Por:Pedro Silva (depoimento recolhido por Marta Martins Silva)
Fomos homens da chefia e reconhecimento de transmissões, desconhecidos até agora, mas orgulhosos do nosso trabalho.
Em Moçambique vivi o célebre 8 de setembro de 1974, e é aqui que começa uma história que para nós (eu e o 1º cabo Ferreira) ficou marcada nas nossas vidas.
ATAQUE IMINENTE
Estava portanto iminente um ataque sem precedentes às nossas tropas, praticamente desarmadas, e à espera de um regresso feliz. Eu e o meu camarada, Vítor Ferreira, sob as ordens do capitão Melo de Carvalho, iniciámos, no comando de transmissões, tentativas para travar aquilo que seria, em nosso entender, uma chacina.
A primeira mensagem, emitida por mim, foi a seguinte: ‘Aqui Movimento das Forças Armadas em Moçambique. Para: Comandos da Frelimo. Concordamos Acordo de Lusaca. Pedimos não ataquem posições tropas portuguesas. Pedimos vossa colaboração no sentido de eliminarmos grupos reacionários. Saudações.’
Numa primeira instância, os operadores da Frelimo ficaram desconfiados e não responderam logo. Mais tarde, disseram-me que não compreendiam. Para fazerem uma ideia, intercetávamos cerca de 120 letras por minuto. Insisti mais uma vez, e agora, com o mesmo remetente, MFA, mas como destinatário o ‘Camarada Presidente Samora Machel’.
Era o meu camarada Vítor Ferreira que ia registando todas as respostas dadas. O teor das nossas mensagens tinha como fim, única e simplesmente, evitar um ataque que já não era esperado e muitas outras foram enviadas neste nosso exaustivo trabalho. Foi depois das diligências efetuadas através da troca de mensagens que tudo começou a ficar mais claro, e se foi resolvendo sem recurso às armas.
Conseguimos falar com os operadores da Frelimo e as nossas mensagens seguintes foram retransmitidas para todos os postos da Frelimo e para o seu Presidente. Após todas estas diligências, Lusaca foi em frente e um dos dirigentes da Frelimo, e futuro presidente de Moçambique, fez questão de nos conhecer pessoalmente, dizendo que os nossos nomes iriam ficar na história da independência do país.
PEDRO SILVA
Comissão
Moçambique, 1972/74
Força
Cheret (Chefia e Reconhecimento de Transmissões)
Atualidade
63 anos, casado, um filho e uma neta
CORREIO DA MANHÃ(Lisboa) – 20.10.2013