Quando os interesses partidários estão acima de tudo
- O milionário projecto foi adjudicado aos tailandeses da Italian-Thai Development Public Company Limited, em detrimento do consórcio SPI/Patel Engeneering, e segundo informações de fontes seguras, este terá sido o principal “pecado” do antigo Ministro dos Transportes e Comunicações
Dois dias depois da queda de Paulo Zucula do cargo deMinistro dos Transportes e Comunicações, começam a transparecer asprincipais razões por detrás da decisão do Presidente da República, Armando Guebuza, para a remodelação daquele pelouro, quando estamos a um ano do fim do mandato do actual governo.
Segundo fontes bem colocadas, a queda de Zucula está ligada à adjudicação do milionário projecto de desenvolvimento do projecto TeteMacuze, que compreende a construção de uma linha férrea e um porto para mais uma alternativa ao escoamento do carvão de Moatize, e não só.
Numa decisão tomada semana finda, dias antes da exoneração, o executivo do MTC decidiu adjudicar o projecto aos tailandeses da ItalianThai Development Public Company Limited, que no concurso perfilaram na “short list”final que integrava outras cinco companhias, de entre as quais, a Rio Tinto e a Patel Engeneering da India, que segundo apuramos, estava associada à SPI, uma holding ligada ao partido Frelimo.
As nossas fontes asseguram que o principal pecadode Zucula foi precisamente ter forçado a realização de um concurso público para o apuramento do executor da milionária empreitada, cujo desenvolvimento ronda os USD 3 biliões, ao invés de uma adjudicação directa que era defendida, sobretudo, por figuras de maior influência no partido governamental.
A adjudicação directa beneficiaria os indianos da Patel Engeneering que, inclusive tinham garantido o estatuto preferencial, na medida em que foram estes que desenvolveram os pré-estudos que deram indicação de possível viabilidade do projecto, que seriam confirmados com estudos mais detalhados.
Precisamente no primeiro trimestre deste ano, quando tudo apontava para a adjudicação directa do projecto, Zucula viria a contrariar o processo, exigindo a realização de um concurso público internacional que, já em Abril contava com 21 concorrentes, dos quais viriam a ser apurados seis para a fase final.
Há pouco menos de um mês, quando tudo já apontava que a adjudicação iria para os tailandeses, a Patel Engeneering pediu explicações ao executivo de Zucula, recordando que tinha um “acordo de cavalheiros” com o governo que assegurava preferência na concessão do projecto.
Ao que tudo indica, as reivindicações dos indianos caíram por terra, tal como o alegado acordo de preferência, que foram superados pelo lobby tailandês, que apostou forte no projecto, tendo enviado a sua primeira ministra para o país.
Apesar de ter optado pela via legal, que é o concurso público, para a adjudicação do milionário projecto, Zucula teria pago caro pelo facto de ter preterido a SPI (vaca leiteira da Frelimo), associada a Patel Engeneering, o que na nomenklatura política mais conservadora foi visto como uma traição ao partido.
O novo ministro dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthisse, foi empossado na manhã de ontem, pelo Presidente da República.
MEDIA FAX – 18.09.2013