CANAL DE OPINIÃO por Noé Nhantumbo
Uma contemporização estratégica jogando em defesa do status?
Mas a situação real radicaliza-se a olhos vistos…
Para alguns mesmo com conhecimento profundo da situação tudo está sendo descontado a favor do status actual.
O PR reuniu seus conselheiros e estes não foram para além de aconselhar o que este queria ouvir e vem fazendo. Nenhuma novidade transparece do que teriam discutido e dos conselhos efectivamente transmitidos ao PR.
Já havia sido dito que um Conselho de Anciãos da Frelimo dificilmente tocaria alguma música que desagradasse ao PR.
Enquanto de um lado tudo se faz para ignorar clivagens, a radicalização de posições, a situação evolui mesmo por inércia. “Quem semeia ventos colhe tempestades”.
Como que dando seguimento e progressão de suas posições, o presidente da Renamo reunido em Conselho Nacional de seu partido, na serra da Gorongosa, aparece afirmando que a situação poderá evoluir para cenários bem diferentes do que se pensa e propala em Maputo.
Agora emerge e é referido na comunicação social que se poderá “sudanizar Moçambique”.
Já não se fala de possibilidade do federalismo se tornar realidade mas de um desmembramento do país tal como o conhecemos.
O que de verdade possa estar nos discursos é discutível e sujeito a diversas interpretações.
Mas realisticamente falando e tendo em conta a situação real do país, sua geografia, a capacidade real das forças armadas e policiais sob comando governamental e nesse sentido da Frelimo, o grau de coordenação e eficácia das mesmas, um mau momento político e económico do principal parceiro estrangeiro militar do passado, Zimbabwe e Robert Mugabe, desinteligências notáveis no seio da SADC, o governo da Frelimo não poderá resistir ou enfrentar com sucesso um movimento tendente a provocar a secessão em Moçambique.
O Conselho de Estado reunido em Maputo parece que se esqueceu que cada vez mais moçambicanos repudiam uma “Unidade Nacional” que não garante igualdade no tratamento. Uma
“Unidade Nacional” que não respeita os pontos de vista dos outros, que resiste a adopção de conceitos que contribuam para eliminar as assimetrias no desenvolvimento nacional, que se resume a proclamação mediática de uma ideia suspeita sempre que se procure sua comprovação.
Menosprezar a capacidade dos outros foi um erro cometido no passado e disso tivemos consequências, uma guerra civil que durou 16 anos.
Quando a confrontação é entre os que tudo possuem e os que nada tem a perder as coisas complicam-se e podem tomar rumos imprevistos.
Não queremos antever cenários dantescos mas é obvio que estes são uma possibilidade bem real.
A recente corrida armamentista do governo não confere qualquer grau de tranquilidade pois não foi acompanhado de uma formação em qualidade de seus efectivos militares. Uma polícia anti-motim não é um corpo especializado que possa conter acções de guerrilha disseminadas por um vasto território desconhecido.
Um largo período de tempo disponível não foi utilizado para construir uma moçambicanidade que fosse capaz de repelir com vigor manifestações separatistas.
Propaganda política sustentada na defesa da divisão do país facilmente encontrará eco em sectores descontentes de uma larga maioria.
Aquilo que se poderia chave para alavancar o desenvolvimento económico e social do país, os recursos minerais, pode constituir a chave ou pedra de toque num movimento que pretenda o controlo de tais recursos.
Infelizmente somos confrontados com um situação em que pessoas com oportunidade de influenciar acontecimentos acabam por decidir que “dançar a música que o chefe manda tocar” é mais seguro e saudável. Esse é o Conselho de Estado que aconteceu em Maputo.
Aquele diálogo de “mudos e surdos” como alguém já apelidou, sofre da ausência de vontade clara entre as partes. Lançam-se num jogo cerrado de protecção de supostas vantagens, apresentando pré-condições inibidoras de diálogo franco e aberto. Obviamente que assim não haverá resultados consensuais. Aquele espírito enganador que norteou negociações, como se pode depreender agora, face aos esclarecimentos de Joaquim Chissano em torno do desfecho e assinatura do AGP, prevalece.
Alguém continua a entender que é mais moçambicano que outro, com mais direitos, com primazia e com autoridade de decidir unilateralmente.
Convém que não se perca tempo e se tenha a sensatez de que a colheita política no país será aquilo que os detentores do poder quiserem.
Sem ultimatos e nem arrogância é possível que se encontre uma solução que para todos efeitos está bem próxima.
Afinal há um consenso mínimo sobre a razão de ser de algumas reivindicações apresentadas no diálogo entre o governo da Frelimo e a Renamo. Porque não capitalizar isso ao invés de descobrir pré-condições a cada passo e sempre que se vislumbra luz no fundo do túnel?
É tempo de se abdicar de pretensiosismo e encarar o assunto Moçambique com olhos de ver pois a questão não se resume a aquisição de vantagens ou de contrapartidas privadas e individuais.
Com consequência e coragem é possível reverter um quadro perigoso e promover-se uma confiança entre as partes que nos traga paz e estabilidade.
Os moçambicanos estão claros quanto ao que querem, paz e desenvolvimento, dignidade e respeito pelos seus direitos. Travar a impunidade judicial, promover a tolerância, combater a fraude e vantagens antecipadas, nivelamento do campo de actuação política, paridade efectiva nos órgãos que organizam os pleitos eleitorais enquanto se evolui para a sua profissionalização no quadro de um aparelho de estado apartidário. Construir um verdadeiro exército nacional apartidário e credível, promover a transformação da PRM em polícia efectivamente nacional e não um corpo ao serviço da Frelimo.
Trazer transparência para a preocupante área dos recursos naturais nomeadamente minerais, “desamarrar os cabritos amarrados na coisa pública”. Nada disto é assim tão complicado se houver vontade política… (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 31.07.2013