MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá António
Escrevo-te hoje só para te fazer uma pergunta: agora o que vai acontecer? Agora o que NOS vai acontecer?
Fizeram a borrada que fizeram e quem vai sofrer as consequências vamos ser todos nós. O Comandante-em-Chefe passou a ter a sua “Casa Banana”, como teve Samora. Mas a tomada da Casa Banana adiantou alguma coisa a Samora? Não, como te lembras. Não adiantou coisa nenhuma a não ser por uns documentos que lá foram encontrados.
Neste caso, agora, nem isso terá acontecido, de resto.
O que temos, para já, é um Afonso Dhlakama fugido para o mato com os seus guerrilheiros. E temos um Chefe de Estado que continua com uma retórica de paz e de diálogo que, neste momento, deixou de fazer qualquer sentido.
Será que alguém está convencido que Dhlakama vai querer encontrar-se com quem lhe mandou bombardear a casa com artilharia pesada?
Sabendo que o estão a caçar alguém consegue imaginá-lo a vir a Maputo para um encontro com o seu “irmão” Armando?
Tudo isto são questões que parecem óbvias a toda a gente, excepto àqueles que deixaram de pensar porque aceitam que, para pensar, está lá o Chefe e esse chega. O que, como sabemos, está longe de ser verdade.
E o que estará a pensar Afonso Dhlakama, esteja ele lá onde estiver? Estará a pensar em paz ou a contar espingardas, bazucas e morteiros, traçando estratégias de vingança? E de vingança contra quem?
Se as balas voltarem a assobiar quem serão os alvos escolhidos? Os desgraçados cidadãos que se deslocam pelas estradas fazendo pela vida? Os polícias que defendem, melhor ou pior, a nossa segurança ameaçada por todo o tipo de criminosos?
Se o sangue começar, de novo, a correr será sangue moçambicano, seja qual for a posição de cada um perante o conflito. Sangue de gente que já estará, a esta hora, a amaldiçoar os mentecaptos, dos dois lados da barricada, que nos meteram, de novo, nesta situação.
E o problema é que vai ter que ser com esses mesmos que vamos ter que continuar a lidar, gostemos ou não disso.
Um abraço para ti, António, do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 25.10.2013