MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça
Bom dia Lucas
Como te corre a vida, amigo? Do meu lado as coisas vão andando de forma normal.
Imagino que estejas satisfeito com as notícias que estão a chegar dos lados do Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano. De resto estamos todos nós também satisfeitos.
Mas, como sei que tu és obrigado, devido à tua profissão, a percorrer frequentemente a Estrada Nacional n.º 1, imagino que a perspectiva de tudo voltar à normalidade te esteja a animar. Dizem-me que as colunas de viaturas, com protecção militar e policial, chegavam a incluir cerca de mil veículos e calculo que viajar nessas condições deve ser um inferno. Além do mais correndo o risco de uma bala perdida fazer a viagem, e a vida, acabarem de repente.
Saudemos, pois, as perspectivas do fim de uma situação que, na minha opinião, pura e simplesmente podia, e devia, ter sido evitada.
Há quase um ano que o Governo vinha sendo avisado de que, se continuasse, teimosamente, pelo mesmo caminho, essa inflexibilidade teria as consequências que acabou por ter, de facto.
Os observadores e comentadores, que não são pagos a partir da Pereira do Lago, alertaram repetidamente para a impaciência crescente dos generais da Renamo perante a falta de resultados nos esforços políticos para salvaguardar aspectos que esses generais acreditam fundamentais para um correcto funcionamento da nossa peculiar democracia. Impaciência que se foi transformando, gradual mas rapidamente, em ameaças, primeiro veladas mas depois bem claras, de recurso à violência, se a política não conseguisse resultados.
Só que o Governo, e o partido que o suporta, confiantes numa aparente superioridade militar, foram deixando esticar a corda até ela acabar por se partir. E aí começámos a ver, nós povo e eles governantes, que a tal superioridade era muito mais teórica do que real. Que, apesar de um acumular de meios humanos e materiais na principal zona de conflito, sempre que surgiu faísca se chamuscaram muito mais os governamentais do que os do outro lado. E creio que isso terá sido determinante num repensar da estratégia a seguir.
Veremos o que se segue e esperemos que o bom senso prevaleça. Dos dois lados do conflito. Para que não voltem a morrer inocentes, não volte a haver destruição de bens civis e para que tu, e todos os outros moçambicanos, possam, de novo, percorrer as nossas estradas sem longas colunas militares e sem riscos para a sua segurança.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ - 19.07.2013