de trabalho, a má notícia vem de imediato a público.
Do mesmo modo quando um chinês retornado dá uma bofetada a um moçambicano em plena Guerra Popular, avenida bastante movimentada da Cidade de Maputo, e o nacional rapidamente fica de olhos vermelhos, com as lágrimas a cairem pelas bochechas. Lágrimas de não poder ripostar, porque o chinês está superiormente protegido.
O chinês goza de um tratamento especial até no Aeroporto Internacional de Maputo, onde os funcionários são exemplarmente penalizados sempre que tentam resgatar um chinês mal documentado. Mas o mesmo já não acontece quando se trata de um queniano, português ou cidadão de um outro país que não seja China.
Esta dualidade de tratamento nos postos fronteiriços estende-se aos gabinetes ministeriais. Os ministros estão comprometidos com os chineses até às unhas.
Já não se aplicam penalizações contra os tipos idos da China, e os gajos …se acham donos disto.
Por isso não admira que nalguns círculos se diga, alto e em bom som, que a China virou o novo colono de Moçambique e do continente africano.
Guebuza desmente, apesar de se saber que as coisas andam mal com o irmão amarelo. Estámos tramados.
Salvador Raimundo
EZPRESSO – 23.05.2013