MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça
Olá Júlio
Como vai a tua saúde? Do meu lado está tudo normal, felizmente.
Mas já o mesmo não se pode dizer desta nossa sociedade. Vê lá se te parecem normais estas histórias, que te vou contar:
Há talvez uma semana um homem foi detido.
Tinha sido filmado por uma câmara de vigilância a roubar produtos num supermercado.. Só que, quando foi identificado, se descobriu que era o comandante da Polícia de Investigação Criminal em Inhambane.
Agora é o Director da Cadeia Provincial de Cabo Delgado que é constituído arguido do crime de desvio de fundos.
Na área do desporto chega-nos a informação de que o tesoureiro do Grupo Desportivo, de Maputo, roubou também uma quantia avultada ao clube.
E podia ficar para aqui a contar muitos mais episódios parecidos com estes...
Como é que deixámos a nossa sociedade chegar a este estado de imoralidade?
Quando um responsável provincial do combate ao crime é apanhado a roubar, em quem é que nós podemos confiar?
Quando o director provincial de serviços onde se deveriam regenerar criminosos se aproveita do seu cargo para desviar fundos do Estado, que lhe foram entregues para gerir a rede de cadeias da província, onde, inclusivamente, muitos detidos morreram à fome, o que é que isto significa?
Antigamente dizia-se que o desporto era uma escola de virtudes. Mas hoje temos o tesoureiro de um clube histórico do nosso país a roubar o dinheiro que lhe foi confiado pela colectividade.
Tudo isto, Júlio, significa o desmoronar dos valores morais da sociedade. Significa que se está a entregar a bandidos tarefas que, antigamente, só eram desempenhadas por cidadãos acima de qualquer suspeita.
E o número de casos é tão grande que se pode dizer que a doença já está espalhada, contaminando todas as camadas, chegando a todo o lado.
Onde foi parar o Homem Novo com que sonhou Samora? Será ele que anda por aí, de armas na mão a cometer assaltos?
Como foi possível o nosso país desviar-se tanto do caminho traçado quando nos tornámos independentes?
São muitas as perguntas sem resposta. E a situação não parece estar a melhorar, antes pelo contrário.
Um abraço para ti, do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 26.07.2013