O governo do Malawi disse hoje que está a analisar cuidadosamente as declarações do Presidente tanzaniano Jakaya kikwete segundo as quais as forças armadas da Tanzania estão prontas para proteger o seu país de qualquer ameaça estrangeira contra o seu território.
Naquilo que é interpretado no Malawi como uma ameaça de guerra devido a disputa do lago Niassa, o governo de Lilongwe afirmou estar atento a evolução da situação, e prometeu reagir depois de receber mais detalhes do seu Alto-Comissário em Dar-Es-Salam.
O presidente Jakaya Kikwete disse ontem durante uma cerimónia em homenagem aos combatentes da liberdade que a Tanzania não vai vacilar perante qualquer ameaça estrangeira, sem contudo se referir directamente ao Malawi.
No entanto, a declaração de Kikwete é considerada como um sinal de endurecimento da posição dos tanzanianos em relação ao lago Niassa.
O estadista tanzaniano declarou ”Qualquer um que provocar o nosso país vai sofrer consequências… o nosso país está seguro e o exército está forte e preparado para defender o nosso país”.
Kikwete acrescentou que Tanzania não vai tolerar nenhuma confusão ou tentativa de usurpação do seu território, recordando que os tanzanianos estão prontos para lidar com qualquer cenário, tal como fizeram com o antigo ditador do Uganda, Idi Amin.
O exército tanzaniano ajudou no derrube de Idi Amin em 1979, depois do seu regime ter invadido algumas partes da Tanzania.
Abordado hoje pela imprensa, o ministro malawiano dos negócios estrangeiros e cooperação internacional, Ephraim Chiume, disse estar a espera de uma comunicação formal do seu Alto-Comissário na Tanzania.
As declarações de Jakaya Kikwete surgem depois da presidente Joyce Banda ter dado três meses ao fórum dos antigos chefes de estado da Sadc para ajudar na solução do conflito fronteiriço entre o Malawi e a Tanzania em torno do Lago Niassa.
Na mesma ocasião, Banda avisou que se até trinta de Setembro, os dois países falharem um acordo sobre o lago Niassa, o assunto vai ao tribunal internacional de Justiça.
Na audiência concedida na capital malawiana, Banda disse ao antigo presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, que já não há mais tempo a perder, e declarou que a mediação da Sadc deverá fechar o dossier o mais rápido possível.
Chissano é o mediador-chefe da Sadc para a crise fronteiriça entre o Malawi e a Tanzania em torno do lago Niassa, e há dias esteve em Lilongwe acompanhado pelo antigo estadista sul-africano, Thabo Mbeki, para informar a presidente Banda sobre o trabalho realizado pela mediação regional para a solução pacífica do diferendo.
Parecendo antever o fracasso da mediação regional, como já se especula no Malawi, a presidente Joyce Banda disse que não aceita um acordo interino sobre o Lago Niassa, até que o diferendo seja resolvido em definitivo.
Previa-se que Chissano se reunisse esta semana com as autoridades tanzanianas no âmbito da mediação do diferendo fronteiriço.
O Malawi localiza-se a oeste do lago Niassa e reivindica toda a fronteira nortenha, enquanto a Tanzania, a leste, diz que possui metade da área norte. A parte sul é partilhada por Moçambique e Malawi.
Depois de várias rondas negociais, o Malawi e a Tanzania não chegaram a nenhum entendimento sobre o assunto e o governo de Lilongwe acabou por se retirar do diálogo em Outubro do ano passando, alegando que os tanzanianos estavam a intimidar os pescadores malawianos no Lago Niassa.
Com Faustino Igreja, em Blantyre
RM – 26.07.2013