Milhares de pessoas assistiram esta semana ao funeral do jesuíta Luís Gonzaga Ferreira da Silva, de 90 anos, antigo bispo de Lichinga, norte de Moçambique e, até agora, pároco de Lifidzi, Angónia, Tete, centro do país.
A morte do religioso de origem portuguesa "deixou um vazio" nas gentes daquela região, disse um padre da região, contactado pela Lusa.
Luís Ferreira da Silva morreu vítima de "complicações no coração", dias depois de ser atropelado pela sua própria viatura, na missão católica de Lifidzi, onde continuou o seu "voto de pobreza", após se reformar como bispo de Lichinga, no Niassa.
"Assistia o povo com muita dedicação e sem cansaço. A grande obra de caridade foi ter transformado muitos moçambicanos em doutores, muitos estudaram em suas mãos, além de ter melhorado a saúde de muitos também", descreveu o pároco Ezequiel Pedro Gwembe, que celebrou a missa de sétimo dia, na passada quarta-feira.
O enterro do bispo emérito de Lichinga ocorreu na segunda-feira num cemitério tradicional de Lifidzi, numa cerimónia presenciada por mais de três mil fiéis e amigos.
Devido à sua idade avançada, os serviços de viação de Tete, reprovaram o pedido de renovação da carta de condução que lhe facilitava a assistência às comunidades distantes de Lifidzi, como Chabwalo e Domwe, a 20 quilómetros da missão onde residia.
Mesmo assim, Luís da Silva continuou a conduzir pessoalmente para prestar serviço nas áreas da educação e da saúde junto das comunidades que ficaram marcadas pelas suas obras. Mesmo durante a guerra civil moçambicana, que durou 16 anos, o ex-bispo manteve-se forte no conforto aos atingidos pelo conflito.
No domingo anterior à sua morte, o ex-bispo realizou duas missas em locais bastante distantes, tendo conduzido para estes templos.
Segundo relataram à Lusa, o português, natural de Santo Tirso, terá levado o seu antigo carro colonial para a oficina da missão em Lifidzi, para ser reparada uma avaria.
Já na oficina, o mecânico colocou o carro em marcha-atrás, sem se aperceber da presença do ex-bispo, tendo a viatura passado por cima do corpo, que ficou estendido no chão.
"Foi socorrido com emergência para o Hospital Rural de Ulongué (Angónia), para procedimentos de Raio-X, para saber se havia fraturado algum osso, uma vez que o pneu passou por cima de parte dos membros. O resultado indicava que não havia nenhum osso partido", disse o padre Ezequiel Pedro Gwembe.
"Dom Luís", como era carinhosamente tratado pelos crentes, pediu que fosse sepultado num cemitério tradicional comum em Lifidzi, junto das comunidades às quais dedicou a sua vida, além de ser ali o local onde jazem os restos mortais do seu irmão.
Em 1963, o padre Miguel, irmão de Luís da Silva, foi sepultado no mesmo cemitério, na ala dos jesuítas, quando morreu num acidente, quando construíam o templo da igreja de Lifidzi.
O ex-bispo terá dirigido uma cerimónia de crisma, o último sacramento depois do batismo, a 28 de julho, numa das paróquias de Angónia, onde igualmente havia consagrado um dos padres uma semana antes.
"Essa perda é grande", começou por descrever o sentimento da população de Angónia o pároco Ezequiel Pedro Gwembe, sublinhando que "o povo está triste".
De acordo com Gwembe, as obras de Luís da Silva serão lembradas com "carinho" nas comunidades onde trabalhou, particularmente, e também no país, pela forma como se dedicou aos pobres.
AYAC // MLL
Lusa – 18.08.2013