A construção do terminal de carvão mineral do porto da Beira, na extremidade sul da linha férrea de Sena, é vista como sendo um dos marcos incontornáveis quando se fala das realizações dos últimos anos no sector ferro-portuário, a nível da região centro de Moçambique.
Com um investimento de cerca de 200 milhões de dólares, o novo terminal foi recebido pelos operadores e utilizadores como “o ovo que faltava para a omeleta”. Na verdade, não se poderia falar da viabilização das exportações do carvão sem uma infra-estrutura à altura de responder às necessidades.
O terminal dispõe de um moderno sistema de recepção, descarregamento, armazenamento e carregamento para navios, com uma capacidade de manuseamento instalada calculada em seis milhões de toneladas de carvão por ano.
Esta obra é resultado de uma parceria entre a empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e duas das empresas que exploram o carvão de Moatize, nomeadamente a Vale Moçambique e Rio Tinto.
A nossa Reportagem esteve uma manhã inteira a visitar o recinto portuário, onde se inteirou de todo o processo de manuseamento do carvão, cujas operações estão a cargo da Cornelder de Moçambique, que emprega jovens moçambicanos formados dentro e fora do país.
O processo operativo desenrola-se sob uma estreita observância de medidas de higiene e segurança no trabalho, porque todos os trabalhadores estão devidamente capacitados, estando cientes de que qualquer deslize pode ser fatal, tendo em conta a grande envergadura das máquinas usadas para o manuseamento do carvão.
Aliás, conforme soubemos, a Cornelder de Moçambique possui dentro da sua estrutura orgânica um departamento responsável pela monitoria da higiene e segurança no trabalho.
Em termos operacionais, quando o comboio chega de Moatize vai para a linha de descarga, sendo que o trabalho é feito usando pás escavadoras e uma máquina gigantesca designada por stac, com uma altura equivalente a um edifício de três andares. Este equipamento é utilizado para a arrumação do carvão em lotes e segundo as especificações técnicas.
No entanto, o mais impressionante foi constatar que este equipamento é operado também por mulheres. A nossa visita coincidiu com o turno da operadora Adelaide Comé, 28 anos, que trabalha no porto há cerca de um ano. Ela é produto de um curso de formação havido na cidade da Beira.
Da zona de stocagem o carvão é transportado por dois tapetes rolantes directamente para os porões do navio. O terminal está concebido para o embarque de 2400 toneladas por hora.
A grande virtude do terminal reside no facto de hoje os navios permanecerem menos tempo no porto, não só devido às facilidades de carregamento, mas pelas melhorias resultantes da dragagem do canal de acesso, terminada no ano passado.
DOIS NOVOS PÓRTICOS FAZEM A DIFERENÇA
Passamcerca de 15 anos desde que a gestão do porto da Beira foi confiada a uma entidade privada, no caso vertente a Cornelder de Moçambique, uma joint venture privada entre Portos e Caminhos de Ferro Moçambique (CFM) e a Cornelder Holdings, com sede em Rotterdam, Holanda.
Só nos últimos 10 anos a Cornelder investiu mais de 75 milhões de dólares norte-americanos, sobretudo na aquisição de equipamento para a melhoria das operações portuárias e treinamento de pessoal.
Como diria o administrador delegado da Cornelder de Moçambique, Carlos Mesquita, o porto é uma indústria inacabada, razão por que requer investimentos avultados e de forma permanente.
O investimento mais recente foi direccionado à aquisição de dois pórticos para o manuseamento de contentores, elevando o número deste tipo de equipamento para quatro unidades. Assim, Beira torna-se no primeiro porto em Moçambique com esta quantidade de apetrechos. Os dois novos pórticos podem manusear, cada um deles, o equivalente a dois contentores de 20 pés e um de 40, ao mesmo tempo.
Cada uma das novas máquinas, a operar desde Abril, custou à empresa cerca de seis milhões de dólares. Com estes investimentos ganha a empresa, os trabalhadores, o Estado, que poderá colectar mais receitas, os operadores marítimos, porque o tempo de estadia dos navios no porto irá reduzir consideravelmente, ajudando na baixa dos custos para o consumidor final.
Segundo Carlos Mesquita, antes da aquisição dos dois porta-contentores a produtividade no manuseamento de contentores variava entre 10 e 12 contentores por guindaste/hora e agora consegue-se fazer 25 a 30 por guindaste/hora.
“É obvio que a procura de serviços no porto da Beira tem estado a crescer e isto reflecte-se no tráfego. Nos últimos 14 anos registámos um crescimento anual médio de cerca de 15 porcento e em termos de carga contentorizada registamos, de 2010 para 2011, um crescimento assinalável de 50%. Saímos de 105 mil para 170 mil contentores num único ano e isso é muito satisfatório”, frisou Carlos Mesquita.
Carlos Mesquita reconhece que com a subida da procura dos serviços do porto os gestores começam a perceber que a capacidade instalada está a atingir os seus limites, havendo necessidade de continuar a investir para que nos próximos anos o porto da Beira tenha uma capacidade instalada para o manuseamento de carga contentorizada de 500 000 Teus/ano.
Do momento, a grande preocupação do operador portuário tem a ver com o tempo de permanência dos contentores no recinto portuário que chega a atingir 45 dias, contra um ideal de 10.
São várias as razões da demora na recolha dos contentores. Todavia, são de destacar a falta de meios, especialmente camiões e comboios para o transporte de carga, estado das vias de acesso (Beira-Inchope) e, recentemente, a “Janela Única Electrónica”, particularmente a exigência de garantias, uma medida que, na opinião dos operadores, devia ser aplicada com base num outro princípio.
PROJECTADO NOVO CAIS PARA MINERAIS
Jáse trabalha para o aumento da capacidade de manuseamento de carga no porto da Beira.
Com efeito, está prevista a edificação do novo terminal de fertilizantes, cujo processo se encontra em fase avançada, estando prevista para breve a assinatura do contrato com o empreiteiro.
A empreitada, avaliada em 17 milhões de dólares norte-americanos, deve estar concluída em 18 meses, o que significa que até finais do próximo ano haverá condições de operação.
Numa primeira fase, o novo terminal terá uma capacidade para 1,300 milhão de toneladas de fertilizantes por ano, capacidade que poderá ser elevada posteriormente para 1,500 milhão de toneladas em função das necessidades de consumo da região.
“Sabemos que a região consome 1,500 milhão de toneladas e acreditamos que vamos ajudar para que o produto chegue aos utilizadores a preços mais atractivos”, frisou Carlos Mesquita, administrador delegado da Cornelder de Moçambique.
Outro projecto inserido na ampliação da capacidade do porto da Beira é a construção de um novo cais, com cerca de 600 metros de comprimento e a pavimentação de outras áreas para acolher minerais e armazenamento de contentores.
Nos últimos 10 anos, o porto da Beira cresceu do ponto de vista de infra-estruturas e melhoramento de recursos humanos. Para operações menores que as actuais contava-se com 1300 trabalhadores, tendo o número baixado para 500, actualmente.
Fruto da conclusão da dragagem do canal de acesso, o porto é hoje escalado por navios de 200 metros de comprimento, contra 127 anteriormente.
Segundo Carlos Mesquita, está a iniciar-se a negociação com as linhas que operam os navios RO-RO (roll-on, roll-off), esperando-se que dentro de oito meses o porto seja escalado por navios desta linha. O RO-RO é um navio específico para cargas rolantes, entre carros ligeiros e pesados.
“Continuamos a apostar no aumento da capacidade de acostagem. Estamos a fazer um estudo para verificar onde somos críticos. Se é a capacidade de manuseamento em terra ou se a limitação se prende com o canal de acesso que é uma única faixa de cruzamento”, frisou.
Entretanto, os gestores do porto planificaram para este ano movimentar 215 mil contentores, contra 180 mil do ano passado, ou seja, mais 35 mil em relação a 2013.
O porto da Beira tem uma localização estratégica na região, o que proporciona uma ligação vital para a carga em trânsito, de e para Zimbabwe, Malawi, Zâmbia, Botswana e República Democrática do Congo, bem como dentro de Moçambique.
António Mondlhane
NOTÍCIAS – 18.09.2013