A TENSÃO militar que vem caracterizando a convivência política em Moçambique coloca a todos os moçambicanos o desafio de reflectir sobre a importância da Paz no dia-a-dia individual e colectivo, e na relevância do papel que todos devem jogar para a sua manutenção e consolidação.
Na verdade, volvidos 21 anos de Paz em Moçambique, com todos os ganhos que o país foi colhendo ao longo do tempo, fica difícil digerir o cenário de confrontação militar sugerido pelos recentes acontecimentos registados na província de Sofala. Os ataques a colunas de viaturas e a postos policiais e outros incidentes similares, pregaram um verdadeiro susto aos moçambicanos, que já estavam desabituados a situações do género.
Ao longo dos 21 anos em que Moçambique experimentou o sabor da paz, habituamo-nos a conviver e a promover a igualdade na diferença, aprendemos a cultivar a Paz como uma maneira de ser e estar na vida, e a assumí-la como um condimento nas relações entre os homens. Convivemos com a Paz como um bem colectivo, como condição sine qua non para o progresso de Moçambique e dos moçambicanos.
Pensando em tudo isso, queremos acreditar que os recentes acontecimentos registados no centro do país não tenham passado de meros acidentes no longo percurso de construção de uma Paz de que os moçambicanos já se orgulhavam.
Pelo impacto que a situação criou na opinião pública, a sua abordagem aglutinou várias sensibilidades, independentemente de convicções políticas, crenças religiosas ou cor da pele. Todos se indignaram e o assunto virou principal tema de conversa dos moçambicanos, e não só.
Tudo isto não foi por mero acaso. Acontece que os moçambicanos se recordam das consequências e dos horrores que a guerra trouxe para o país e para a vida de muitos concidadãos. Recordam-se do atraso que a guerra gerou na vida do país e dos cidadãos. Recordam-se, como se tivesse sido ontem, da dor e do luto que a guerra levou a muitas famílias, muitas das quais se desmembraram por culpa do conflito.
Os moçambicanos querem a Paz, sim, mas entendemos que ela não pode ser a qualquer preço. Entendemos que ela deve ser resultado de um exercício equilibrado, que não implique atropelos às normas, e que não ponha em causa a legalidade constitucional.
O nosso entendimento é que, face a todos os problemas que aparentemente estão por detrás das ameaças à Paz, a solução mais viável é o diálogo, um diálogo efectivo, com conteúdo e sem preconceitos. Um diálogo que vise a busca de soluções, a aproximação das posições e não o agravamento ou a consolidação das diferenças.
O diálogo e a Paz devem deixar de se situar apenas no plano discursivo e transformar-se numa realidade. Os moçambicanos precisam de ter confiança no sucesso do diálogo como fonte de consensos. Precisam de perder o medo do futuro, e acreditar que o seu país ainda é viável, que podem trabalhar com a certeza de poderem testemunhar o crescimento do país.
Associamo-nos, por isso, aos apelos à Paz e concórdia que vêm de vários sectores da sociedade, porque entendemos que só em Paz é que podemos caminhar para o progresso. Só com a paz podemos voltar a trilhar os caminhos de desenvolvimento como vimos fazendo há mais de duas décadas.
Recusamo-nos a entrar no campo das acusações, porque entendemos que esse não é o melhor caminho para a busca da solução que os moçambicanos precisam.
O momento não é para discutir ou procurar culpados pela situação que o país hoje vive, é sim de construir a concórdia necessária para que a Paz seja uma realidade.
NOTÍCIAS – 25.10.2013