No que parece ser o reacender de tensão xenófoba que em 2008 forçou o regresso ao país de milhares de moçambicanos, grupos de imigrantes radicados nas áreas de Sebokeng e Organe Farm, mais de 40 quilómetros do centro de Joanesburgo, foram forçados, no passado fim-de-semana, a retirar-se dos seus locais de residência, pouco depois dos seus bens terem sido atacados e pilhados por sul-africanos.
Apesar de ainda não haver qualquer informação que aponte para o envolvimento de moçambicanos nestes incidentes, a área de Orange Farm acomoda milhares dos naturais de Moçambique.
A polícia de Gauteng, região que compreende Joanesburgo e Pretória, a capital politica sul-africana, revelou que os assaltos a estabelecimentos comerciais e ameaças contra estrangeiros começaram em Sebokeng, um bairro não muito distante a de Orange Farm.
Os assaltos, que lembram a xenofobia de 2008, tem como causa uma alegada competição desenfreada por recursos, nomeadamente a aquisição de casas (da RDP) construídas pelo governo sul-africano para as comunidades desfavorecidas e desenvolvimento de negócios naquelas áreas.
Os incidentes surgem numa altura em que Orange Farm foi, na última sexta-feira, palco de um protesto popular, organizado por uma nova forca politica, o Partido Socialista dos Trabalhadores (Wasp), em repúdio à uma proposta visando a remoção de casas ilegalmente contruídas naquele bairro.
A polícia disse que depois do protesto grupos de sul-africanos comecaram a assaltar e a pilharem “spazas” (barracas) de estrangeiros, forçando-os a retirar-se da área, sob risco de morte.
Os acontecimentos do último fim-de-semana são idênticos aos ocorridos em Fevereiro de 2010, quando crianças em idade escolar se envolveram em pilhagens de estabelecimentos comerciais na zona de Orange Farm, exigindo a melhoria da prestação de serviços.
O porta-voz da polícia de Gauteng, Tenetente Coronel, Lungelo Dlamini, confirmou a tensão, que começou com a realização de um protesto pela melhoria de serviços publicos nos arredores de Sebokeng.
Dlamini disse que os manifestantes bloquearam todas as vias que dao acesso a Evaton e Orange Farm, sublinhando que a polícia advertiu estrangeiros para que se retirassem da zona.
Momentos depois, segundo a mesma fonte, lojas de imigrantes foram assaltadas e pilhadas, e os seus proprietários forçados a pôr-se a fresco, estando neste momento acomodados numa esquadra policial.
Os incidentes são comparados à violência xenófoba de Abril e Maio de 2008, na qual foram mortos mais de 60 imigrantes, maioritariamente moçambicanos e zimbabweanos, acusados de roubarem empregos e mulheres e semeram crime no país.
Informações a circular em Sebokeng e Orange Farm sugerem que os assaltos tiveram como causa a morte de um sul-africano cometida por um paquistanês suspeito.
Dlamini distanciou-se da alegação, afirmando que a sua corporação não tem informação indiciando o envolvimento de paquistaneses num caso de morte de um sul-africano.
Sebokeng e Orange Farm foram criados pelo abolido regime do aparrheid, no âmbito da sua política de estabelecer áreas para vítimas da remoção forçada.
Hoje em dia, muitos dos residentes continuam sem casas e há alegações de que são exigidos por funcionários desonestos a compararem casas construídas pelo governo.
Vendo-se “agastados” por esta situação, os locais saíram à rua, em repúdio contra funcionários corruptos.
Entretanto, aproveitando-se da situação, a líder da Aliança Democrática (DA), principal partido da oposição na África do Sul, Helen Zille, visitou a área de Orange Farm, tendo prometido implementar o subsídio para a população junveil se aquela formação política for eleita em 2014.
O Partido Socialista dos Trabalhadores, que não acredita que a situação seja o reacender da violência de 2008, considera que os incidentes do fim-de-semana são uma indicação de que Orange Farm está sob tensão xenófoba.
Disse que a questão relacionada com as casas do RDP ocupadas por estrangeiros, apesar de os locais estarem na lista de espera por vários anos, vai animar a frágil acomodação entre sul-africanos e os imigrantes.
Apesar daquela formação política tentar “fugir com siringa no rabo”, informações apontam que pelo menos 120 estrangeiros foram mortos e feridos outros 250, o ano passado, em ataques que tiveram como epicentro a região de Gauteng.
Em 2012, grupos de sul-africanos ameaçaram indianos sul-africanos, chamando-os “makwerekwere”, termo pejorativo usado para africanos, sobretudo moçambicanos, numa alusão a falantes da língua portuguesa (quero quero).
Em 2011, outros 140 imigranrtes foram mortos em incidents idênticos. Cinco deles foram mortos a queima roupa. As mesmas informações referem que, este ano, ocorrem três incidentes semanais contra imigrantes.
A violência, mais confinada a Gauteng e Cabo Ocidental, tende a estender-se para outras regiões sul-africanas.
RM/AIM – 27.05.2013