...da margem do Rio Pitamacanha
Por: António Nametil Mogovolas de Muatua
... com muitas saudades, dedicado ao Mazuco e à Carlota, verdadeiros filhos indígenas de Muatua, na Suíça radicados!
Sem pretender plagiar o saudoso músico português anti-fascista, Zeca Afonso, Muatua é terra da esperança, da verdade, da felicidade e da fraternidade, como assim de bravos heróis.
Muatua, sem exageros gratuitos, foi o lugar eleito por Adão e Eva para viverem no Paraíso da génese da existência do Homem sobre a terra, também, por este motivo vale a pena ser descrita em breves palavras na reflexão desta semana. Meus pais tinham-na elegido como sua verdadeira terra natal na qual trabalharam e viveram, ininterruptamente, durante 30 anos e nela de Deus receberam cinco filhos.
Recordo aos que já a conhecem que Muatua fica entre Nametil, Corrane, Liúpo e Namaponda, sendo lavada pelos rios Pitamacanha, em cujas margens me sento para escrever as minhas reflexões semanais, Mutchadji, rico em biodiversidade (tem muitas “nipalamas”, aquelas lagartas gordurosas e por isso muito saborosas, répteis de todos os feitios e tamanhos, leopardos, crocodilos, flora exótica, muita dela utilizada pelos curandeiros para prepararem medicamentos para o tratamento de diversas doenças como a asma, a epilepsia, as diarreias, etc.) e caluniado de ser assombrado por almas de outro mundo (namurerya) que aparecem aos transeuntes nocturnos com a forma de homens descomunalmente altos vestidos de roupa branca e o Iyauwa, rico em peixe gordo de água doce e sempre atapetado com folhas de nenúfar.
Mercê desta privilegiada localização, esta localidade situada no meio do mato do Distrito de Mogovolas, é uma das mais cosmopolitas da Província de Nampula, que, apesar de ainda não possuir estradas principais asfaltadas, está no cruzamento de várias rodovias secundárias que terminam em várias capitais distritais.
De facto, não é possível chegar-se a Angoche, Nametil, Mogincual ou Meconta sem se parar em Muatua para se comer algo, esticar as pernas, mudar as águas e lavar as mãos.
Em Muatua não encontramos pobreza sem perspectivas de solução, porquanto é uma terra rica de gente muito trabalhadora que, desde que o sol nasça, se dedica ao amanho da terra e, complementarmente, à criação pecuária de onde retira muita mandioca, milho, meixoeira, caju, manga, sisal, arroz, algodão, fruta diversa, amendoim grande, batata doce, toda a sorte de eijões, verduras e hortaliças variadas, aves de capoeira, gado caprino, ovino, suíno, bovino, caça autorizada, pesca, comércio, marcenaria, alfaiataria, serralharia, exploração madeireira, extracção mineira e mecânica.
A alfaiataria tem uma particularidade interessante: o cliente compra o tecido na loja e logo na varanda desta encontra um alfaiate que, em fracção de minutos, lhe confecciona a roupa, abre – se forem calções ou calças – as casas para os botões, ficando para o dono da roupa a tarefa de pregá-los e de costurar as
respectivas casas. E esta cadeia tem algo de exótico, muita beleza e faz parte de uma das muitas formas de as pessoas se divertirem quando vão às lojas.
Apesar de não existirem mais que 20 lojas, Muatua é um grande entreposto comercial, aonde o informal e o formal se ombreiam todos eles garantindo que o escoamento e a comercialização dos produtos localmente produzidos cheguem aos potenciais consumidores e que as populações sejam abastecidas de bens manufacturados fora da localidade.
Chegada a época da campanha da comercialização do algodão e de outras culturas de rendimento, Muatua fervilha de gente que empresta ainda maior vitalidade e colorido àquela já de si muito linda localidade. É um alegre vai e volta de carrinhas, camionetas, bicicletas carregadíssimas de sacos,camiões trazendo os produtos das zonas de produção para aglomerá-los no mercado da localidade e depois deste para os maiores centros de agroprocessamento ou de comercialização (venda interna e exportação).
Muatua ainda é rica em fauna bravia porquanto os caçadores furtivos não fazem sentir a sua agressividade criminosa predadora contra a bicharada selvagem existente naquela localidade.
Quem vive em Muatua está “on line” com o mundo porque já possui facilidades de comunicação por telefone e a localidade já está provida de electricidade durante todo o dia, facilidade esta que paraalém de permitir que o hospital trabalhe com maior qualidade durante o dia e noite, cria condições para o ensino nocturno, oferece aos habitantes a possibilidade de verem televisão nacional e/ou internacional por satélite, conservar os alimentos em geleiras e congeladores e o desenvolvimento da actividade de restauração.
Sob o ponto de vista cultural, encontramos em Muatua um escol de exímios artistas de todas as disciplinas, nomeadamente, na música, artes plásticas, dança, olaria, cestaria, tatuagem no corpo feita por uma resina de uma planta que eterniza as imagens no corpo humano.
No campo do desporto, a pessoa de Muatua é dotada de muita habilidade, força, boa compleição física e resiliência sem paralelo. Com efeito, faz longas corridas em estrada aberta ou em provas forçadas de corta mato quando se dedica à caça. É excelente nadador e na sua bicicleta rudimentar chega a fazer longos quilómetros carregando a sua esposa, filhos e um saco de algumas boas centenas de peso.
Sob o ponto de vista social, Muatua não fica longe dos esforços desenvolvidos no País para provimento ao povo de saúde – preventiva e curativa - de qualidade e o mesmo pode dizer-se da educação. Existe um Hospital rural, assistido pelo Médico de Nametil, servido por enfermeiros e parteiras, como assim escolas primárias nas aldeias e na própria sede da localidade.
Muatua tem vários Régulos e a sua pirâmide de Chefes e Cabos de terras.
WAMPHULA FAX – 29.08.2013