O descongestionamento da cidade da Ilha de Moçambique, iniciado há cerca de uma década, abrangendo famílias consideradas vulneráveis e sem condições de habitação, está a promover melhorias consideráveis do ponto de vista social e económico a favor dos habitantes da parte continental do Lumbo as quais se consubstanciam no acesso a fundos públicos que estão a gerar oportunidade de emprego, trabalho por conta própria, acesso ao ensino, serviços de saúde, abastecimento de agua potável, entre outras.
A nossa reportagem constatou no terreno que as mais de três mil famílias que abandonaram a Ilha de forma voluntária ou por indicação do organismo que estava a conduzir o processo ou de forma voluntária, já têm habitação própria com o mínimo de condições propícias para uma vida condigna, com enfoque para o saneamento e fonte própria ou localizada próxima da residência para acesso à agua potável cujo abastecimento é garantido através da rede urbana.
Os arruamentos para facilitar a livre circulação de pessoas e bens abertos há uma década durante o processo de parcelamento destinado à criação de novos bairros residenciais no Lumbo, acabam de ser reabertos, pois que a vegetação de vária espécie estava invadir os espaços, dificultando os munícipes de desenvolver obras de construção das suas infra-estruturas de habitação ou exercício de actividades de geração de renda, além de impedir a passagem de veículos.
Mariamo Abibo disse ter-se oposto à fixação da sua família no Lumbo quando o processo do descongestionamento da Ilha foi anunciado pela Associação dos Amigos da Ilha de Moçambique (AAIM), que, na qualidade de entidade da sociedade civil local, foi incumbida pelo governo para a materialização da iniciativa.
Eu pensei que era uma repetição das aldeias comunais, mas apercebi-me mais tarde que as condições de vida perspectivadas eram, de facto, muito melhores quando comparadas às que usufruíamos no interior da Ilha e hoje estou satisfeita por tudo que a edilidade tem vindo a promover para o bem da população - confessou, emocionada, a nossa interlocutora.
Com efeito, parecia irreversível a rejeição da iniciativa relativamente ao descongestionamento da Ilha por parte das pessoas visadas, mas a melhoria das condições sociais, sobretudo de acesso aos serviços básicos, estimulou muitas famílias no sentido de se transferirem para Lumbo, por iniciativa própria. A propósito, Rajabo Jamal, docente, referiu nunca ter desfrutado do benefício de possuir residência própria desde que foi destacado para leccionar no município da Ilha de Moçambique há década e meia.
Mas quando tomei a decisão, que considerei algo incoerente, de me fixar no Lumbo, sem talhão para construção no mínimo, tive um acolhimento positivo das autoridades municipais e do governo, porque concederam-me um terreno onde construí a residência onde vivo até agora, por isso sinto-me satisfeito - comentou o nosso entrevistado.
Fluxos sensibilizam edilidade e governo para expansão de serviços
Outra constatação da nossa reportagem no Lumbo é de que o fluxo de habitantes àquela região continental induziu a introdução do transporte semicolectivo de passageiros, vulgo “Chapa Cem”, ligando-a à Ilha, onde se concentra o serviço de comércio e as instituições públicas, quer municipais quer do governo local.
Assane Issufo abraçou o serviço de transportador no percurso Ilha-Lumbo que tem a tarifa de cinco meticais por passageiro, sustentando que decidiu enveredar por aquela actividade porque nas minhas contas verifiquei que é rentável para satisfazer as necessidades básicas da família e garantir a manutenção do veículo que adquiri a uma garagem localizada na cidade de Nampula. E estou decidido a adquirir mais uma unidade para explorar outras rotas porquanto o número de pessoas que reside no Lumbo e trabalha na Ilha é considerável, sem contar com os turistas que querem deslocar-se fora da Ilha para conhecer a realidade dos habitantes.
Os “Sete milhões” ou seja o fundo de desenvolvimento distrital que o governo garante aos munícipes da Ilha de Moçambique está a concorrer para a melhoria do nível de vida das famílias.
Uma vez declaradas inexistentes as condições para o exercício da avicultura na parte insular do município da Ilha em face das consequências que podem representar para a saúde pública, os avicultores, que contam com o financiamento através do referido fundo, concentram a sua actividade no Lumbo.
Outra actividade que justifica a concentração de famílias no Lumbo é a produção de sal. Em três anos o número de salinas, entre grandes e industriais, que operava naquela região subiu de 23 para 48 garantindo emprego directo a 728 trabalhadores. Manuel Sumalgy, vereador para o pelouro de actividades económicas no Concelho Municipal da Ilha de Moçambique, acrescentou que a pesca artesanal também enfileira nas actividades cujos ganhos contribuem consideravelmente para o bem estar das famílias.
Devido a estas e outras circunstâncias, o governo e a edilidade da Ilha de Moçambique decidiram juntar esforços para financiar a expansão de serviços sociais básicos no domínio da água, educação e saúde. E, nesse âmbito, foram construídos dois estabelecimentos escolares para o ensino primário e secundário dosegundo graus no bairro de Ampita.
O posto de saúde de Lumbo foi elevado à categoria de centro, tendo, para o efeito, beneficiou de obras de ampliação que visaram, essencialmente, a criação dos serviços materno-infantil que incluem uma maternidade para atender, simultaneamente, seis parturientes.
Para encurtar as distâncias que os munícipes seriam forçados a percorrer até à ilha e garantir um atendimento rápido e eficiente dos utentes dos serviços públicos, foi implantado no Lumbo o Balcão de Atendimento Unico que funciona há quase um ano.
De acordo com Manuel Sumalgy, as infra-estruturas do novo hospital municipal da Ilha estão projectadas para o Lumbo, facto que vai estimular ainda mais os munícipes a basearem-se naquela região continental que beneficiará da expansão dos serviços de abastecimento de água potável previsto no projecto de reabilitação em curso do respectivo sistema.
WAMPHULA FAX – 27.09.2013