O
entendimento inclusivo dos povos da lusofonia é necessário. Quero interpretar as palavras do
Chefe de Estado Angolano como uma chamada de atenção ao Governo Português e à
miserável gestão das relações externas. Hoje senti-me filho de um País que me
abandonou. Que me forçou a abandonar a família, que me disse que eu não tinha
mais espaço na sociedade e que me deixasse de lamechices e que partisse para
fora. Sem distinção de lugar ou de ocupação. Fizeram-me sentir que o melhor para
mim e para os meus filhos e mulher seria mandar um pai e marido para milhares de
quilómetros de distância porque essa seria também uma solução de ajuda ao
próprio Estado. E assim segui. Rumo a Angola, onde me tenho dedicado a respeitar
este povo independentemente das diferenças que nos separam e onde tenho
trabalhado passando um testemunho da minha experiência e conhecimento no ensino
superior. Lido sem hipocrisias com as dificuldades porque todos passamos. Todas
sem excepção e não vivo lamentando a ausência do abraço da minha mulher e dos
meus filhos.
Hoje sinto-me na obrigação de interpretar e enquadrar
devidamente o discurso do Chefe de Estado Angolano. Que garantias de seriedade,
respeito e idoneidade podem advir do arco do poder Português. À esquerda e à
direita os discursos misturaram questões e neste processo de guerrilha
verbalística tendente única e exclusivamente a obter assento na cadeira do poder
cometeram erros gravíssimos que colocam neste momento em causa a vivência e
subsistência de quase 200.000 cidadãos portugueses que aqui vivem. Os tais a
quem Miguel Relvas convidou para saírem….Não perderei o meu tempo e verbo a
comentar escória, mas estava ali anunciado o pensamento de um governo pelo seu
número dois. Veio Machete, o tal que não tinha ou afinal tinha acções do BPN e
que cumula cargos em diversas instituições privadas portuguesas agora ligadas ao
Galilei (grupo ecónomico criado com activos ds SLN). As suas desastradas
declarações, porque desastradas e provindas de um velho decrépito deveriam ter
sido desvalorizadas. Mas não. Em bloco os partidos da oposição apelaram à sua
demissão colocando em causa indirectamente as relações com Angola. Hoje foi
escutá-los desculparem-se e tentarem disfarçar o indisfarçável.
Acredito na democracia e no modelo democrático. Não acredito em nenhum político português. E hoje que sou cidadão do mundo, um imigrante, dir-me-ão os nababos que estão de barriga cheia, que tenho bom remédio: que me deixe de lamechices e que me mude se estiver mal. Não o farei se não for absolutamente necessário. Acredito em Angola e na determinação deste povo em querer um Pais melhor e enquanto aqui estiver trabalharei com esse objectivo. É aqui que trabalho e que procuro construir o futuro a que tenho direito para a minha família. Sim. Tenho direito a um futuro e hoje quero apenas acreditar que o que foi dito pelo Chefe de Estado Angolano, o foi com o pragmatismo que o caracteriza e porque a incompetência do Governo Português o mereceu.
Hoje tive vergonha de ser Português. As declarações que foram proferidas devem envergonhar-nos a todos sem excepção pois afectam a nossa dignidade e sobretudo põem em causa a nossa qualidade de convidados de um País que nos acolheu e aceitou. E os responsáveis não somos nós que aqui estamos. Foram bem identificados. E ao que parece enfiaram a carapuça….
Estas declarações foram proferidas pelo Chefe de Estado Angolano, mas facilmente poderão ser replicadas pelo Moçambicano, Inglês, Luxemburguês, enfim por qualquer Pais com onde residam Portugueses e com quem o governo português tenha “interesses comuns”.
Pedro Passos Coelho esqueceu a sua condição de assalariado do Povo. Demitiu-se do processo de sufrágio que o designou e assumiu integralmente o Programa de Ajustamento herdado do Governo Sócrates, tornando-se num funcionário administrativo da Troika. Exigia-se que a pouca manobrabilidade que porventura dispõe no plano interno lhe conferisse a visão de procurar e tornar consistentes as relações comerciais externas com os Países da Lusofonia.
Demonstrou-se um incapaz, um inútil a quem estamos amarrados por ausência de alternativa.
Em vez de notas à imprensa a mostrar-se surpreendido (mais um coitadinho lamechas..) que nos respeite a todos enquanto comunidade e reconquiste o que estragou. Para isso lhe pagamos. Se não é capaz que saia e emigre…sem lamechices também!
Boa noite!
Nuno Tomás
(um portugues em Angola)