O antigo Governador do Banco de Moçambique, deputado, ministro e político moçambicano, Sérgio Vieira disse ontem em Maputo que o nosso País está brutalmente carente de recursos humanos qualificados, para fazerem face ao novo boom dos minérios pois, o sistema de educação que havia nascido das experiências das zonas libertadas depois de bem pressionado de fora, abandonou-se tudo e copiou-se mal o que esteve-se nos últimos anos a importar em termos de ensino- descontextualizando, deste modo as situações.
De acordo com Sérgio Vieira que falava ontem em Maputo na Conferência Internacional sobre Governação da Economia Extractiva, sob o lema «Recursos Naturais: benção ou Maldição, Libertar a Terra e os Homens», “lembram-se que quando os nossos estudantes saíam do país, todos elogiavam a sua qualidade na matemática, os nossos livros estavam bem avançados?” mas, hoje “tirou-se a nossa produção leterária do ensino, substituíndo-a pela portuguesa, ignirando a brasileira, angolana e cabo-verdiana”.
BOLONHA
Numa verdadeira lavagem de cérebro e promoção de ignorância, Sérgio Vieira referiu que “até conseguimos chegar a Bolonha correndo o que o estrangeirodiz, deitando fora o que sabíamos” e, hoje - o mais grave é que - “termina-se a sérima classe desconhecendo a tabuada e ignorantes da gramática e vai-se à faculdade em busca de um diploma para se ganhar algum”.
Para este político, a situação está tão grave que “os laboratórios e bibliotecas desapareceram das nossas escolas, conhece-se o microscópio por fotos e não se lê um livro, os preços tornaram-se proibitivos”.
Ademais, “fazem-se agrónomos que nunca estiveram por cima de um tractor, plantaram um grão ou uma planta de algodão, veterinários que jamais mugiram uma vaca ou criaram uma galinha”, sublinhou Sérgio Vieira, sublinhando que “geólogos, engenheiros de minas, engenheiros mecânicos, electrotécnicos tornaram-se fauna quase inexistente, tal como os quadros médios de construção, mecânica, electricidade e depois e apenas depois de entregarmos concessões mineiras lembramo-nos de formar os nossos quadros”.
COMPENSAÇÃO PARA DESLOCADOS
Este político faz um questionamento. O que se assegura como compensação às pessoas que se força a deslocarem-se e a reassentarem para que as transnacionais possam explorar os recursos e prosperarem?”.
Em jeito de resposta, Sérgio Vieira refere que “o que aconteceu em Benga e Cateme em Tete, o que está a eclodir em Palma e noutras partes onde se removem as populações e põe-se termos aos seus habitats normais, aos habitats, às suas actividades,acesso produtivas e de comércio, às relações com parentes e amigos, acesso aos locais onde faziam as suas compras? deslocam-se essas pessoas no seu interesse, para prevenir males maiores, porque onde vivem há propensão de secas, inundações, doenças?”.
“Movimenta-se pessoas como mercadorias e no mero interesse do chamado investidor”, disse Sérgio Vieira, para depois questionar: “o que lhes dá em troca? Uma cada a dezenas de quilómetros quando nunca pediram uma nova casa? uma machamba, quando já cultivaram uma? um local de pasto quando já pastoreavam?”.
Mais, “recebe o oleiro 60.000 Mt, menos que um mês do que custa um dos quadros estrangeiros”, diz o ex-governante, sublinhando que “num ano de trabalho não ganhavam eles mais do que esse valor? pagam-lhe descaradamente a prestações, o que ganha o investidor? dezenas ou centenas de milhões de dólares norte-americanos”.
No dizer do político Sérgio Vieira, “sem dúvida que estes valores nada compensam pelo ver-se deslocado para meia centena de quilómetros do lugar habitual e enfrentar muito mais altos custos para as suas deslocações” pois, fulano a pé estava a uma hora do hospital provincial e meia hora da capital do distriot, de bicicleta que já possuía, levava vinte minutos para Tete” e, a pergunta que se pode fazer é. “beneficiou em quê?”.
Narra Sérgio Vieira. Por outro lado, o sicrano “pescava, secava o peixe, vendia, fazia tijolo burro e havia compradores, a mulher na estrada vendia o peixe, tijolos, carvão e junto ao rio cultivava a sua horta” ... “escolas, hospitais estava tudo a dois passos “mas, “agora não pode pescar, impossível fazer uma horta, em Cateme não há água” e, “vive agora nas casas modelo Soweto do Apartheid, com janelas minúsculas, o chão ao nível da rua, quando chove entra água, sem casa de banho ou cozinha(...), sem tecto falso mas coberto de zinco, assando as pessoas no verão e as paredes rachadas”.
Em suma, “onde está a compensação, o benefício por entregar um terreno que produzirá muitas dezenas de milhões de dólares?”, questionou e, “quanto se paga na Austrália, nos Estados Unidos da América, nos países desenvolvidos quando se força uma pessoa a mudar de residência no interesse da empresa que deseja ocupar esse local?”e, para concluir que “o que diz a nossa legislação? Não deveria o Estado assumir-se como representante e porta-voz dos míseros, dos que se deseja reassentar? Não deverá a sua vida melhorar significativamente, receberem uma boa compensação para refazerem os seus destinos e construírem um novo futuro?”.
MEIO AMBIENTE
“Menciona-se que as explosões para minerar na Benga, em Tete aumentam as poeiras em Tete e afectam as vias respiratórias das pessoas”, enfatiza Vieira, acrescentando em jeito de ironia que “dizem habitualmente os tentenses que «a chuva de Tete é poeira», aparentemente aumentaram as chuvas, sabendo-se que Benga está a jusante da cidade e os vendos dominantes sempre vieram de lá para montante”.
Mais grave ainda, “a exploração faz-se em minas de céu aberto, cortaram-se árvores e eliminou-se a flora” e, Sérgio Vieira pergunta: “o que vai acontecer quando cessar a exploração?” mas depois vem a resposta: “ficaremos com os enormes buracos e eles com os lucros? Não vemos nos arredores de Joannesburg as imensas crateras herdadas das minas de Ouro? Hoje, fazem lá uns lagos artificiais e instalam-se condomínios à volta. Desejamos isso? Quem vai pagar?”.
“Que medidas prudenciais estão a ser implementadas para prevenir que estes desastres afectam as Quirimbas, a Costa de Cabo Delgado, de Sofala, as regiões de pesca no Centro e Norte do País e que dão sustento a milhares de famílias de pescadores? O que pode acontecer ao turismo com as águas e areias poluídas?”, disse.
CONCLUSÃO
“Estamos no limiar de um momento que pode tanto tornar-se um impulso para o progresso, como um passado para o abismo”, enfatizou Sérgio Vieira, para referir que “o nosso pensamento, a nossa discussão e negociação deve-se pautar e exclusivamente naquilo que a queremos obter para o nosso Povo e nosso Estado”, “o carvão, o gás, o ferro, as titânio-magnetites, a grafite, as areias pesadas e todos os minérios esperam no seio da terra há uns bons milhões de anos e não vão ou fugir a sete pés, escaírem-se no ar”, podem sim, desaparecer sem qualquer proveito para nós se não soubermos gerir os nossos interesses”, por fim, “há que estar consciente que as nossas riquezas naturais, no solo, no subsolo, nas águas, pertecem também aos nossos filhos, netos e às gerações vindouras”.
Ontem, na parte da manhã, Adriano Nuvunga, director da CIP e Jeremias Vunjane da ADRECU apresentaram as suas comunicações, enquanto a tarde coube ao economista Carlos Castel-Branco, investigador do IESE, Ana Anas, jornalista do Gana, Mutuso Dhliwawo, do Zimbabwe, Marcolino Mocô, jurista e antigo Primeiro-Ministro de Angola que hoje profere uma palesstra sob o lema:
Revisão da Constituição e Direitos Fundamentais: O Caso do Direito à Informação».(Victor Matsinhe)
VERTICAL – 23.05.2013