Na “Capoeira”, há muita coisa séria, pouca coisa duvidosa, por isso, os assíduos frequentadores fizeram o grupo que fizeram, de forma quase inconsciente, mas depois descobriram-se sérios demais.
É lá onde se assistem os grandes derbys de futebol internacional e se entra em “coma” quando o campeonato português entra na recta final, quando o espanhol admite dúvidas e quando o inglês mostra sinais evidentes de uma derrocada. Há muitos “doentes” por estas equipas. Mas todos que ali frequentam, devem primeiro ver ao de longe, uma citação em letras garrafais, mesmo ao lado da porta por onde saem ou entram as bebidas e comidas. É do régulo Mataca, segundo está ali patente: Se queres viver como rei, trabalha como escravo.
O Dr. Alfredo, então, esqueceu-se que, bastas vezes, quando falávamos de futebol dizíamos que um dia, um ministro de cultura, num comício popular dirigido pelo Presidente da República, ao ser apresentado, procurou palavras que aproximassem o povo, na sua língua, ao que o seu ministério fazia: passeou por todo o seu léxico bantu e acabou nesta: que era ministro das brincadeiras!
Brincadeiras é como a mentalidade de muitos encaram a cultura e o desporto, infelizmente! Neste grupo de muitos temos dirigentes. Até tínhamos chegado à concussão do porquê da nossa má prestação, por exemplo, no futebol, pelo menos africano. Brinca-se muito! São brincadeiras que resvalam na corrupção, até chegar-se ao estágio em que os “Mambas” se parecem mais com minhocas, segundo dizem os moçambicanos.
Mesmo assim, o Dr. Alfredo decidiu, fora do grupo, abraçar o dirigismo, ao ir desencantar um grande e histórico clube de Pemba, o Desportivo, aceitando ser o seu presidente. Imediatamente, comentamos: como uma pessoa séria vai-se entregar a brincadeiras!..
Na verdade, em pouco tempo, o Desportivo emergiu, com uma força e quem não queria brincar, que lhe vale hoje ser o clube mais completo de Cabo Delgado: movimentando andebol, futebol federado para juniores e seniores, feminino, indo buscar Ana Pedro Joaquim, em Mueda, para correr e ganhar provas nacionais de que é a indubitável campeã de Moçambique, na sua categoria, encontrando parceiras, igualmente sérias…
O Desportivo de repente passou a ser o clube onde não se chora por causa de prémios de jogo e quejandos, onde se pode mudar o equipamento mandado produzir exclusivamente para si. Logo no primeiro ano da direcção do senhor professor, o Desportivo decide representar a província no campeonato nacional de juniores que teve lugar na Beira e fê-lo com dignidade.
Este ano (ainda o Dr. Alfredo não se lembrava das nossas conversas…) oferece-se, mais uma vez, a levar os miúdos a Maputo, onde desta vez decorreria o campeonato nacional. Estava a responder a um comunicado da Federação Moçambicana de Futebol (órgão máximo da modalidade, da nossa Pátria Amada). E, seriamente responde, informando que estaria presente, nas datas previstas (de 19 a 27 de Julho, hoje).
Bate todos os buracos, em forma de portas, que pareciam pertencer a gente humilde, gente de bem, gente com ideias, gente que entende… e conseguiu o patrocínio para levar os meninos à Maputo. Quer dizer, a fazer ver Moçambique, do Rovuma a Maputo, na verdade uma viagem muito cara, tendo em conta o outro preço psicológico que dá pelo nome de Muxúnguè.
Andando pelos lados da Manhiça (cerca de 75 quilómetros da capital nacional) e porque queriam saber quem os iria receber, ouvem esta: está adiado. Era véspera do início da prova. O Dr. Alfredo, a partir de Pemba, não quis crer, mas nós, os seus mais próximos, consolamo-lo dizendo que “aqueles são brincalhões, quem dirige brincadeira é brincalhão”.
Afinal, esquecera-se do que dizíamos antes de ser presidente da direcção do Desportivo de Pemba ou pensava que dizíamos por dizer. Esperemos que não brinquem ao abordarem os prejuízos decorrentes da viagem a Maputo em vão, levando inclusive jogadores que, sendo do mesmo escalão, participam, cá em casa, no “provincial” e o respectivo treinador. E a equipa apanhou 5-1, na mesma altura em que os outros estavam a regressar de mãos cheias de nada. Brincadeira!
- Pedro Nacuo