MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça
Olá Nuno
Como estás, desde a semana passada? Do meu lado tudo bem, felizmente.
Só que cada vez mais espantado, e preocupado, com esta súbita e galopante viragem do nosso país para o mar. Já falámos disso mas as coisas, em vez de se esclarecerem, parecem cada vez mais difíceis de entender. Mais embrulhadas.
Como sabes, os espiões, agentes secretos e outros que tais, pescam, muitas vezes, em águas turvas. Faz parte da sua forma de trabalhar. Mas isso não impede que eu fique espantado por o nosso SISE ser proprietário de uma empresa de pesca de atum.
Na verdade, parece que os já famosos barcos, a serem fabricados nos estaleiros franceses, pertencem a uma empresa, chamada EMATUM, em que 33% das acções são do SISE e outros 34% do IGEPE, o Instituto de Gestão das Participações do Estado.
A simples matemática diz-nos que há mais 33% de acções em mãos até agora não conhecidas. Quem serão esses pescadores ocultos?
Temos, depois, as declarações, que vão surgindo da parte de membros do Governo. Segundo o “mediaFAx”, por exemplo, o Ministro das Finanças, Manuel Chang, afirmou que o Estado não entra no negócio com qualquer valor, sendo apenas avalista da operação financeira.
Declaração, para dizer o mínimo, estranhíssima.
Pois então o SISE não faz parte do nosso Estado?
E o IGEPE também não? E, ao constituir-se como avalista, o Estado não vai ter de entrar com o nosso dinheiro se os accionistas não cumprirem as suas obrigações financeiras?
Para além das traineiras o negócio parece envolver, também, barcos de guerra, seis para sermos mais exactos. Será que o Estado também não tem nada a ver com a compra dos barcos de guerra? São empresas privadas que estão a comprar esses barcos de guerra?
Por seu lado, o ministro Cuereneia aparece a dizer que os navios vão ser usados na cabotagem, de acordo com a (excelente) ideia que foi defendida pelo, agora demitido, Paulo Zucula.
Afinal são para cabotagem ou para a pesca do atum?
Será que nem os próprios ministros foram devidamente informados desta negociata que envolve um tal Iskandar Safa, libanês, com passaporte de Cabo Verde, e proprietário de estaleiros em França e, aparentemente, também na Alemanha e no Abu Dabi?!!!!
Sobre o problema das possíveis tripulações para aqueles navios todos, andei a fazer algumas perguntas e o que me disseram é que temos oficiais, formados pela Escola Náutica, nos anos 80/90, mas que não navegam desde que, há mais de dez anos, a Navique deixou de ter barcos próprios. A Escola Náutica continua a formar gente mas, ao que parece, apenas teoricamente, na medida em que nunca nenhum deles navegou. As mesmas fontes dizem-me que, para aquela quantidade de navios, seriam necessários cerca de 350 oficiais e muito mais marinheiros qualificados. Onde os vamos buscar?
Continuemos atentos ao folhetim que, se não me engano muito, ainda vai no princípio...
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 27.09.2013