MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá Nuno
Como estás tu, meu amigo? Do meu lado está tudo normal, felizmente.
O que não me parece nada normal é uma notícia, que anda aí a circular, sobre a compra, por Moçambique, de 30 navios a um estaleiro de Cherburgo, na França, propriedade de um cidadão libanês.
Ou, mais exactamente, a compra de muito mais navios, porque o tal libanês garante que o contrato assinado entre ele e o nosso Governo inclui mais uma série de navios a serem construídos em estaleiros da Alemanha e de Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Ora, tudo isto me parece muito estranho.
Para começar, o facto de um contrato desta dimensão (300 milhões de euros!) não ter sido anunciado entre nós. Pelo contrário, fechou-se toda a gente em copas, como se fosse um grande segredo. Sendo a grande maioria dos navios para uso civil, na medida em que se trata de traineiras de pesca, não se vê ustificativo nenhum para tal silêncio.
Depois temos o facto de o negócio ter sido anunciado pelo dono dos estaleiros, rodeado por dois ministros franceses, mas sem a presença de nenhum representante do Governo moçambicano. Mais um tijolo nesta barreira de bizarro.
Mas não é só nestes aspectos que este negócio parece totalmente estranho.
Eu tenho sérias dúvidas de que nós tenhamos oficiais e marinheiros para tripular, convenientemente, um único navio. Quem irá, portanto, tripular estas dezenas deles?
Isto para não falar do dinheiro que tudo isto vai custar. A despesa está prevista no Orçamento de Estado? E foi aberto um concurso público para o fornecimento dos navios?
Tudo isto são perguntas para as quais não encontro respostas. E a vida tem-me ensinado que quando alguém me esconde informação isso nunca é para o meu bem. E quando se trata de governos a coisa ainda piora mais.
Creio, portanto, que é urgente que as nossas autoridades venham a público esclarecer os moçambicanos para que não continue a crescer este clima de desconfiança, em que as pessoas perguntam já, abertamente, quem é que vai ganhar dinheiro com mais uma negociata pouco clara, feita à custa do nosso dinheiro.
E as negociatas já são tantas, e tão graves, que só me espanto por ainda haver umas moedinhas no fundo dos cofres públicos...
Aproveito para relembrar que, segundo o anterior ministro Zucula, já se encontram em Moçambique há muitos meses (talvez anos...) pelo menos dois navios para fazer cabotagem costeira. Só que ainda ninguém os viu. Onde estarão eles e porquê?
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 20.09.2013