Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
País já está farto de discursos circunstanciais e de conveniência duvidosa
“Papos quase eles todos furados” e que não “enchem a cova de um dente” são o que os moçambicanos menos querem e necessitam neste momento. Ninguém come discurso por mais belas que sejam as palavras pronunciadas pelos mais brilhantes escribas ao serviço deste ou daquele partido.
A indigência generalizada e as condições sub-humanas em que vivem milhões de moçambicanos significam que os programas governamentais estão a falhar. E todos concordam que “contra factos não há argumentos” que sejam válidos.
Não se pode continuar a promover dualidade de critérios na análise de acontecimentos como mortes por violência politicamente motivada em Moçambique.
Precisa ser descoberto que sem reconciliação genuína, aceite pela maioria dos moçambicanos, continuaremos a ser confrontados por uma “Unidade Nacional” que muito pouco tem de nacional. Expedientes e malabarismos engendrados por políticos não significam necessariamente que tenham que ser aceites.
Reconhecer que estamos numa encruzilhada importante com contornos que se podem tornar de graves consequências é um primeiro passo no caminho da concórdia.
Empurrar os outros contra a parede e aproveitar as posições de estado para excluir os outros da arena política nacional não é declaradamente o caminho a seguir.
Por vezes os pronunciamentos de gente com responsabilidades histórica deixa muito a desejar em Moçambique. Alguém pode mesmo explicar o que significa ou o que se pretende com a suposta necessidade de “amaciamento” do coração de AMMD? Estes doutores honoris causa cada vez surpreendem mais. Governar não se pode basear em adiamento de soluções óbvias com o intuito de assegurar vantagens. Este truque ou golpe que terá sido aplicado em Gaborone, Botswana, por JAC, conforme lhe é atribuído, tem pouca duração como se pode verificar.
A situação actual resulta da incapacidade de abordar com frontalidade e finalidade os problemas por todos conhecidos.
Senhores políticos, no activo e na reforma, em banho-maria e outros que se intitulam de tal, parem um pouco e reflictam sobre o que realmente são os problemas que o país e os moçambicanos vivem e sentem. Não se escusem de revisitar o que sabem de fonte limpa ser aquilo que realmente nos separa e divide de maneira activa.
Já não é sem tempo que os moçambicanos descubram que a reconciliação começa por nos reconhecermos iguais em deveres e em direitos. A via de ignorar-se o outro, a história do outro, a corrida para a catalogação e mesmo o insulto barato daqueles que outros têm por familiares e seus heróis é um conjunto de comportamentos que atentam efectivamente contra a concórdia e desanuviamento do ambiente político.
É extremamente ilusório ignorar sentimentos, sensibilidade e posições dos outros. Ao longo de todo o processo pós-independência verificou-se o estabelecimento de oligarquias ou de famílias especiais, de gente de primeira classe e de todo um resto da população senão mesmo gentalha. Quem não se lembra das lojas dos dirigentes e das lojas do povo? O tratamento diferenciado
que mereciam e recebiam os diri gentes terá produzido alguns efeitos que psicólogos podem aferir com melhor propriedade. O ego de muita gente subiu a cabeça e com as posições de poder que detinham reescreveram a história de Moçambique conforme lhes convinha. Colocar companheiros de jornada na caixa de lixo foi feito rapidamente e daí os livros de ensino primário passaram a rezar que se tratavam de reaccionários e contra-revolucionários.
Tudo o que acontece hoje retira a razão aos que se pretendiam puros e revolucionários ontem. É na esteira de todo um pacote de mentiras oficiais que se desnaturou uma convivência política que era possível e ainda o é. Instalou-se um regime baseado na falsificação, na fraude, sustentado por toda uma máquina eleitoral e judicial favorável. Quem analisa friamente os desenvolvimentos políticos, só pode concluir que ingenuamente ou a propósito muitos dirigentes do pós--independências caíram nas malhas da confrontação Leste-Oeste e acabaram servindo agendas exógenas.
Os focos de resistências das forças apoiantes dos regimes racistas e minoritários foram um factor sabiamente aproveitado por estrategas afectos a Moscovo para radicalizar os processos políticos em Moçambique.
Jogos internos de poder e pelo poder serviram de cavalos de batalha para tornar camaradas em inimigos e ditaram-se sentenças de morte nessa base.
Passados alguns anos, somos obrigados a viver a ausência completa de ideologias que surgiram importadas e adoptadas como sendo a fórmula mágica condutora para a criação do antes chamado “homem novo”.
O tempo de reconhecimento de erros de percurso, de abraço de uma moçambicanidade que inclua.
Há que ver políticos se desculpando e isso deve ser feito por todos, pois as guerras em que andaram envolvidos tiveram como resultado vítimas inocentes.
“Quem atira primeira pedra” deveria ter a certeza de que é puro e irrepreensível mas como sabemos esse não é o caso.
Abandonemos retórica e demagogia que já se descobriu ser enfadonha e material pestilento para abraçarmos a causa nacional de paz, integridade, progresso, desenvolvimento inclusivo e dignidade humana. O resto não conta.
Respeitemos a história e respeitemos os direitos dos outros...
Pode-se enganar um povo algumas vezes mas não sempre, como disse Bob Marley... (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 28.06.2013