Ultimamente, é quase frequente ouvirem-se discursos do Presidente da FRELIMO e de Moçambique, Armando Emílio Guebuza, a homenagear heróis já mortos nas suas terras de origens, alguns assassinados por eles próprios. Um deles é Francisco Manhanga. Para mim, isso não passa de propaganda eleitoral, para angariar votos nas próximas eleições e que se avizinham. Francisco Manhanga, no tempo que passei pela FRELIMO, era considerado um colaborador do reaccionário Uria Timóteo Simango, vice-presidente da FRELIMO e por isso, Manhanga acabaria por morrer no hospital de Muhimbiri em Dar-es-Salam em 197?, hoje alguns anos após a sua morte Guebuza, encontrou a fonte para se manter no poder, dizendo no seu discurso, que não há dinheiro que pague os heróis, no Charre na Província de Tete, terra natal de Francisco Manhanga.
No conteúdo do discurso, encontrei uma enorme hipocrisia, várias mentiras e muito oportunismo político, tudo numa clara tentativa de arrecadar votos nas eleições que se avizinham. Pessoalmente, eu próprio fui testemunha disso mesmo, durante os dez anos que fiz parte daquela organização FRELIMO, nunca presenciei conversas amigáveis entre Guebuza e Manhanga, este último foi sempre considerado xingondo, palavra utilizada pelos sulistas e que talvez signifique pessoas inferiores do norte do país. Várias vezes, encontrei Samora e Guebuza sentados a conversarem, lado a lado como amigos, desde Dar-es-Salam, Nachingweya Tunduro ou outro centro oficial da FRELIMO existente naquele país de mwalimo Julius Nyherere.
Eu, conheci bem Francisco Manhanga, este foi um dos meus instrutores preferidos no primeiro campo militar e de treino no Kongwa em 1965, na altura eu tinha os meus 15 anos de idade. Terminado o treino militar naquele campo fui seleccionado para segurança de Eduardo Mondlane em Oster-Bay, Dar-es-Salam. Quando ainda lá andava, soube que Manhanga e outros quadros chefiados por Samora, tinham deixado Kongwa rumo ao novo campo de Nachingweya.
Terminada a missão de segurança na residência de Mondlane, regressei para Kongwa, onde encontrei outro chefe de campo de nome Alberto Sande, tendo este posteriormente desaparecido sem deixar rasto, isto em 1966. Em substituição de Alberto Sande, veio Francisco Langa em 1967, Francisco Manhanga, chefiando um grupo de 17 guerrilheiros juntou-se ao grupo de clandestinos ao qual eu pertencia e onde estivemos instalados no Kamwala, Lusaka.
Mais tarde Francisco Manhanga, foi nomeado Secretário de Defesa para frente de Tete, pelo falecido Filipe Samuel Magaia, chefe dos Departamentos da Defesa e Segurança DSD da FRELIMO. Com a morte de Filipe Magaia, Francisco Manhanga, não ficou feliz, pois foi retirado de imediato daquela frente e jamais voltaria a dirigir qualquer guerrilha em Tete, ele foi retirado da província, juntamente com Alfredo Uassira, comissário político no mesmo ano de 1968, para Nachingweya com argumentos de que estes dois dirigentes iriam participar no 2º Congresso da FRELIMO no Niassa, ambos nunca voltaram para Tete.
Assim Manhanga, foi substituído por então chefe das Operações Provincial Pascoal Nhampule, António Almeida, alcunha de guerra.Nhampule, instalou-se no território Zambiano, movimentando-se de um lado para o outro e conduzindo a guerra através do mapa, este juntamente com a polícia traficavam marfim e outros produtos de valor e vendiam aos comerciantes, por fim dividindo os lucros. Quando Samora soube, enraiveceu-se com Pascoal Nhampule seu conterrâneo. As operações na frente de Tete estavam então entregues a António Kanhemba, Luís Njanji coadjuvado por mim, Zeca Caliate, “Henrique João Ataíde” até ao final do ano de 1969, quando Samora, retirou da Zâmbia, Pascoal Nhampule para Nachingweya colocando no seu lugar, José Moiane pessoa da sua confiança.
Em Agosto de 1969, eu e António Kanhemba, fomos chamados para estagiar em Nachingweya onde encontrámos o nosso antigo chefe, Francisco Manhanga, na altura este estava bastante triste com a situação degradada no seio da FRELIMO, e que tinha sido criada por Samora Machel, após o assassinato de Filipe Magaia e que piorou mais tarde quando Eduardo Mondlane, também ele foi morto. Eu e o meu conterrâneo António Kanhemba, frequentámos naquele centro de treinos, vários cursos com especialistas Chineses e mais tarde, fomos incluídos na comitiva de Samora Machel, juntamente com alguns oficiais Tanzanianos, chefiados pelo Major General Sarakika, fomos destacados para a província de Cabo Delgado.
Quando regressámos a Nachingweya, Francisco Manhanga, foi nomeado chefe do Centro Educacional de Tunduro, coadjuvado por Bonifácio Gruveta enquanto eu e Kanhemba, fomos destacados como instrutores até Outubro de 1970, altura que fui nomeado comandante do batalhão destinado ao sul do rio Zambeze, conhecido por 4º Sector. Mais tarde, quando me encontrava já a comandar a guerra a sul de Tete, soube de que F. Manhanga, foi vítima de uma doença e que nunca se queixou, de imediato foi evacuado para hospital de Muhimbiri em Dar-es-salam, tendo morrido de seguida. Na altura houve alguns rumores de que tinha sido vítima de envenenamento. O mesmo aconteceu com Josina Mutemba, ex-esposa de Filipe Magaia e posteriormente esposa de Samora Machel.
Ass: Zeca Caliate
Setembro de 2013