Para quem conhece Moçambique, sabe que o nome Guebuza não está somente presente na esfera política do país. Pai de quatro filhos, Armando Emílio Guebuza foi eleito Presidente da República de Moçambique em 2005 e está no poder desde então. Apesar de este ser o seu último mandato, parece que não terá problemas em manter-se na elite nacional, já que os seus negócios alastram como os tentáculos de um polvo.
Mr. Guebuziness, como há quem o chame, tem uma agenda que vai bem mais além do seu cargo político como chefe de Estado. Uma situação denunciada por diferentes pessoas e entidades, mas que parece não afectar o Presidente. O Centro de Integridade Pública (CIP), uma organização moçambicana criada para promover a transparência política no país, e até mesmo a WkiLeaks, denunciaram os interesses do PR, enquanto homem de negócios. Em vez de se centrar no seu cargo político e procurar, em cada tomada de decisão, favorecer a população, Guebuza é acusado de usufruir da sua posição em benefício próprio, sabendo, de antemão, dos possíveis negócios em que deverá entrar. Pior, há quem o acuse de, não só usufruir do seu acesso privilegiado à informação, como, também, tomar decisões em prol da sua agenda privada, diga-se, empresarial.
É difícil mapear a presença de Guebuza e da sua família pelo mundo dos negócios. Desde a banca, telecomunicações, passando pelas pescas, transportes, sector mineiro, portos e caminhos-de-ferro. O nome Guebuza surge aqui e ali, um pouco por todo o lado, directa ou indirectamente, especialmente em grandes negócios nacionais. Mais, as ramificações parecem ser infinitas, já que os seus negócios envolvem parceiros indianos, chineses, alemães, portugueses…
É certo que Guebuza já era empresário quando chegou ao poder, mas a verdade é que conseguiu expandir os seus negócios, desde então, envolvendo cada vez mais a sua família.
Para além da empresa familiar Focus 21, a que os seus filhos estão ligados, Mr. Guebuziness tem participação na Moçambique Gestores que, por sua vez, participa na Maputo Port Develop Company (MPDC), que gere o porto da capital. A própria Focus 21 está ligada à companhia de navegação Navique, é parceira da energética sul-africana Sasol e da chinesa StarTimes, na qual a sua filha Valentina é Presidente do Conselho de Administração, entre outros negócios. Aliás, esta última parceria, com a StarTimes, foi amplamente acusada pelo CIP, por ter surgido no mercado digital moçambicano numa altura em que a ausência de legislação permitiu à empresa monopolizar o mercado. Guebuza é também accionista da Vodacom Moçambique, através da sua participação na Intelec Holdings, que opera em diferentes áreas, aliás, o seu filho Armando Ndambi Guebuza, tem participação na consultora Intelec Business Advisory and Consulting, subsidiária da Intelec Holdings, é está na direcção de várias empresas moçambicanas.
O PR é accionista da Cornelder de Moçambique, uma joint venture entre a holandesa Cornelder Holdings e a Porto e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM). Esta última tem como membro do conselho de administração o próprio sobrinho de Guebuza, Miguel Nhaca Guebuza, que é sócio da Venturin Lda (ligada ao imobiliário, importação e exportação…), a par com o tio. Através da CFM, Miguel Guebuza é parceiro da prima Valentina, na Beira Grain Terminal.
A filha mais velha do Presidente, Valentina da Luz Guebuza, para além de presidente do conselho de administração da StarTimes, como já referimos, está à frente da empresa da família, Focus 21, e participa, também, na Cornelder de Moçambique. Apelidada, pela revista Forbes, de “princesa milionária” e comparada a Isabel dos Santos, Valentina é uma verdadeira mulher de negócios. Ao que tudo indica, em 2008, constituiu a Crosswind Holdings SA (voltada para a construção de infra-estruturas) com a participação do irmão Mussumbuluko e do tio José Eduardo Dai. Com este último criou, no mesmo ano, a Servicon Lda (direccionada para a actividade mineira) e a Orbttelcom Lda (área da informática e telecomunicações), em parceria com Mussumbuluko e outro parceiro. Adquiriu também uma participação na firma Moçambique Desenvolvimento e Investimentos Lda, na qual o tio também tem acções e é uma das donas da Imogrupo (voltada para a venda de imóveis), entre tantos outros negócios.
A outra filha do Presidente, Norah Armando Guebuza, tem também a sua quota-parte de negócios lucrativos. Nomeada presidente da MBT Construções Lda, em 2008, Norah tem participação na imobiliária Lusomoz, na World Group United Lda (investimentos e participações financeiras, projectos imobiliários…), na Mov Pharmaceutical Lda e na Tlten Investimentos Lda, com o marido Tendai Mavhunga, que, paralelamente, tem participações na Englob Consultores, a par com o primo de Norah, Miguel Guebuza. Até a sobrinha de Guebuza, Daudre, tem negócios na construção, hotelaria, areias pesadas, entre muitos outros. Em 2000, juntou-se ao tio e lançou a empresa de correios New Express.
São tantos os negócios que envolvem esta família que nomeá-los a todos afigura-se uma missão impossível. Nada parece abrandar Armando Emílio Guebuza e família. Nem o seu cargo político. Aliás, parece ter sido a política a alavanca principal para o seu poder económico e para perpetuação do nome Guebuza no mercado empresarial de Moçambique. Quando terminar este seu último mandato, Guebuza não terá quaisquer problemas em manter-se na elite e continuar a ser um homem de negócios bem-sucedido.
Assim, a família Guebuza continuará a ser uma das mais ricas famílias de Moçambique e de África.
In http://portugueseindependentnews.com/mocambique-guebuzas/