MUNIDOS de armas artesanais, machados, catanas ou de simples mocas, eles dizem-se prontos a “morrer” para defender as suas aldeias. Exasperados pelos intermináveis abusos dos combatentes da antiga rebelião Seleka, os aldeões formaram grupos de auto defesa na região de Bossangoa, no oeste da República Centro Africana (RCA). "As nossas mulheres e meninas são estupradas. Levam-nos tudo, até as nossas sementes, e não temos nada para comer. Vivemos no mato como animais”, disse à France Press (AFP) um habitante local, num misto de medo e raiva.
Bossangoa é a região de origem do ex-presidente François Bozizé, derrubado em 24 de Março deste ano pela coligação rebelde liderada por Michel Seleka Djotodia, que tomou o poder. Desde então, a evidência de abusos por parte dos ex-rebeldes continua a se acumular e sexta-feira passada o novo presidente ordenou a dissolução imediata do Seleka.
Segundo a Jeuneafrique, os habitantes locais juntam-se cada grupo no seu canto: os refugiados cristãos ocupam a igreja católica, os muçulmanos a escola, e os fulani o aeródromo.
À medida que o conflito cresce, parece transformar-se num acerto de contas entre cristãos e a minoria muçulmana. Os Seleka - cujo líder Michel Djotodia o primeiro presidente muçulmano do país - são acusados de violência e saques contra a população local maioritariamente cristã. Por outro lado, a milícia pró-Bozizé e grupos de autodefesa, muitos dos quais pertencem à etnia Gbaya tal como o ex-presidente, vingam-se nas famílias muçulmanas e fulani.
Observadores dizem que sem um sério e forte compromisso da comunidade internacional, a RCA corre o risco de se mergulhar no caos. Quinta-feira, à margem da investidura do novo presidente maliano, realizou-se uma mini-cimeira em Bamako sobre a crise centro-africana.
Falando na conferência de imprensa que se lhe seguiu, o presidente chadiano, Idriss Déby, alertou para o risco da RCA se transformar “num santuário de terroristas”. O seu homólogo francês, François Hollande disse, por seu turno, que “não se deve ficar indiferente” ao que se passa naquele país africano.
Segundo a RFI, tem lugar, no próximo dia 25, em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU, uma reunião sobre a crise na RCA. O encontro gira à volta do reforço da Força Africana na República Centro Africana (MISCA, sob égide da União Africana). Alguns países, incluindo a França, defendem a colocação da MISCA sob o mandato da ONU, por que isso, argumentam, garantiria melhor o seu financiamento.
A União Africana exortou ontem a comunidade internacional a fazer mais pela RCA, descrevendo a situação no país pobre e conflituoso como “terrível”.
“A RCA precisa de muito apoio, a situação humanitária é terrível, todos precisamos de fazer mais”, disse o comissário adjunto para a Paz e Segurança da UA, El-Ghassim Wane, à AFP.
NOTÍCIAS – 21.09.2013