Foram muitas as pessoas que dirigiram-se logo as primeiras horas da manhã de ontem, aos postos de inscrição , para se registarem e assim ganharem o direito de votar nas quartas eleições locais.
O “Noticias” escalou alguns locais de registo nas cidades de Maputo e Matola e confirmou “in loco” que parte significativa dos eleitores efectivamente deixou para o último dia a sua inscrição.
Aliás, os primeiros sinais de enchentes que iriam acontecer no último dia do censo eleitoral começaram a ser desenhados no último fim-de-semana, quando muitos potenciais eleitores “decidiram” aproximar-se dos postos de inscrição.
Como fomos confirmando, neste espaço de tempo as brigadas de censo começaram a receber um número considerável de cidadãos, numa média diária de 100 a 120 pessoas. Estes números reflectem a adesão acontecida na sexta-feira.
Estas cifras foram gradualmente subindo. No sábado, as cifras, segundo apuramos, subiram para 150/180 por cada computador de registo, pelo menos nas zonas suburbanas das cidades de Maputo e Matola.
A tendência se manteve no domingo, tendo atingido o pico na segunda e ontem, onde, por exemplo, na Escola Primária Completa Gungunhana, na Cidade da Matola, cada máquina de registo ali em serviço inscreveu mais de 180 eleitores.
Neste posto testemunhamos uma enchente que, segundo os brigadistas ali em serviço, nunca tinha sido vista antes. Mais de cem pessoas compunham a fila que se via num dos corredores daquele estabelecimento de ensino primário.
A fila, começou a formar-se por volta das sete horas, meia hora antes da abertura do posto. As primeiras pessoas a serem atendidas constituíam “as sobras” do dia anterior, por isso, apresentavam senhas que lhes foram atribuídas no intuito de se prosseguir com a ordem já constituída.
Lurdes Jorge, supervisora desta brigada, referiu que na segunda-feira o trabalho da sua equipa se prolongou até às 19 horas, uma actividade que iniciou por volta das sete e trinta da manha. “Portanto, trabalhamos cerca de doze horas sem interrupção e hoje (ontem) teremos de fazer a mesma coisa. Vamos trabalhar até o último eleitor ser registado”, disse, acrescentando que essa é a orientação que a direcção do Secretariado Técnico da Cidade da Matola deixou aos brigadistas.
Jorge afirmou ainda que o processo estava a decorrer sem sobressaltos.
Uma enorme fila, com mais de 90 pessoas, foi o cenário que encontramos na Escola Primária Completa da Matola D. Organizada através dos bancos de escola, homens, mulheres e jovens aguardavam a sua vez de recensear.
Odete Alfredo, supervisora, disse-nos que a sua brigada estava preparada para trabalhar “até ao último cidadão a registar-se. Para tal, não interessa a hora em que formos a terminar o trabalho”.
Reservar último dia para recensear
Cidadãos abordados ontem pelo “Notícias” disseram que reservaram o dia de ontem para se recensear “custe o que custar”.
Biote Alberto, de 27 anos, desempregada, abordada na Escola Primária Completa da Matola D, explicou-nos que só se recenseou ontem porque esteve a participar numa formação fora do país.
Acrescentou que recensear é um dever que lhe irá garantir o exercício de um direito, o de eleger e ser eleita. “Quero participar activamente no processo eleitoral e para tal tenho de me recensear. Não sairei daqui antes de me inscrever”, sublinhou.
Por seu turno, Gustavo Francisco, 43 anos, agente de segurança, afirmou que apenas ontem conseguiu “arranjar tempo” para se recensear.
“Sou agente numa empresa de segurança e para nós é difícil arranjar tempo para qualquer a fazer fora do trabalho. Hoje tive de pedir a minha mulher para “madrugar” e deslocar-se ao posto afim de aguardar na fila para nos recensearmos”, contou.
Francisco mostrou-se satisfeito pelo facto de a fila, apesar de enorme, estar ordeira.
Marindela Lina, 20 anos, estudante, afirmou, por sua vez, que só ontem foi recensear porque “todos os dias eu ia adiando para o dia seguinte”.

Inscrever o maior número possível
Os órgãos eleitorais, de acordo com o Director-geral do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral, Felisberto Naife, esperam atingir o máximo de eleitores possíveis.
Segundo disse, até ao final de segunda-feira haviam sido inscritos, nas 53 autarquias nacionais, 2.919.445 eleitores, o correspondente a 81,20 por cento do universo estimado em 3 598 003 eleitores.
“A nossa preocupação é atingir o máximo de eleitores possíveis de modo a confortarmo-nos com os patrões internacionais. Claro que a nossa meta é cem por cento. Os 75 por cento que em determinado momento chegamos a projectar enquadram-se no mínimo internacionalmente aceite para este tipo de operações”, explicou.
O recenseamento eleitoral teve início no passado dia 25 de Maio. Nesta operação preparatória para as IV eleições autárquicas nacionais, os órgãos eleitorais projectaram inscrever pouco mais de três milhões e meio de potenciais eleitores.
De recordar que as eleições municipais terão lugar em 53 autarquias de cidade e vilas existentes no território nacional.
Atraso e justificações na cidade da Beira
O ATRASO devido ao hábito de deixar tudo para a última hora e as justificações variadas marcaram o último dia do censo eleitoral na cidade da Beira, em Sofala. Entretanto, conforme constatamos em diversas brigadas, longas filas marcaram o cenário desde as primeiras horas da manhã, obrigando a que os brigadistas redobrassem esforços de modo a corresponder a avalanche dos potenciais eleitores.
Nas escolas primárias completas de Esturro, Munhava Central, Matacuane e Pioneiros nos bairros com os mesmos nomes, bem como na EPC Agostinho Neto, na baixa da cidade da Beira, alguns eleitores que estavam a espera da sua vez para o registo, alegaram que só ontem podiam registar-se alegando razoes que vão desde ocupações profissionais, doenças, deslocações entre outras.
“Tinha viajado, mas estou aqui para recensear para que possa exercer o meu direito cívico” justifico, António Cabral, residente no bairro do Esturro.
Por seu lado, Luís Bangue, morador da zona de Massamba, igualmente no bairro do Esturro, justificou que iria inscrever-se só ontem devido a problemas de saúde.
Enquanto isto, Margarida Vitória, vendedeira ambulante e residente no bairro de Matacuane, justificou a demora pelo facto de se ter deslocado para fora do país para fins comerciais. Disse que sempre se recenseou e votou mas, tal como justificou, desta vez as coisas saíram mal devido aos afazeres do quotidiano da sua actividade.
Por seu turno, alguns brigadistas e supervisores contactados pelo nosso Jornal naqueles bairros, mostraram-se bastante motivados e ansiosos em atender todos os eleitores que acorreriam aos postos onde estavam afectos.
“Estamos cientes das dificuldades mas vamos atender as pessoas que estiverem aqui até ao último eleitor que aparecer”.