O envolvimento do antigo adjunto do secretário de Estado norte-americano para os assuntos africanos, Chester Crocker, no processo de mediação do diferendo que opõe o Partido Renamo ao regime de Armando Guebuza é a ‘título particular’ e não por mandato do Presidente Barack Obama dos Estados Unidos.
Chester Crocker foi o arquitecto da chamada política de «Envolvimento Construtivo» para a África Austral durante a vigência de Ronald Reagan como presidente dos Estados Unidos de 1981 a 1989.
O regime da Frelimo teve em Crocker o seu principal aliado na luta política e diplomática contra a Resistência Nacional Moçambicana, movimento que vinha lutando pela instauração de um regime democrático em Moçambique.
O então adjunto do secretário de Estado norte-americano para os assuntos africanos empenhou-se numa cruzada sem precedentes contra o movimento liderado por Afonso Dhlakama, tendo, inclusivamente dado instruções ao seu staff em Washington para promover à escala mundial a imagem de uma Renamo equiparada aos ‘Khmer Rouge de África’. Ironicamente, os Estados Unidos haviam apoiado os Khmer Rouge na sequência da invasão do Kampuchea pelo Vietname em 1978.
No quadro dos seus esforços visando isolar a Resistência Nacional Moçambicana a nível internacional e em particular junto de simpatizantes de Afonso Dhlakama no Congresso dos Estados Unidos, Chester Crocker foi quem encomendou o conhecido Relatório Gersony, elaborado em coordenação com os escritórios da USAID em Maputo e com o apoio logístico dos governos de Moçambique e do Zimbabwe.
Aquando do lançamento do movimento «Resistência Internacional» em Junho de 1985, o gabinete de Chester Crocker exerceu pressões sobre a representação da UNITA em Washington para que a organização liderada por Jonas Savimbi excluísse a Renamo da cerimónia de lançamento oficial daquele movimento na Jamba. A integração da Renamo no movimento «Resistência Internacional» havia contado com o apoio decisivo do filósofo e ensaísta francês, Raymond Aron, e da ex-presidente do Parlamento Europeu, Simone Veil.
Em declarações à BBC, Chester Crocker referiu-se à Renamo como ‘uma criação de forças estrangeiras e que tem alguns moçambicanos que executam as políticas de antigos colonos portugueses e dos sul-africanos’.
CANALMOZ – 29.11.2013