MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Como vai essa saúde, meu amigo? E a família?
Do meu lado tudo bem, felizmente.
Onde parece que as coisas não andam bem é para os lados do actual Governo da Frelimo. Em todo o país e, muito principalmente, na nossa capital, Maputo.
Como te lembras, a 31 de Outubro, entre 10 e 20 mil pessoas saíram à rua para protestar contra o actual desgoverno, contra a guerra em que nos meteram, contra os raptos, que não param. Foi um primeiro aviso, muito forte, de que se atingiu um ponto insuportável para uma larga camada da população.
Agora o aviso foi muito mais forte e claro. Mais de 100 mil pessoas, cidadãos eleitores, votaram contra os candidatos do partido Frelimo à presidência do Município e à Assembleia Municipal. Isto mesmo pelos números oficiais. Números que, muitos dizem, estão substancialmente abaixo da realidade.
Mas 100 mil pessoas é muita gente. Gente de todas as idades, de todas as raças, de todas as religiões e de todos os partidos políticos, como já tinha acontecido no caso das manifestações de 31 de Outubro. Gente que, talvez em grande maioria, não votou contra David Simango mas sim contra Armando Guebuza e o seu Governo.
E, quando digo todos os partidos, estou mesmo a falar de todos porque não tenho dúvidas que muitos simpatizantes e militantes da Renamo terão ido votar, apesar do boicote às eleições decretado pela direcção do seu partido.
E também não tenho dúvidas que, entre os que votaram na oposição, muitos teriam o cartão vermelho no bolso. Militantes e simpatizantes do partido Frelimo mas que se não reconhecem na política que está a ser seguida pela actual direcção partidária. Que perceberam que, para haver mudanças dentro do seu partido, ele precisava de um forte safanão eleitoral que desse força àqueles que, lá dentro, estão tão revoltados como todos os outros cidadãos pelas arbitrariedades e crimes diários a que estamos a assistir, por parte de quem é pago, por nós, para fazer respeitar a lei e a ordem.
Resta saber se o Presidente do partido Frelimo, e os que o rodeiam e bajulam, vão tirar as necessárias ilações destes avisos claros.
Porque, se essas ilacções não forem tomadas e continuarmos a assistir a esta caminhada do país para o desastre, o cartão, em 2014, será vermelho. Não o cartão de membro daquele partido mas o cartão que, tal como no futebol, aponta a porta de saída para os jogadores infractores.
Isto se tudo continuar a decorrer dentro dos limites da legalidade. O que não é garantido no caso de os abusos continuarem a ser praticados da forma que o estão a ser agora. O desvio autoritário e fasciszante, com permanente utilização das forças de choque da FIR, reforçadas pelo exército, ao serviço do partido no poder, muitas vezes leva a actos de revolta, mesmo dentro desse tipo de instituição para-militar.
Aguardemos para ver se estes avisos foram ouvidos e acatados. Porque, se o não forem, maus dias nos aguardam, meu amigo...
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 26.11.2013