O académico João Mosca defende que o governo moçambicano deixou de se preocupar com a produção agrícola no país para se centrar nos recursos naturais em descoberta no país. Mosca diz ainda que a política agrícola alimentar, de que o executivo tanto fala, é uma farsa e que tudo visa enganar os moçambicanos.
As críticas do académico foram mais duras, chegando a afirmar que as visitas de trabalho que o governo moçambicano tem feito ao exterior visam procurar parceiros para investirem no sector mineiro, que beneficia um punhado de cidadãos em detrimento da agricultura, que poderia beneficiar a maior parte dos moçambicanos.
João Mosca falava esta quarta-feira, em Quelimane, a um grupo de estudantes à margem de uma palestra organizada pelo centro de investigação em ciências políticas e desenvolvimento democrático da Universidade Católica de Moçambique, no âmbito da primeira jornada científica.
Para Mosca, o principal indicador de pobreza em Moçambique é o problema alimentar que só se pode resolver com a produção de mais comida. Deste modo, segundo explicou o académico, em termos de políticas do governo no campo dos investimentos para viabilizar a produção agrícola e, por conseguinte, fortalecer o rendimento das famílias de camponeses do nosso país, pouco está a ser feito, colocando, deste modo, em declínio o rendimento da maioria da população proveniente da agricultura.
“Está assumido pelo governo que a política agrária em Moçambique é um falhanço, mas eles não querem assumir publicamente isso”, disse Mosca, acrescentando que os níveis de pobreza em Moçambique também estão aliados ao emprego, tudo porque a nossa economia gera muito pouco emprego. Portanto, os níveis de criação de emprego são inferiores em relação ao número de cidadãos em idade de emprego.
Durante a palestra, Mosca disse que, em Moçambique, a maioria de cidadãos tidos como ricos devia ser questionada, pois não se justifica que os pobres continuem mais pobres e ricos cada vez mais ricos.
“Como é possível alguém que está na política há 50 anos, ganhando valores de 24 mil meticais por mês, fique rico de dia para noite?”, questionou Mosca para, logo depois, voltar a questionar: “como se pode explicar a existência dos referidos moçambicanos com tanto dinheiro quando passaram a vida inteira a dedicar-se à função pública”.
Foram vários os questionamentos retóricos e, em reposta, Mosca explicou que, para muitos, o capitalismo moçambicano não é resultado da transparência.
O palestrante afirmou ainda que os níveis de pobreza, neste momento, na Zambézia, são assustadores. No caso concreto desta província, alguns factores que concorrem para o agravamento da pobreza são o amarelecimento letal do coqueiro com mais de 30 anos, a privatização da produção de chá de forma caótica, a destruição pela guerra da fábrica de açucareira.
O PAÍS – 29.08.2013