Centenas de "cidadãos repórteres" vão monitorizar o próximo ciclo eleitoral moçambicano, que arranca em novembro com eleições autárquicas, através de uma plataforma digital gerida pelo semanário "@Verdade", que procura garantir "uma maior cobertura" informativa do processo. Os telemóveis e as redes sociais serão os principais veículos de comunicação dos cidadãos repórteres do jornal moçambicano "@Verdade", editado em Maputo e de distribuição gratuita, num projeto inédito em Moçambique, testado ao longo do processo de recenseamento eleitoral do país, que terminou na última semana.
"Decidimos utilizar a nossa habilidade para usar as ferramentas de tecnologia que existem para tentarmos ter uma maior cobertura territorial do país, que é muito grande", avançou à agência Lusa o director do semanário, Adérito Caldeira. Durante o recenseamento eleitoral, que as autoridades moçambicanas afirmam ter tido uma adesão de 85% dos eleitores previstos, os objetivos da iniciativa passavam por verificar se "os postos estavam a funcionar, em termos de abertura e de equipamentos", e se a inscrição era "fácil". Ao longo deste período, o jornal recebeu informações de cerca de 300 "cidadãos repórteres", que, diariamente, enviavam, via telemóvel, uma média de 500 mensagens escritas, sendo que o número de comunicações feitas através de redes sociais rondava uma centena.
Utilizando a plataforma digital "Citizen Desk", que permite que órgãos de comunicação social recolham e divulguem dados de jornalistas cidadãos, o semanário estabeleceu parcerias com as organizações moçambicanas Centro de Integridade Pública (CPI) - que tinha no terreno 268 observadores eleitorais formados - e Observatório Eleitoral.
"Quando nós temos um problema em determinado posto reportado pelo cidadão, nós tentamos fazer um ciclo em que o observador pode ir ao terreno - e, às vezes, ele está ali ao lado - e tentar saber o que aconteceu", explicou o responsável, garantindo a fiabilidade das informações avançadas pelos jornalistas cidadãos.
Sobre a importância deste tipo de fonte informativa em Moçambique, Adérito Caldeira diz que os cidadãos repórteres permitiram ao seu jornal "estar em qualquer sítio onde as coisas aconteçam", avançando como exemplo os recentes incidentes na região centro do país, protagonizados por ex-guerrilheiros da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana, principal partido da oposição). "Estavam os jornalistas a ir para o terreno, e já um cidadão tinha fotografado o primeiro camião que tinha sido queimado, porque ele estava numa coluna que ia a passar e mandou-nos", recordou o responsável.
Para o ciclo eleitoral que arranca a 20 de novembro com eleições autárquicas e que termina no próximo ano com as presidenciais e legislativas, a 15 de outubro, Caldeira antevê uma maior participação de cidadãos repórteres no projeto, dado que o seu jornal se irá expandir, até lá, para as 53 províncias do país.
LUSA – 02.08.2013