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Por: José Santos Silva Júnior
Segunda Reacção de José Santos Silva Júnior ao Artigo de Gento Roque Chaleca
Caro Gento,
Apreciei o seu comentário, no qual faz considerações e contrapontos a respeito da minha tese que coloca a privatização da terra agricultável como fator de confiança do investidor, no tocante à agricultura de rendimento, justamente aquela que poderá tirar Moçambique dessa situação de dependência em que se situa, quando tem que importar alimentos até da África do Sul.
Nos dias atuais, não se pode imaginar a agricultura artesanal preparada à base da enxada, do arado a burro e ferramentas rudimentares, porque o cultivo alimentar nas várias espécies enseja a produtividade programada segundo estações do ano, combate a pragas específicas e por fim a colheita eficiente, de qualidade, e a conseqüente colocação no mercado.
Ora pois, sem o investimento direcionado a obtenção desse resultado, ainda que seja na agricultura familiar destinada à comercialização, não se pode esperar produtividade suficiente e mesmo garantida de satisfação da relação custo/benefício. É nesse sentido que faço a colocação da GARANTIA necessária para o interesse do investidor na agricultura tecnológica e de rendimento, essa em escala maior do que a meramente familiar. Ressalto, a meu ver, que nenhum agricultor de rendimento e portanto aquele que dispõe de capital para a produção agrária, colocará dinheiro “flutuando” na incerteza e na desconfiança dos humores desse ou daquele mandatário, notadamente quando esse ou aquele mandatário tem antecedentes ideológico-partidarios de confiscos e posses sem a contrapartida da indenização justa, preconizada na ordem jurídica internacional.
Analisando a sua colocação, que não foge completamente à lógica todavia apresenta alguns equívocos, pois não leva em conta que pode-se mesmo privatizar a terra, impondo salvaguardas que garantam um determinado percentual por zona agrária definida, para a locação dos agricultores de subsistência, ou seja, a população rural pobre.
Vamos à sua colocação:
– “Por outro lado, parece-me pouco recomendável que se aplique esta teoria em Moçambique, tendo em conta um conjunto de factores que tem a ver, no geral, com a construção do próprio Estado moçambicano. Lembre-se, caro leitor, que nesses países, onde a terra é privatizada, o acesso à ela é condicionada ao “vil metal”, sendo que qualquer cidadão, sem posse, não pode adquiri-la, daí que, surjam os chamados “sem terra”, ...”
Certo está que acha pouco recomendável a “teoria” de privatização da terra em Moçambique.Todavia, isso está intrínsecamente relacionado com o que se quer para Moçambique:
1 – manutenção da agricultura arcaica, secular e insatisfatória e insuficiente para prover alimentação ao povo cada vez mais numeroso das cidades e mesmo do campo;
2 – desenvolvimento de uma agricultura calcada na tecnologia de produção, de rendimento, de qualidade e competitividade para os excedentes exportáveis a nível mundial;
3 – aproveitamento científico de cada palmo de terra agricultável, como prevenção do abastecimento futuro da nação, objetivando a independência alimentar de momento e para as novas gerações.
Quanto à posse da terra ser condicionada ao “vil metal”, Caro Roque, o amigo não se deteve a analisar todos os “porquês” e os “poréms” num contexto mais amplo!
Claro é que o “vil metal” vai tirar a terra da improdutividade para fazê-la gerar alimentos, e já agora mesmo para os “sem terra” incapazes de produzir por falta de conhecimentos da própria terra e suas técnicas de aproveitamento, mas sim para todos os moçambicanos com terra ou sem terra!
No mais, também o “vil metal” que pode dar acesso à terra, pode também gerar empregos pela criação de “pólos agrícolas” em várias regiões, com conseqüente movimentação de transporte, infraestruturas, maquinários, acessórios agrícolas, que gerarão IMPOSTOS necessários aos equipamentos sociais das vilas e cidades no entorno desses pólos. Coisa que a agricultura familiar de subsistência preconizada pelo amigo não nem nunca daria conta!
No tocante aos ditos “sem terra”, se o amigo está focalizado no que ocorre no Brasil, esclareço-o que o seu enfoque parte de uma mistificação ideológica que só subsiste para o estrangeiro desavisado: O movimento dos ditos “sem terra” é uma contestação que seria feita sem terra ou com terra, porque se trata de um movimento ideológico comuno-marxista, com base nas pregações sobre o “campesinato” como forma de contestação ao capitalismo e a produção de escala. O amigo já leu sobre isso nos manuais comunistas, quero crer. Mas quero aqui, ao terminar, apontar para a realidade de que nem mesmo os militantes do PT acreditam mais nesse tal “movimento dos sem terra”, pois que nenhum dos assentados pelo governo conseguiu até hoje a produção de sequer um pé de tomate, e muitos de há muito já VENDERAM a terra que lhes foi doada. Termino alertando: O INVESTIDOR DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA QUE TORNA O PAÍS INDEPENDENTE DE IMPORTAÇÕES, SÓ INVESTIRÁ COM A GARANTIA DA POSSE DA TERRA. Abração.■
Da Redacção: O artigo consequência da reacção, de autoria de Gento Roque Chaleca Jr., XAI-XAI: UMA CIDADE ADORMECIDA NO TEMPO, foi publicado na coluna semanal “Entrelinhas”, assinada pelo autor, na edição nº 2617, de 10 de Setembro de 2013. E a reacção de José Santos Silva Júnior foi publicada na edição nº 2631, de 01 de Outubro de 2013. E a contra reacção de Gento Roque Chaleca Jr na edição nº 2635, de 08 de Outubro de 2013.
AUTARCA – 31.10.2013