NÓS, combatentes da luta armada de libertação nacional, não pactuamos com atitudes que atentem à paz, estabilidade social e o desenvolvimento do país.
Esta posição foi vincada semana finda em Caia, na província de Sofala, pelo Secretário-geral da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), Fernando Faustino, em plena sessão de homenagem ao herói nacional, Luís Joaquim José Marra, por ocasião da passagem do 40.º aniversário da sua morte.
“Condenamos veementemente os perturbadores da paz, da estabilidade social e do desenvolvimento de Moçambique”, sublinhou Fernando Faustino, alertando a todos os moçambicanos amantes da paz para que se mantenham vigilantes e unidos contra aqueles que pretendem perpetuar a guerra em Moçambique.
Mesmo sem se referir de forma directa a tais indivíduos interessados em perpetuar a guerra, Fernando Faustino apontava o dedo, ainda que implicitamente, aos homens armados da Renamo que amiúde têm promovido assaltos a viaturas que transitam pela Estrada Nacional Número Um, na zona de Muxúnguè e têm atacado alvos civis e militares provocando luto e dor no seio de numerosas famílias moçambicanas.
VÉNIA À FRELIMO
O Secretário-geral da ACLLN prestou uma vénia especial ao partido Frelimo pela sua iniciativa de orientar o Governo, sob a direcção do Presidente Armando Guebuza, para a homenagem aos heróis nacionais após 40 anos do seu desaparecimento físico.
Fernando Faustino saudou de modo especial a população da província de Sofala, em particular do distrito de Caia, por ter levado ao mundo um grande homem, um guerrilheiro, um dirigente político de grande dimensão, que em vida se destacou em grandes batalhas, cujo objectivo era a libertação do país do jugo colonial português. Trata-se do combatente Luís Joaquim José Marra que, aliás, perdeu a vida a 5 de Setembro de 1973, em Cabo Delgado, vítima de ataque perpetrado pela tropa colonial portuguesa quando corajosamente defendia determinadas vítimas de uma emboscada.
“Nós, combatentes da luta de libertação nacional, renovamos o nosso voto de continuar o percurso de Luís Marra, na defesa da pátria, na consolidação da paz, da unidade nacional e nos esforços de luta contra a pobreza, rumo ao desenvolvimento do país”, referiu Fernando Faustino.
Faustino referiu-se ainda a alguns nomes, destacados filhos da província de Sofala, que deram o seu valioso contributo para a libertação de Moçambique. São, entre outros, Feliciano Gundana, General Joaquim Munhepe, Brigadeiro Aleixo Malunga, Coronel Raul Guezimane, Coronel Deolinda Guezimane, Manuel Massamba, Coronel Manuel António, Solomone Manuel, Matias Kaphesse, Bernardo Gôndola, José Sampaio Gingir, Júlio Braga e Vitorino Nhakalaza.
“Igualmente, cumpre-nos destacar a figura do Comandante Provincial, Tenente General Fernando Matavele, pela sua valiosa contribuição para o avanço da luta na frente de Manica e Sofala”, destacou.
RESULTADOS DO SACRIFÍCIO
Para Fernando Faustino, a entrega à luta de libertação nacional destes e de muitos outros compatriotas, alguns dos quais anónimos, contribui para o alcance da independência nacional.
Proclamada a independência, referiu a fonte, são hoje notáveis alguns resultados da luta, em particular na província de Sofala de onde é originário Luís Joaquim Marra.
Segundo o secretário-geral da ACCLN, no campo da educação foram introduzidos vários estabelecimentos de ensino superior e localmente existe a Escola Pré-Universitária Manuel Matias Kaphesse.
“Em tempos, atravessávamos o rio Zambeze à canoa ou de batelão e hoje temos uma ponte espectacular denominada Ponte Armando Guebuza, símbolo da unidade nacional, porque permite a livre circulação de pessoas e bens de norte a sul de Moçambique”, destacou o combatente, acrescentando que todas as sedes distritais têm acesso à energia eléctrica da rede nacional; a reabilitação da linha férrea de Sena permite a circulação de comboios com pessoas e bens e a fábrica de açúcar de Marromeu está em pleno funcionamento, dando emprego a vários moçambicanos.
De acordo com Fernando Faustino, a reabilitação e ampliação do Porto da Beira imprime maior dinamismo ao Corredor da Beira e a reabilitação da linha férrea Beira-Marromeu é um facto que contribuirá para impulsionar o desenvolvimento provincial e nacional.
“Por tudo isto, camarada Marra, valeu a pena o teu sacrifício. Por isso mereces esta justa homenagem. Moçambique é de todos nós e cabe aos moçambicanos definirem sobre o seu desenvolvimento”, destacou.
QUEM É LUÍS MARRA
Dados biográficos indicam que Joaquim Luís José Marra nasceu a 26 de Setembro de 1946, no povoado de Marra, distrito de Caia, na província de Sofala.
Fez os estudos primários na Escola Missionária Nossa Senhora de Fátima da Manga, localizada no bairro de Munhava, na cidade da Beira, em 1962.
Foi nas condições precárias de estudante, de trabalhador discriminado e trocando ideias com colegas de experiência comum de sofrimento, que Luís Marra se apercebeu da vida de maus-tratos a que estava sujeito o povo moçambicano.
Segundo Fernando Faustino, em 1967, cansado de tanta injustiça e discriminação, decidiu abandonar o emprego para se juntar à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), a partir do centro de preparação político-militar de Nachingweia, onde foi submetido a treinos, seguindo depois para a extinta União Soviética para se especializar em artilharia.
No regresso foi integrado num grupo afecto à frente de Cabo Delgado para reforçar a Companhia de Artilharia na Base Gungunhana, onde, aliás, foi integrado na sua direcção.
Luís Marra participou com valentia e coragem em vários combates e ataques contra as tropas portuguesas, com destaque para as acções perpetradas nos postos inimigos de Mueda, Nangade e Nangololo.
“Dadas as qualidades de liderança que revelou ao longo deste período, a direcção político-militar da província nomeou-o comandante de artilharia do II sector. No exercício das funções foi um comandante metódico e estratega. Preparava minuciosamente as operações militares para evitar falhas na sua execução, o que resultaria em perdas materiais e humanas”, destacou Fernando Faustino, salientando que devido ao seu desempenho característico, “mais tarde veio a ser indicado comandante adjunto de artilharia a nível da província de Cabo Delgado, funções que desempenhou com zelo e dedicação”.
De acordo com Fernando Faustino, as acções de militância não se limitaram apenas ao campo militar como guerrilheiro destemido e atirador de morteiro, mas também desempenhou funções de comissário político.
Faustino disse que Marra mobilizou e organizou a população, medicamentos e víveres da Tanzania para o interior e do interior para as zonas de avanço e operações militares.
“Paralelamente, em circunstâncias difíceis da luta Luís
Marra encorajava a população explicando a natureza da luta e os sacrifícios que
deviam ser consentidos para a conquista da independência”, destacou Fernando
Faustino.
NOTÍCIAS – 30.10.2013