A morte de civis, baleados num autocarro na estrada nacional 1, a deslocação de viaturas em coluna, vigiadas por militares armados, e a capital invadida por rumores - até parece que o passado chegou hoje, com o inverno, a Moçambique.
Nos 16 anos de guerra civil, entre 1976 e 1992, era assim que circulava o trânsito fora das cidades moçambicanas e era assim que eram abatidos os civis, num ciclo vicioso de amedrontamento da população, do qual nenhuma das forças foi inocente.
Agora, em dois dias, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) conseguiu cumprir a ameaça de desestabilizar a circulação no centro do país, atacando autocarros e viaturas, com um saldo de três mortos e vários feridos.
E de nada valeu à polícia de Moçambique ter ido buscar, na manhã de sexta-feira, à sua residência, na avenida Patrice Lumumba, em Maputo, o brigadeiro da Renamo que fez a ameaça de cortar o país ao meio.
A ameaça de Jerónimo Malagueta, que continua detido, cumpriu-se em parte e, entre o rio Save e o Parque Nacional da Gorongosa, a circulação no principal eixo rodoviário do país tornou-se uma arriscada lotaria.
Com isto, a Renamo demonstrou ser mais eficaz nas emboscadas armadas do que na organização de manifestações nacionais "para correr o governo da Frelimo", como Afonso Dhlakama promete inutilmente desde 2011.
Apesar do sangue que correu, e do clima de grande tensão que se vive no principal cruzamento do país - que distribui o trânsito para norte, centro e sul - o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, continua em presidência aberta na província do Niassa, a mais de mil quilómetros do conflito.
E em Maputo, capital sacudida por todos os boatos, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) que hasteou a bandeira da independência em 25 de junho de 1975 e nunca mais abandonou o poder, convocou uma manifestação no sábado contra a Renamo - enquanto o seu governo promete continuar a negociar com o partido da oposição, na segunda-feira.