Um balanço elogioso dos 10 anos de Governo do Presidente
moçambicano, publicado em media públicos e privados, está a polarizar a
comunicação social, dividindo quem fala de "obra feita" dos que
sugerem um "endeusamento" de Armando Guebuza.
A 13 meses das eleições presidenciais, às quais Guebuza está impedido
constitucionalmente de se recandidatar, e quando se ignora ainda quem será o
candidato da Frelimo, uma forte campanha de "balanço positivo"
decorre na televisão e rádio públicas, em forma de publicidade institucional e
debates, e no diário Notícias (propriedade do Banco de Moçambique).
Também estão a fazer a campanha de avaliação do mandato do chefe de Estado
moçambicano a televisão STV e o diário O País (que publica suplementos
especiais), ambos pertencentes ao importante grupo privado multimédia
moçambicano Soico.
Do outro lado da "barricada", jornais como os semanários Savana, Canal de Moçambique e A Verdade falam em culto da personalidade.
"Nas mesmas análises, não há espaço para se apontar eventuais erros, pois Guebuza, até num dístico recentemente tornado público, é tido como ‘Guia incontestável de todos nós’", escreveu o jornal A Verdade.
O semanário Savana publicou uma lista de nomes de "comentaristas escolhidos a dedo" para "exercerem pressão sobre os media privados em Moçambique no sentido de influenciar o percurso dos mesmos e das suas respetivas linhas editoriais, críticas da atual governação de Armando Guebuza".
A campanha de balanço veio causar, assim, ainda "uma maior polarização dos media" de Moçambique, considerou Joseph Henlon, editor do Mozambique Political Process Bulletin.
Em declarações à Lusa, o editor executivo do Savana, Francisco Carmona, considerou o balanço de governação como "grande campanha de media" visando "limpar a imagem do Presidente da República", face ao "baixo nível" de popularidade.
"O Presidente Guebuza tem estado nos últimos tempos à procura do seu lugar na História. Ele quer ficar ligado às grandes obras de infraestruturas. Se formos a ver, a tónica do balanço são as infraestruturas", disse.
A iniciativa é "um tremendo esforço que os assessores e do próprio Presidente para responder aos seus críticos", afirmou Francisco Carmona.
No entanto, o historiador Rafael Shikhani considerou "oportuna" a avaliação do mandato do Presidente moçambicano, quando faltam 13 meses para o fim, porque "o próximo ano, o último de Guebuza, será preenchido com quem lhe vai suceder" na Ponta Vermelha.
"A meu ver, existe uma obra vasta, na extensão do território nacional e é oportuno dá-la a conhecer a todos. Julgo que este é o momento ideal para se apresentar o balanço de um período governativo de 10 anos. São 10 anos da vida de um país, que não podem passar em branco, seria injusto para a nação. Veja só: um governante trabalha 10 anos e sai sem dizer nada?", questionou.
Para Rafael Shikhani, a publicitação dos feitos de Armando Guebuza não é "endeusamento" à figura do chefe de Estado, pois, disse, sê-lo-ia "se a obra não existisse, se estivesse a criar algo fictício, improvável".
SAPO – 23.09.2013