A INSTALAÇÃO de grandes projectos, sobretudo os de extracção de carvão, na província de Tete, está a contribuir para o surgimento e consequente crescimento das Pequenas e Médias Empresas (PME´s), na sua maioria geridas por nacionais.
A Rio Tinto Coal Mozambique (RTCM) e a VALE estão entre os maiores investidores na mineração de carvão de Tete, enquanto que a Ncondezi Coal, Beacon Hill Resources e Minas de Revúboè aparecem na lista dos que investem menos na indústria carbonífera local, mas com potencial para proporcionarem inúmeras oportunidades às PME’s, e não só.
O Centro de Promoção de Investimentos (CPI) é um dos precursores de um programa de facilitação da entrada de pequenas e médias empresas nacionais na prestação de serviços às grandes empresas. Além de Tete, o programa abrange as províncias de Maputo, onde opera a fundição Mozal; Inhambane, onde está a Sasol; e em Cabo Delgado, onde estão instalados os projectos de gás natural da Anadarko e ENI.
Com forte nível de integração na logística, produção de energia e aço, aVale assume-se como um dos líderes da indústria global de companhias em minerais diversificados. Foi a primeira empresa extractiva que entrou na indústria de mineração de carvão em grande escala em Tete.
Segundo soubemos, a companhia já despendeu milhões de dólares para o seu programa de CSR - um programa social combinado nas áreas da agricultura, saúde, reassentamento e outras questões sociais. A estratégia da empresa prioriza as comunidades directamente afectadas pelas suas actividades de mineração e cobre um raio de 50 quilómetros em volta das operações de Moatize. A construção de casas para habitação, escolas, mercado, posto de saúde, estrada, entre outros feitos, são alguns dos projectos visíveis do comprometimento da Vale na melhoria das condições de vida da população local.
Por seu turno, a Rio Tinto tem uma vasta experiência na área das ligações, acumulada nos seus projectos em outros países e está comprometida com a implementação de um modelo de ligação comercial orientado pela procura, que deverá contribuir para oportunidades significativas para asPME`s locais.
Tal como a Vale, também já despendeu milhões de dólares na formação de fornecedores locais de serviços, saúde básica, capacitação técnica, entre outras actividades. O bairro Mualaze, comportando casas para habitação, escolas, hospitais, mercado, entre outros serviços, é também um dos marcos visíveis do comprometimento da empresa na melhoria das condições sociais dos residentes do distrito de Moatize.
CRESCIMENTO ATRAI HOTELARIA
Conforme constatámos na nossa visita recente a Tete, o crescimento do parque industrial na zona de Moatize está a gerar outras necessidades do ponto de vista de investimento. A indústria hoteleira é um exemplo dos novos investimentos que surgem ao ritmo do crescimento da indústria mineira em Moatize.
Horus Garden é um dos investimentos a reter para quem viaja para a zona mineira de Moatize. Junto a uma das margens da estrada que dá entrada à vila mineira, vislumbra-se uma construção invulgar. Feita de madeira, o hotel congrega 24 quartos, restaurante e piscina que geram emprego a 18 pessoas locais.
Adelino Manhice é proprietário da Horus Garden, estabelecimento cuja construção absorveu cerca de um milhão de dólares norte-americanos. Explica-nos que quando decidiu investir em Moatize calculava o período de retorno do investimento em três anos, contudo, a estimativa actual é de quatro anos.
“Agora tem havido maior procura, mas há muitas alternativas de hospedagem, dado o surgimento de outros estabelecimentos. Os nossos clientes são maioritariamente estrangeiros, que vêm ao serviço das mineradoras”, sustenta a nossa fonte.
Do lado de Tete, um outro investimento na indústria hoteleira chama-nos a atenção. Trata-se do Hotel Mimos, que para além dos serviços de hotelaria também funciona para o ensino da culinária.
A proprietária explicou-nos que além da hospedagem de pessoas individuais também presta serviços para as mineradoras Rio Tinto e Vale, bem como para as instituições do governo.
“Trabalhar com as grandes empresas é bom. Elas sempre disseram que pretendem trabalhar com as empresas locais, mas o que lamentamos é o facto de continuarem a trazer empresas de fora. Na Jindal, por exemplo, houve um jantar em que contrataram uma empresa de Maputo e essa empresa começou a contratar os nossos serviços e não compreendemos porquê de tal procedimento”, lamentou Leila Abdula, directora executiva da Lily Empreendimentos e proprietária do Hotel Mimos.
Reconhecendo que a entrada em operação das grandes mineradoras gerou mais oportunidades de negócio, quer na cidade de Tete, quer em Moatize, Leila Abdula considera que o grande desafio agora é a melhoria do sistema de pagamentos por parte das empresas.
“Elas, as grandes empresas, têm um período de espera de 30 dias, no mínimo, isso complica a nossa contabilidade, porque ainda somos pequenos e estamos à procura de crescer, mas devo dizer que é bom e está a ser uma experiência interessante trabalhar com as grandes empresas”, salientou a nossa fonte.
PROBLEMA É A VELOCIDADE
Para além da hotelaria, a instalação das grandes empresas em Tete também cria oportunidades para outros sectores, como a construção civil, comércio, transporte, entre outras áreas.
Manuel Guta é empresário em Tete e em tempos chegou a presidir a associação empresarial local, tendo na altura manifestado o seu desagrado pela forma como os megaprojectos se ligavam com as PME’s locais.
Entretanto, reconhece que hoje as coisas mudaram profundamente, sobretudo porque as empresas locais já são convidadas a trabalhar com as grandes empresas.
“No início, até para fazer capoeira chamavam as empresas da África do Sul, mas hoje começam a confiar na nossa capacidade. O problema é a velocidade com que às vezes querem a obra”.
Manuel Guta considera também que o relacionamento com as empresas Vale e Rio Tinto é bom, mas lamenta os pagamentos tardios das obras. “Elas chegam a pagar as facturas 90 dias depois, quando o combinado são 30 dias, o que nos cria transtornos”.
Mesmo assim, o proprietário da Mini-Arte acredita que melhores dias virão porque com os grandes projectos instalados em Tete tudo está a mudar naquela região do país.
Ao que soubemos, para além destas pequenas empresas muitas outras têm estado a ganhar espaço na ligação com os megaprojectos, o que, nalgumas vezes, obriga-lhes a ampliarem os seus serviços de modo a fazer face aos pedidos das grandes empresas.
MOATIZE É DOS MAIORES PARQUES INDUSTRIAIS
“Já não existem dúvidas de que Moatize é dos maiores parques industriais do país”, assim começou a nossa conversa com Elsa Maria Fortes, administradora do distrito de Moatize.
Sustenta a sua posição afirmando que para além das grandes mineradoras de carvão, a região tem sido procurada por centenas de empresas de prestação de serviços, desde a hotelaria, transportes, construção de infra-estruturas, banca, panificação, entre outros sectores.
Elsa Maria Fortes afirma que antes da instalação das grandes empresas a região de Moatize não tinha um banco sequer, mas hoje quase todas as agências pretendem instalar-se na zona.
“Temos, neste momento, três agências mas está-se a perspectivar uma agência em Cateme e outra em Zóbué. Construímos nos últimos anos três postos de saúde, recebemos da Rio Tinto um centro de saúde e com as receitas das empresas melhoramos as infra-estruturas”, indicou.
A administradora do distrito de Moatize considera que um dos grandes ganhos da instalação das mineradoras é a emancipação do cidadão, que começa a ter capacidade para reconhecer os seus direitos, mesmo nos processos de consulta pública.
A nossa fonte considera que as mineradoras estão a gerar emprego em Moatize e os últimos indicadores apontam que 11 mil pessoas foram empregues. Deste total, cinco mil pessoas são de Moatize, sendo que os restantes provêm de outros pontos do país.
Acrescenta que na componente emprego as perspectivas continuam boas, tendo em conta que outras mineradoras, como a Minas de Revubuè, Nocondezi, Rio Tinto e muitas outras pretendem abrir mais postos de mineração.
Titos munguambe
NOTÍCIAS – 30.10.2013