Por Gento Roque Chaleca
“A coisa que mais custa neste país não é acertar, e sim pensar. Efectivamente, grande parte dos nossos analistas políticos carecem destas duas coisas: acertar e pensar. E, diariamente ocupam-se em debates infecundos, com um único propósito: mostrar que têm novos paradigmas, novos vocábulos e, por que não, novos fatos e telemóveis.” Extracto de uma palestra com amigos.
A história da proliferação de políticos já foi tratada numa imprensa escrita, pelo que não tenho intenção de a repetir aqui, nem para isso me sinto habilitado. Porque também mereço alguma caturrice, vou dizer, em poucas linhas, o que penso sobre a proliferação destes analistas que, nos dias que correm, coincidência ou não, na véspera do fim de mandato do actual presidente da República Armando Guebuza, pululam nos órgãos de comunicação social.
Algumas individualidades do nosso país quando convidadas pelas televisões, para debater em torno de um determinado assunto da actualidade, fazem-no vestindo a capa de analistas políticos, especialistas em resolução de conflitos, politólogos, académicos, etc. Em rigor, poucos destas individualidades, fazem jus às profissões que ocupam, o que levanta sérias dúvidas se estamos perante o que dizem ser.
Assumem protagonismo dos problemas do país e porque não querem e não sabem ficar calados, apresentam-se sempre dispostos a comentar, apetite que faz lembrar as hienas manjando suas “presas”. Não aceitam críticas nem opinião contrária, sobretudo quando o oponente é militante de um partido diferente daquele que ele representa.
Provenientes das universidades, onde buscam o fermento para incharem os seus discursos e títulos, fazem-se de mui sabedores, com ideias inexpugnáveis, insubstituíveis e amarram-se ao passado, negando qualquer tipo de conselhos e evolução, numa atitude de aversão ao progresso, uma vez que até para a Bíblia Sagrada foi preciso um Novo Testamento para dar continuidade a liturgia e provar que no mundo há mais ângulos para se puder ver um objecto.
Alguns desses analistas, depois de debicar sobre um assunto, pedem palmas à plateia pelas asneiras proferidas, quando, normalmente, os aplausos brotam naturalmente, nunca ocorrem via cesariana (ou seja, são forçados). Também conheci, nesta longa estrada da vida, indivíduos que tinham uma convicção e personalidade própria, mas que mudaram quando passaram a exercer a “profissão” de analistas políticos.
A asneira que esses pseudo-analistas dizem, infelizmente partilhadas pelo cobarde silêncio da verdade que suas almas conservam, leva-me a deduzir que estamos perante casuístas que necessitam de uma rápida intervenção médica. Parece que para esses pseudo-analistas, a entrevista e/ou análise politica só é bem-sucedida quando se critica ou tenta se ridicularizar a oposição (Renamo, MDM ou qualquer outro partido que não seja do Governo do dia).
Nos dias que correm (talvez ligado ao diálogo político Governo-Renamo), o que está na moda é posicionar suas armas contra a Renamo e o seu líder Afonso Dhlakama. Esses analistas afirmam, na essência, o seguinte: “Em breve esta Renamo vai desaparecer; Dhlakama deve ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional, para isso está em curso um processo-crime; a perdiz não sabe conviver com a democracia, por isso não conseguiu transformar-se em partido político”.
Aqui está uma das razões para se gostar de História. Ela mostra que os partidos até podem desaparecer, no papel, mas não na alma das pessoas. Nenhum decreto pode extirpar da alma de um cidadão as suas convicções político-partidárias e/ou religiosas.
Não se pode negar que a Renamo é parte integrante da História democrática deste Moçambique para Todos. Pode ser que, financeiramente, este partido esteja exaurido e moribundo, mas tal facto, não significa necessariamente o seu desaparecimento.
A este propósito, o velho Chaleca costumava dizer o seguinte “Meu filho, as crises políticas são como fruncos que aparecem e vão, criam dores insuportáveis, mas também têm algumas vantagens, como por exemplo, mede a nossa resistência face a dor.”
Para o TPI vão os criminosos de guerra, indivíduos que cometam crime contra a humanidade (genocídio). Ora, não vejo, dentro do contexto social e politico que hoje Moçambique vive, qualquer líder que mereça um julgamento a nível daquele tribunal, nem mesmo o líder da Renamo. Até penso que como ser humano, os seus “crimes” são confessáveis e perdoados pela Bíblia, que por sua vez recomenda uma dosagem de “ave-maria e pai-nosso”.
Se a Renamo não é um partido político, como alguns analistas afirmam, então o país vive uma situação de monopartidarismo, porque é através dela também que saboreamos a paz e a democracia no país.
Ndatenda (obrigado)
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PS: Não quero provocar polémica, mas tenho estado a falar com os botões da minha camisa que me fazem as seguintes perguntas: Se muitos dos candidatos a presidentes dos municípios não fossem analistas políticos, teriam alguma visibilidade? Teriam sido escolhidos pelos seus partidos? O que faz um político mudar de partido nas vésperas de eleições? O tempo dirá, se é amor, paixão, ou “tacho”!!!
O AUTARCA – 24.09.2013