OS residentes da província de Gaza estão a testemunhar um
crescimento da produção agrícola, graças à reabilitação do Regadio do Baixo
Limpopo, com um potencial de terra irrigável de 70 mil hectares.
Destes, encontram-se em utilização 14 mil, contra quatro mil hectares que foram aproveitados na campanha agrícola 2011-2012.
Espera-se que os 14 mil hectares resultem em 17 mil toneladas de cerais, nomeadamente arroz, milho e trigo, na campanha 2013-2014.
Existente desde 1952, o Regadio ficou totalmente inoperante em 1977, em consequência das cheias de grande dimensão que afectaram na altura todo o sistema, agravado por outros factores conjunturais e de política económica durante os anos 80. Esta infra-estrutura, sob gestão da Empresa Pública do Regadio do Baixo Limpopo, cobre os distritos de Xai-Xai e Chibuto.
Com as actuais intervenções no regadio está previsto que até 2017 estejam infra-estrurtrados 30 mil hectares, o que em termos de produção de cereais representa uma transição para 150 mil toneladas até à campanha de 2016-2017.
A reportagem do “Notícias” visitou o Regadio do Baixo Limpopo e conversou com os agricultores que ali operam e, que por via disso, estão a melhorar as suas condições de vida.
SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER
AntónioMahumane, agricultor na região do Nhocoene, no Baixo Limpopo, distrito de Chongoene, diz estar satisfeito com a reabilitação do Regadio, pois os resultados já são visíveis. "Eu tenho esta machamba desde a década 70, só que a partir das cheias de 1977 a produção começou a baixar", disse, ao mesmo tempo que agradece ao Governo pelo esforço que tem feito para o bem-estar da população.
Mahumane explora uma área de 7 hectares, onde produz arroz, milho e diferentes tipos de hortícolas. Sem muitos rodeios, disse que teve uma boa produção na campanha 2011-2012, esperando supera-la nesta última, 2013-2014.
O nosso interlocutor recebeu 70 mil meticais no ano passado, do Fundo de Desenvolvimento Distrital, vulgos “sete milhões de meticais”, com os quais aumentou a produção de arroz e batata.
Também reconhece o apoio incondicional que tem recebido na sua machamba dos técnicos de agricultura. "Temos expansionistas que nos dão apoio técnico, são praticamente nossos conselheiros na matéria de produção e isso nos ajuda muito", afirma Mahumane, adiantando que não vê o resultado do Regadio quem não quer ver.
Um dos sonhos deste agricultor é a compra de um carro no próximo ano, um meio que lhe vai ajudar a escoar os seus produtos para o mercado Limpopo, e não só. "Como resultado da minha produção consegui construir uma casa de alvenaria e estou a formar os meus filhos", disse.
AGRICULTURA É ACTIVIDADE SEGURA
AntónioGaveta explora 1.5 hectarena região de Nhocoene, desde 1994. Confessa que nunca produziu alimentos como tem sido desde a campanha agrícola 2011-2012, após a reabilitação do Regadio. Na companhia de sua esposa, Lúcia Anastácia, Gaveta produz milho e todo o tipo de hortícolas. "Antes da reabilitação do Regadio não era possível trabalhar, porque tínhamos problemas de enchentes. Hoje tudo mudou e posso afirmar que a agricultura já oferece segurança aqui em Nhocoene”, disse, salientando que graças a esta actividade construiu uma casa condigna e consegue mandar os filhos à escola.
Gaveta também se beneficiou do Fundo de Desenvolvimento Distrital, no valor de 70 mil meticais, montante que lhe permitiu aumentar a sua área de produção, de 1 para 1.5 hectare.
Por sua vez, Lúcia Anastácia, secundando o marido, disse que a reabilitação do Regadio foi o melhor investimento que o Governo fez na província de Gaza. "Hoje dá gosto trabalhar a terra, diferentemente dos anos passados que dependíamos apenas da chuva", acrescenta Lúcia, exibindo milho e feijão que abundam na sua machamba.
JÁ NÃO COMPRAMOS COMIDA
Armando Macuácua é esposo de Maria, Laura e Argentina e pai de 26 filhos. Ele sustenta a sua família com a actividade agrícola que desenvolve desde o ano 2000, quando perdeu tudo o que tinha com as cheias.
Em entrevista à nossa Reportagem, Maria Macuácua, esposa mais velha de Armando, explica que a reabilitação do Regadio mudou a vida da família. "Hoje já não compramos comida porque produzimos o suficiente para a nossa alimentação e venda", afirmou, salientando que o dinheiro para a matrícula das crianças, para a compra de sabão e pão vem dos produtos da machamba.
Segundo esta agricultora, mãe de 9 filhos, a assistência dos técnicos aos camponeses é outro ganho que permite o aumento da produção.
EXTENSIONISTA DÁ EXEMPLO
Armando Manuel, extensionista no Baixo Limpopo, é um exemplo de como outros técnicos devem trabalhar para incentivar a população a aumentar a sua produção. Segundo orientações do Governo, todo o extensionista deve ter uma porção de terra para fazer demonstrações aos agricultores e foi nessa perspectiva que Manuel explora três hectares no Baixo Limpopo.
Nesse espaço, Manuel produz hortícolas, dentre os quais tomate, couve, repolho, alface, cenoura, pimento e pepino. “Sendo extensionista uso a minha machamba para espalhar as técnicas de cultivo, porque às vezes o agricultor acredita vendo”, disse, adiantando que também desenvolve avicultura, tendo produzido este ano 15 mil frangos.
O técnico que assiste na sua área de trabalho 470 agricultores afirma que com o dinheiro da sua produção já adquiriu duas motobombas e uma camioneta para escoar os produtos. “Com a reabilitação do Regadio a agricultura se tornou numa actividade gratificante. Hoje consigo proporcionar uma vida melhor à minha família”, acrescentou Manuel.
MERCADO REPLETO DE PRODUTO LOCAL
O mercado Limpopo, localizado no centro da cidade de Xai-Xai, tornou-se num dos maiores centros comerciais de hortícolas em Gaza. Este é o destino final dos agricultores do Baixo Limpopo. Alguns levam os produtos nas suas camionetas e outros carregam-os à cabeça. Logo pela manhã os revendedores do mercado, e não só, enchem o local para adquirirem produtos frescos, que vão desde tomate, cebola, alho, cenoura, pepino, pimento, beteraba, couve, repolho, alface e todo o tipo de hortícolas.
Tanto os produtores, como revendedores e residentes da cidade de Xai-Xai são unânimes em afirmar que a fome passou para a história em Gaza. “Já não precisamos de viajar para a cidade de Maputo para comprar tomate de qualidade vindo da África do Sul, porque já temos qualidade localmente”.
No interior do mercado encontramos Mário Cossa, um agricultor a vender o seu produto aos revendedores. “Há 10 anos que pratico agricultura, mas nunca tive sucessos como nos últimos dois anos”, adiantou o agricultor, que graças a esta actividade comprou uma carrinha e emprega 10 trabalhadores.
Baixa produção ficou para história
Sebastião Ferro, chefe do Departamento de Extensão e Formação no Regadio do Baixo Limpopo, assegurou que o regadio melhorou a situação de produção na região, uma vez que abastece toda a província. “Estamos a prever produzir 90 mil toneladas de produtos diversos na campanha 2013-2014, contra 63 mil toneladas na campanha anterior”, disse.
Segundo Sebastião Ferro, a fertilidade do Baixo Limpopo é alimentado por uma série de nascentes, riachos, lagoas e rios, dentre os quais o rio Munhuane, Lumane, Angluzane e Chegue, todos afluentes do Limpopo.
PARCERIAS PRIVADAS E SEUS GANHOS
As empresas Wanbao, chinesa, e a Companhia Igo-Sammartini, italiana, são as principais empresas privadas que têm intervenções no Regadio do Baixo Limpopo. O estabelecimento de parcerias privadas é uma das estratégias que visa alcançar um nível de exploração dos 70 mil hectares do Regadio. A intervenção da Wanbao, que explora 300 hectares de terra no Regadio, é feita através de uma parceria público/privado/população, implementada com enfoque para o programa de transferência de tecnologia a produtores locais, que vai beneficiar 1000 produtores, adoptando regimes de assistência directa e indirecta.
No regime de assistência directa foi criado um centro de treinamento intensivo de tecnologia chinesa de produção de arroz com capacidade de treinamento de 70 pequenos produtores, com uma área de 1 hectare, podendo progredir para 4 hectares, para o agricultor emergente.
O regime de assistência indirecta abrange agricultores emergentes com áreas a partir de 5 hectares, os quais são assistidos com a intermediação do extensionista local.
Já à Igo-Sammartini, uma empresa italiana, sedeada na baixa de Chicumbane, foram concedidos 1000 hectares, estando em exploeração apenas 700. A Empresa surgiu no âmbito de uma visita que o Chefe do Estado realizou à Itália, na busca de parcerias.
Segundo o gestor da empresa, Armando Bambo, Igo-Sammartini aposta na produção de cereais, dentre os quais o milho, arroz, soja e trigo. Com 50 trabalhadores efectivos, o primeiro ano de produção foi 2012. "A expectativa é de produzir 400 toneladas de milho, 100 de arroz e hortícolas", disse.
O primeiro ganho é o emprego para os residentes de Chicumbane, para além de uma área de 30 hectares cedida à comunidade local. "Os 30 hectares abrangem 60 famílias assistidas pela empresa no uso de novas tecnologias", acrescentou Bambo, adiantando que muitos camponeses já estão a melhorar a sua produção graças à utilização das novas tecnologias disponibilizadas pela Igo-Sammartini.
Joana Macie
NOTÍCIAS – 23.10.2013