Os confrontos entre exército e os homens da Renamo relançaram o espetro da guerra na serra da Gorongosa, martirizada região do centro de Moçambique, e os mais fracos tiveram apenas tempo para empacotar os seus bens e fugir da zona.
Apesar dos fortes apelos do governo para que permaneçam nas suas terras, há cada vez mais pessoas a deixar a "zona de guerra" na Gorongosa e Maringué, Sofala, centro de Moçambique, palcos de confrontos entre o exército estatal e o elementos armados da Resistência Nacional de Moçambicana (Renamo), o maior partido da oposição e uma das partes na guerra civil que assolou o país durante 20 anos.
"Estava num esconderijo na mata desde sábado (18 outubro) quando o exército começou a aproximar-se muito desta zona do Vunduzi. Com a saída da Renamo, a insegurança cresce, porque não sabemos quando voltam a atacar", disse à Lusa Carlito Mainato, enquanto esperava um transporte para sair da região com mais de 15 membros da sua família.
Carregados de malas, esteiras, panelas, galinhas e outros haveres, várias famílias de Sadjundjira, local ocupado pelo exército e antiga base da Renamo "fugiram à insegurança" da região.
As famílias, incluindo as mulheres e filhos dos guerrilheiros da Renamo, estão a abandonar as machambas (hortas) já sachadas para o período de sementeira. Caso demorem no regresso, poderá ficar em causa a alimentação da zona.
"Eu nasci aqui (Vunduzi), e refugiámo-nos aquando da guerra colonial, mas regressámos logo após a independência e já tenho bisnetos. Mas a situação atual não confere segurança, há muita tropa do exército com armamento a entrar e isso cria susto nas pessoas", disse à Lusa Sarena Jossias, residente em Sadjundjira, a caminho de Chimoio.
A região centro de Moçambique, onde o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, vivia há um ano em protesto contra aquilo que classificou de ditadura da Frente de Libertação da Moçambique (Frelimo), tem sido palco de confrontos entre o movimento e as forças de defesa e segurança.
Pratos de massa com caril, galinhas, porcos, roupas e dezenas de utensílios domésticos ainda são visíveis nas ruas, deixados à sua sorte quando a população fugiu após confrontos de 17 a 22 de outubro, nos distritos de Gorongosa e Maringué.
"A vila de Maringué quase foi ocupada, e o exército tem estado a reforçar-se, o que pode criar clivagens. Quando dois elefantes brigam, o capim sofre, e o capim neste caso é o povo. Há muitas pessoas que estão a fugir, por causa do clima de insegurança" explicou Anastácio Gimo, que "empacotou" os seus bens à pressa.
Em declarações à imprensa, o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, que visitou a Sofala, a região mais tensa no centro de Moçambique, intensificou os apelos à paz, e pediu à população a retornar às zonas de origem.
"A mensagem que eu deixo é de firmeza, as nossas convicções e a vida devem continuar, o povo esta em todo lado, mas o líder da Renamo não está em todo lado", precisou Armando Guebuza, assegurando que o governo vai "buscar dialogo" apesar da atual crise político-militar.
AYAC // PJA
Lusa – 25.10.2013