A população de Vunduzi, Gorongosa, centro de Moçambique, continua a deixar a "região de guerra", após a tomada, pelo exército, da base da Renamo em Sadjundjira, com alegações de "excessivos roubos" de bens e animais.
Na estrada que liga Sadjundjira a vila da Gorongosa, uma picada de 30 quilómetros, veem-se camionetas carregando pessoas apinhadas com seus pertences - esteiras, farinha, sacos e malas de roupas, incluindo galinhas e cabritos -, que se queixam de estar a ser "roubados em demasia".
"Algumas pessoas estão a carregar os pertences e a esconder no mato enquanto procuram meios para se refugiarem na vila de Gorongosa. Não sabemos quem nos está a roubar, mas cresceu o nível de saque de galinhas, cabritos e porcos desde que os militares se instalaram na (antiga) base da Renamo", disse à Lusa Adamo Matinero, quando se despedia de alguns vizinhos que também "fugiam" da região.
A força conjunta do exército e a FIR (Força de Intervenção Rápida), ligada a polícia, tomaram de assalto e ocuparam a base de Sadjundjira, a 21 de Outubro, onde o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Afonso Dhlakama, vivia há um ano em protesto contra a alegada ditadura da Frente de Libertação da Moçambique (Frelimo).
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, alguns dos seus colaboradores mais próximos e a sua guarda pessoal fugiram na segunda-feira do seu acampamento em Sadjundjira, província de Sofala, para um lugar incerto, devido ao ataque da antiga base do movimento pelo exército.
"Os roubos estão realmente a nos preocupar, isso quase não acontecia antes (do assalto a base pelo exército governamental), mas agora ocorre com abundância", corroborou Lúcia Mines, residente na "deserta" aldeia de Sadjundjira, a uns escassos metros da antiga base da Renamo.
Entretanto, em contacto com um jornalista da Lusa, na base de Sadjundjira, um militar do exército, numa conversa quase em surdina, propôs-se a vender cinco cabritos, a preço de 700 meticais (17.9 euros) cada, dizendo que estaria disposto a arranjar mais, caso fosse necessário.
Hoje, em gigantes panelas, os militares tinham como o "menu' para a refeição do almoço uma caldeirada de cabrito com xima (farinha de milho), dieta de que já estão "fartos", segundo testemunho de militares.
Há na região cada vez mais militares, que, além das patrulhas rotineiras, se refrescam em banhos conjuntos nos rios da zona, particularmente o Vunduzi, cujas margens na nascente se supõe estejam a "acomodar" o lider da Renamo, na Serra da Gorongosa.
A região centro de Moçambique tem sido palco de confrontos entre o movimento e as forças de defesa e segurança, em "demonstração de musculatura" da guarda da Renamo, que domina a guerrilha, e o exército, que mobilizou armamento pesado para a zona.
AYAC // SO
Lusa – 27.10.2013